Lula desenha reforma ministerial por 2026. Gleisi vai para Secretaria-Geral da Presidência

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@reprodução internet/ muzambinho
Lula desenha reforma ministerial por 2026 e Silveira busca Câmara para se salvar; veja cenários . 
PCdoB pode perder Ciência e Tecnologia e PSD quer Turismo, que é do União Brasil; afastado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que foi seu padrinho político, ministro de Minas e Energia se aproxima de bancada de deputados
 

Em meio à busca por ajustar a base e também pavimentar o apoio de partidos de fora da esquerda em sua possível busca pela reeleição em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa a traçar alguns cenários para a reforma ministerial que deve realizar nas próximas semanas.

Há no mundo político, a expectativa de que Lula faça mudanças no primeiro escalão do governo tanto para trocar ministros com trabalho mal avaliado pela cúpula do Executivo quanto para reorganizar seus partidos aliados. O presidente, porém, tem dado sinais trocados sobre o tema. Segundo apurou a reportagem, ele às vezes indica que fará uma reformulação ampla e, em outras ocasiões, que planeja alterações pontuais. Nesse cenário, só as trocas de ministros muito próximos do presidente da República, como Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda), estariam totalmente descartadas.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva posa foto com ministros do seu governo no Palácio da Alvorada residência oficial do presidente em Brasília, no final do ano passado
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva posa foto com ministros do seu governo no Palácio da Alvorada residência oficial do presidente em Brasília, no final do ano passado Foto: Wilton Junior/Estadão

As discussões e especulações sobre a reorganização dos partidos da base do governo têm ainda dois eixos principais: o que fazer com Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), que deixam as presidências do Senado e da Câmara no início do mês que vem; e como manter próximos o MDB e o PSD, tidos como os principais aliados do Planalto fora da esquerda. Além disso, Lula tentaria começar a organizar seu grupo político para as eleições de 2026.

São esperadas conversas com as bancadas do PSD e do MDB na Câmara nas próximas semanas. Os emedebistas se dizem contemplados pela atual formação do ministério, com Renan Filho (Transportes), Jader Filho (Cidades) e Simone Tebet (Planejamento). Pessedistas, porém, têm dito nos bastidores que o ministério dedicado à bancada do partido na Câmara não atende às suas expectativas. Trata-se do ministério da Pesca, comandado por André de Paula, ex-deputado pela legenda.

 

Uma das mudanças em debate seria o remanejamento do PCdoB, que hoje ocupa o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI), para o Ministério da Pesca no provável redesenho de seu primeiro escalão. A ideia seria liberar a pasta hoje comandada por Luciana Santos para uma negociação política envolvendo partidos de fora da esquerda. Também é especulada a ida da ministra para o Ministério das Mulheres, no lugar de Cida Gonçalves.

É quase consenso no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o MCTI é um ministério grande demais para um partido com apenas 8 deputados, como o PCdoB, e que pode ser uma pasta útil para reacomodar legendas mais poderosas da base do governo. O problema é que o clima na comunidade científica, onde o presidente da República tem apoio, costuma ser contrário a entregar o ministério a partidos do Centrão. Além disso, ao nomear Luciana Santos para a pasta, o presidente da República não teria feito um cálculo sobre a correlação de forças no Congresso, mas recompensado um partido que o apoia há décadas.

As especulações sobre o Ministério da Pesca se devem justamente ao descontentamento da bancada do PSD na Câmara, que acha a pasta pequena demais para seu tamanho. A estrutura é comandada por André de Paula, ex-deputado. Ele tem bom trânsito entre os congressistas do partido e deverá continuar sendo ministro caso Lula troque a pasta dedicada ao PSD da Câmara. O partido tem outros dois ministérios, mas ocupados por políticos oriundos do Senado – Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem o cargo cobiçado por integrantes do PSD
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem o cargo cobiçado por integrantes do PSD Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Afastado de Pacheco e com o cargo em risco, Silveira ganhou o apoio agora justamente de parte da bancada do partido na Câmara. O aval pode dificultar uma eventual troca na pasta. Silveira e Pacheco foram aliados próximos por anos. O hoje ministro foi alçado ao cargo por indicação do presidente do Senado. Agora, os dois vivem um afastamento político. Pacheco e Davi Alcolumbre (União-AP), favorito para ser o próximo presidente do Senado, comunicaram ao Planalto semanas atrás que o ministro de Minas e Energia já não contempla o acordo firmado no início do governo. Dessa forma, a permanência de Silveira no primeiro escalão se tornaria cota pessoal do presidente, não mais uma indicação da legenda.

Alexandre Silveira, porém, tem atendido aos deputados do PSD, seu partido. A legenda tem bancadas relevantes em Estados onde há muita mineração ou petróleo, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará. A força política do Ministério de Minas e Energia é maior em locais com essas características. A capacidade política de um ministério no Rio de Janeiro é especialmente importante para o partido porque o prefeito da capital do Estado, Eduardo Paes, quer ser candidato a governador.

Outro motivo que faz a bancada pessedista na Câmara ter interesse no MME é a Comissão de Minas e Energia da Casa, presidida pelo partido. O colegiado serve para discutir projetos para a área e tem emendas de comissão para destinar a projetos executados pelo Ministério de Minas e Energia.

Um fator que vai além de acordos entre o governo e os partidos políticos também pesa a favor de Silveira. Ele se aproximou de Lula e da primeira-dama, Janja Lula da Silva, ao longo desses dois anos de governo. Também tem afinidades com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Diante dessas relações, interlocutores do governo avaliam que é possível que Silveira saia da cota partidária e migre para a pessoal de Lula nas próximas semanas.

Nos últimos dias, o governo deu início a conversas com partidos de fora da esquerda para entender quais são as demandas das siglas para apoiar a gestão Lula em seus dois anos finais – e em uma eventual reeleição em 2026. Na terça-feira, 21, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, esteve com o deputado Hugo Motta (Republicanos), favorito na eleição de presidente da Câmara, e com o secretário de Indústria e Comércio do Paraná, Ricardo Barros – deputado licenciado pelo PP e um dos políticos mais influentes do partido.

Os deputados do PSD almejam o Ministério do Turismo no lugar da Pesca por ter mais capilaridade nos Estados e municípios. Caso consigam a troca, o provável nome para a nova pasta seria o próprio André de Paula. O Ministério do Turismo tem R$ 1,1 bilhão previsto no Orçamento de 2025 proposto pelo Executivo, enquanto o da Pesca tem R$ 257 milhões. Além disso, o Turismo é uma das principais atividades econômicas em regiões onde o PSD tem bancadas fortes, como o Paraná (por causa de Foz do Iguaçu), Rio de Janeiro e Bahia.

Hoje, o Ministério do Turismo é comandado por Celso Sabino, do União Brasil. Retirá-lo de lá sem encontrar um novo espaço para a legenda também traria desgaste político.

Crédito: Caio Spechoto (Broadcast) e Sofia Aguiar (Broadcast) / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 29/1/2025


Gleisi vai ser ministra do governo Lula e PT terá presidente com mandato-tampão até julho

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, comporá a equipe do governo Lula a partir da reforma ministerial, prevista para ocorrer até março. Se não houver mudanças de última hora, o ministério escolhido para Gleisi é o da Secretaria-Geral da Presidência, hoje responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com os movimentos sociais.

A ida da deputada para o primeiro escalão, no lugar de Márcio Macêdo, exige um arranjo no próprio PT, como mostrou o Estadão. O partido, que completa 45 anos em 10 de fevereiro, terá eleições diretas para a renovação de suas direções nacional, estadual e municipal no dia 6 de julho.

Com a chegada de Gleisi no Ministério, um dos atuais vice-presidentes do PT assumirá o comando do partido temporariamente até julho, quando haverá eleições internas. Dois nomes já começaram a ser sondados para o mandato-tampão: José Guimarães (CE), atual líder do governo na Câmara, e o senador Humberto Costa (PE), que, a partir de 1.º de fevereiro, deve ocupar a segunda vice-presidência do Senado com a esperada eleição de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na Casa.

Gleisi já foi ministra da Casa Civil e está no comando do PT desde 2017
Gleisi já foi ministra da Casa Civil e está no comando do PT desde 2017 Foto: Wilton Junior/Estadão

A decisão sobre o substituto de Gleisi passará pelo crivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva porque é justamente esse nome quem conduzirá o Processo de Eleição Direta (PED) no PT. Não há impedimento para que nenhum dos parlamentares acumule suas funções no Congresso com a presidência da sigla. A deputada, no entanto, é mais próxima de Guimarães.

Lula quer que o ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro Edinho Silva seja o novo presidente do PT e aproxime o partido, na segunda metade do governo, do espectro político de centro.

Na prática, a escolha de Edinho – que é aliado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad – representa uma mudança de 180 graus no PT. É, ainda, um sinal de que, se o governo continuar com problemas e Lula não for candidato à reeleição, em 2026, Haddad será preparado para concorrer como seu herdeiro.

Embora a própria corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), tendência de Lula e de Gleisi, esteja dividida sobre a indicação de Edinho, é ele o favorito para comandar o partido. Mas, nesse cenário de divergências, a tarefa do presidente temporário do PT não será fácil.

Lula e Gleisi tiveram uma conversa reservada sobre o Ministério em meados deste mês. A dúvida no Planalto, ainda, é onde alocar Márcio Macêdo, o atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

O presidente gosta de Macêdo, que foi tesoureiro do PT e de sua campanha, em 2022. De acordo com interlocutores de Lula, porém, ele avalia que precisa de um nome para dialogar mais com os movimentos sociais nesta segunda metade do governo.

Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira, 27, acendeu o sinal de alerta no Planalto:mostrou que o governo perdeu popularidade até mesmo em seu tradicional eleitorado, como o de renda até dois salários mínimos e o do Nordeste.

Ex-ministra da Casa Civil no governo Dilma Rousseff e ex-senadora, Gleisi está na presidência do PT desde julho de 2017 e tem sido um contraponto a Haddad no governo. Em dezembro de 2023, uma resolução do partido chegou a chamar o arcabouço fiscal proposto pelo ministro da Fazenda de “austericídio fiscal”.

Atualmente, o PT comanda 11 dos 38 ministérios, mas, apesar da ida de Gleisi para o governo, a legenda deve perder espaço na Esplanada para partidos do Centrão. A saída de Cida Gonçalves do Ministério das Mulheres, por exemplo, é dada como certa.

Nem a presidente do PT nem Macêdo falam sobre as mudanças na equipe de Lula, que ocorrerão no rastro das eleições para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para o próximo sábado, 1.º. O presidente quer usar a reforma ministerial para amarrar os acordos políticos de 2026 com legendas de centro e centro-direita. Até agora, Lula só trocou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social: saiu Paulo Pimenta (PT) e entrou o marqueteiro Sidônio Palmeira.

Uma outra pasta cogitada para Gleisi chegou a ser a do Desenvolvimento Social, que abriga o Bolsa Família – programa-vitrine do governo. Ao que tudo indica, porém, Wellington Dias (PT) será mantido no cargo.

O PSD de Gilberto Kassab – secretário de Governo na gestão Tarcísio de Freitas, em São Paulo – também está de olho nesse ministério: quer emplacar o deputado Antônio Brito, líder do partido na Câmara, na cadeira de Dias. Lula, no entanto, avalia que pastas como a do Desenvolvimento Social, a Educação e a Casa Civil devem continuar sob comando do PT.

Crédito: Vera Rosa / O Estado de São Paulo – @ disponível na internet 29/1/2025

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