A disputa interna entre os cooperados da Unimed-Rio pode complicar a já delicada situação da empresa e resultar numa batalha judicial. Antes mesmo de ser anunciado a vitória da Chapa 1, liderada por Antonio Romeu Scofano Junior, nas eleições para a nova diretoria da cooperativa, com 64% dos 2.083 votos, o grupo de oposição 3ª Via já ameaçava entrar na Justiça para discutir questões como tempo de mandato e mudanças no estatuto. Segundo fontes a par do plano de recuperação, caso a ameaça se concretize, poderá dificultar a negociação com credores e a manutenção do atendimento aos 950 mil beneficiários. Segundo dados oficiais, as dívidas da empresa, que tem 5.423 cooperados, somam R$ 600 milhões.— Os órgãos envolvidos no programa de saneamento da Unimed-Rio foram pegos de surpresa por essa nova disputa. Acreditávamos que, após a destituição da antiga diretoria, os cooperados se uniriam para pôr em prática o plano de recuperação. A reviravolta dificulta aportes. Se não se afinarem para estancar as dívidas, podem inviabilizar definitivamente a empresa — disse fonte a par do plano da empresa.
REUNIÃO COM NOVOS GESTORES
Líder do movimento 3ª Via, a médica Ana Clara Sande já se reuniu com advogados para avaliar a abertura de ação no Judiciário. Apesar de reconhecer que uma briga judicial pode ser prejudicial à cooperativa, ela avalia que essa pode ser a única alternativa:— Com a saída da antiga diretoria, acreditávamos que as oposições (são três grupos) iam se unir para discutir um novo modelo de gestão, mas não foi o que aconteceu. Apesar de entender que pode ser prejudicial à empresa, não podemos deixar para depois a discussão da representatividade dos cooperados, do mandato e do veto a reeleições para que não volte tudo a ser como antes — diz Ana Clara, referindo-se ao comando exercido por Celso Barros durante 18 anos, cuja diretoria foi derrubada em assembleia no último dia 28.A 3ª Via não concorreu a diretoria. Concorreu com a Chapa 1, a 2ª Opinião, do médico Claudio Salles, que obteve 35,59% dos votos. Após as eleições, a assembleia continuou para discutir questões como o salário dos novos executivos.
Sem entrar no mérito do embate entre cooperados, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) destacou que a cooperativa não pode falhar no atendimento e que qualquer problema deve ser relatado pelos consumidores. A reguladora informou ainda que um novo plano de saneamento foi entregue na semana passada e está em análise. O primeiro, apresentado em abril, foi rejeitado pela agência.
Em nota, o conjunto de órgãos públicos que tem acompanhado o plano de recuperação — formado por Ministérios Públicos Estadual e Federal, Defensoria do Rio e ANS — informa que já expediu formalmente recomendação para a capitalização da empresa imediatamente após a eleição. E avisa que realizará reunião com os novos gestores para tratar da manutenção do atendimento aos usuários da cooperativa.
Após a suspensão temporária do atendimento de clientes da Unimed-Rio pela Unimed Leste Fluminense, uma fonte próxima à negociação avaliou que o caso representou uma sinalização negativa para o mercado. Diante do impasse, sugeriu a intervenção da Unimed do Brasil.
Procurada, a Unimed do Brasil disse que “cada operadora possui gestão administrativa autônoma e independente, garantida por lei”. Mas acrescenta que, em caso de anormalidades, pode intermediar e ajudar na negociação entre operadoras, reguladora, instituições de defesa do consumidor e promotorias, para “preservar o atendimento aos beneficiários e garantir, principalmente, a execução de procedimentos de urgência e emergência.”
A Unimed Leste Fluminense decidiu manter o atendimento após solicitação do Ministério Público de Niterói.
A advogada Renata Vilhena Silva, especialista em saúde, diz que o total de processos de clientes da Unimed-Rio, em seu escritório, cresceu 30% nos últimos 18 meses:
— O momento é de cautela. É fundamental que se chegue a um equilíbrio financeiro.
Crédito: Matéria publicada dia 24/08/2016 no jornal O Globo – disponível na web 25/08/2016