Dados mostram que nos últimos anos institutos de pesquisa tiveram redução drástica de pessoal. Deputado Celso Pansera teme que pesquisas importantes sejam paralisadas.
Durante audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia, o diretor do CBPF, Ronald Shellard, disse que a carência de pesquisadores e servidores é tão trágica quanto a falta de recursos.
“Comparem 2006 com 2017. Em 2006, nós tínhamos 172 servidores. Vocês me desculpem, mas não se faz nada sem gente. Hoje, nós temos 123 servidores. Quando se aposentam, a gente não substitui. O número de pesquisadores caiu de 67 para 53. É um número ridículo. É patético que um país como o Brasil tenha uma instituição com esse número de pesquisadores. Toda a parte de infraestrutura administrativa também caiu brutalmente”, afirmou Shellard.
Segundo ele, no mesmo período, o número de analistas em ciência e tecnologia caiu de 14 para 8. No caso da carreira de assistente em Ciência e Tecnologia, que trabalha nas áreas de gestão, planejamento e infraestrutura, a redução foi ainda maior: de 40 para apenas 20 profissionais entre 2006 e este ano.
Emendas ao Orçamento
Para aliviar o drama orçamentário do setor, a Comissão de Ciência e Tecnologia aprovou na semana passada quatro emendas ao Projeto da Lei Orçamentária de 2018, beneficiando pesquisas em áreas como células-tronco, nanotecnologia e indústria avançada.
Ex-ministro de Ciência e Tecnologia, o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) lembrou que os cortes orçamentários vêm desde 2015 e têm sido corrigidos com medidas paliativas. Pansera cobrou uma solução definitiva que garanta, pelo menos, mais R$ 4 bilhões para o setor no Orçamento da União de 2018.
“Essas gambiarras já não têm mais como resolver o problema. 2018 é paradigmático: se não tiver recurso, o setor para. E se parar, serão de 10 a 15 anos para reacelerar as turbinas”, disse.
Segundo Pansera, o governo vai enviar uma nova proposta orçamentária com mais R$ 30 bilhões. “Se o governo não tiver como pegar desses R$ 30 bilhões e colocar R$ 4 bilhões para o ministério e para o setor, então que eleve a previsão de deficit para R$ 163 ou R$ 164 bilhões. O que não é possível é iniciar o próximo ano com essa previsão orçamentária, porque, com as eleições e a polarização política que se desenha, o Congresso não terá como aprovar uma reorganização orçamentária, como fizemos em julho deste ano”, concluiu.
Além de mostrar o drama orçamentário do setor de Ciência e Tecnologia, a intenção da audiência pública foi dar visibilidade às pesquisas avançadas e importantes que estão em curso nas áreas de física e matemática. Porém, o presidente da Rede Nacional de Física de Altas Energias, Ignácio Hickman, mostrou um certo constrangimento ao falar do futuro.
“Nós estamos em um momento muito difícil. Falar sobre perspectivas e futuro é uma coisa que pode parecer uma certa alienação, mas vou me limitar ao que a gente pensa do futuro da ciência”, disse.
Apesar das dificuldades orçamentárias, Hickman apresentou projetos em curso na área de física de altas energias, incluindo fusão nuclear, astronomia, raio-x, aceleradores de partículas, raios cósmicos ultra energéticos, entre outros.
Os dois palestrantes disseram contar com o apoio dos parlamentares para garantir o efetivo funcionamento dos instrumentos estratégicos de infraestrutura de Ciência e Tecnologia do país.