Dano Irreparável: 200 anos de saberes foram perdidos em incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro

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Luzia
Reconstrução do rosto de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil. Direito de imagem CICERO MORAES

Nas coleções de paleontogia, havia o Maxakalisaurus topai, dinossauro encontrado em Minas Gerais, o primeiro de grande porte a ser montado no Brasil.

O acervo de etnologia tinha artefatos da cultura indígena, como objetos raros do povo Tikuna, e afro-brasileira, além de itens de culturas do Pacífico. Havia pelo menos 1.800 artefatos de civilizações ameríndias da era pré-colombiana.

Acervo de paleontologia
O Museu Nacional tinha um dos acervos de paleontologia mais significativos da América Latina. Direito de imagem MUSEO NACIONAL DO BRASIL

Outros destaques eram coleções de objetos de arte italiana, etrusca, greco-romanos e de artefatos egípcios, como múmias e sarcógafos. O primeiro colaborador dessa área foi Dom Pedro 1º, que deu parte de seu acervo ao museu.

O museu tinha objetos egípcios, como
Acervo de 20 milhões de peças incluía fósseis, múmias e sarcófagos. Direito de imagem DIVULGAÇÃO/MUSEU NACIONAL

A coleção contava ainda com o Meteorito Bendegó, encontrado em 1794 em Monte Santo, na Bahia. Ele estava na instituição desde 1888.

Outra raridade do acervo era o trono do rei africano Adandozan (1718-1818), doado pelos embaixadores do rei ao príncipe regente Dom João 6º, em 1811.

Meteorito Bendegó
O meteorito Bendegó fazia parte do acervo desde 1888. Direito de imagem MUSEO NACIONAL DE BRASIL

Segundo a historiadora Heloísa Bertol Domingues, o museu foi concebido nos moldes de instituições europeias. Na época da inauguração, quando o local ainda se chamava “Museu Real”, Dom Pedro 1º escreveu que o objetivo era “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil”.

‘Tragédia para o Brasil e para o mundo’

A doutora em antropologia Alba Zaluar, que estudou no museu, classificou o incêndio como “uma imensa tragédia para o Brasil e para o mundo”.

Incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro
Hidrantes próximos ao Museu Nacional não estavam funcionando, segundo os bombeiros. Direito de imagem GETTY IMAGES

“O acervo do Museu Nacional é uma coisa única no Brasil, não tinha nada igual no país”, afirmou Zaluar à BBC News Brasil.

“O prédio foi residência da família real. Tinha uma biblioteca da área de antropologia importantíssima. Estamos arrasados.”

O caixão de Sha Amun en su
O caixão de Sha Amun en su era uma das atrações do museu mais visitadas. Direito de imagem MUSEO NACIONAL DO BRASIL

O presidente Michel Temer (MDB) disse, em nota, que o incêndio causou uma perda “incalculável ao Brasil”.

“Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos os brasileiros”, escreveu.

Prédio não teria alvará, segundo bombeiros

A reportagem da BBC News Brasil esteve no local na noite deste domingo. Em meio a um cenário de desespero, cidadãos ofereciam ajudam aos bombeiros para tentar debelar o fogo. Por volta das 23h20, o incêndio ainda não estava controlado.

Segundo o coronel Roberto Bobadey, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, membros da corporação tiveram problemas para encontrar água em hidrantes da região.

“Os dois hidrantes mais próximos estavam sem carga. Estamos usando o lago da Quinta da Boa Vista e de carros-pipa”, disse.

O coronel também afirmou que o prédio não tinha alvará dos bombeiros para funcionar.

Crédito:  Júlia Dias Carneiro e Leandro Machado/BBC Brasil – disponível na internet 03/09/2018

“O dano é irreparável”, diz diretor do Museu Nacional

Chamas destroem Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão –
Tânia Rego/Agência Brasil/Agência Brasil

O diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, afirmou à Agência Brasil que o incêndio causa um “dano irreparável” ao acervo e às pesquisa nacionais. Ele acompanha de perto o trabalho dos bombeiros no local e disse que “pouco restará”, após o controle das chamas.

“Infelizmente a reserva técnica, que esperávamos que seria preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo”, afirmou o arquiteto e historiador.De acordo com João Carlos Nara, a equipe de administração do Museu Nacional aguardava o fim do período eleitoral para iniciar as obras de preservação da infraestrutura do prédio.

“É tudo muito antigo. O sistema de água e o material, tudo tem muitos anos. Havia uma trinca nas laterais. Isso é ameaça constante”, disse o diretor.

Inconformado com o incêndio, João Carlos Nara lamentou que os investimentos sejam destinados a outras causas no país. “Gastam milhões em outros projetos”, reagiu.

Investimentos

Em junho, o  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinou contrato de financiamento no valor de R$ 21,7 milhões para apoio à restauração e requalificação do Museu Nacional. Os recursos compõem a terceira fase do Plano de Investimento para a revitalização do Museu Nacional, num total de R$ 28,5 milhões.

O objetivo é aplicar os recursos na recuperação física do prédio histórico; a recuperação de acervos — de modo a garantir mais segurança às coleções e otimizar o trabalho dos pesquisadores —; a recuperação de espaços expositivos — estimulando maior atração de público e promoção de políticas educacionais vinculadas a seus acervos —; a revitalização do entorno do museu; e o fortalecimento da instituição gestora.

História

O Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do Brasil. É um dos museus de ciência de referência no mundo. Foi fundado em 1818.

Inicialmente instalado no Campo de Santana, o Museu foi posteriormente transferido para o Palácio de São Cristóvão, monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e situado na Quinta da Boa Vista, um dos mais importantes parques urbanos do Rio. Antes de abrigar o Museu Nacional, o Palácio de São Cristóvão foi residência das famílias real portuguesa e imperial brasileira.

Agência Brasil de Notícias 03/09/2018

https://youtu.be/rPefh-CB7MA

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