Onyx monta “time” de ex-parlamentares para tentar aprovar reforma da Previdência no Congresso.

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O futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), está recrutando parlamentares sem mandato a partir de 2019 para atuar na interlocução do governo de Jair Bolsonaro (PSL) com o Congresso. A ideia é ter dois grupos de assessores especiais: um atuará exclusivamente na Câmara, enquanto outro se dedicará ao Senado. A prioridade de trabalho será articular a aprovação da reforma da Previdência.

O time de Lorenzoni deve ser confirmado apenas na próxima semana. Entre os cotados para compor o grupo estão os deputados federais Leonardo Quintão (MDB-MG), que já atua no grupo de transição, e Carlos Manato (SD-ES), que concorreu ao governo capixaba. Também foram convocados Ronaldo Nogueira (PTB-RS), ex-ministro do Trabalho do governo de Michel Temer, e o ex-deputado paranaense Abelardo Lupion (DEM). Com exceção de Lupion, todos os demais concorreram a cargos nestas eleições, sem sucesso.

Na semana passada, o presidente nacional do PRB, pastor Marcos Pereira, contou ao Globo que conversou com Onyx sobre detalhes da montagem da equipe de articulação do Planalto. Segundo Pereira, Onyx disse que pretende montar um time de ex-parlamentares experientes, escolhidos por região do país e área temática de atuação, para fazer a interlocução direta com o Parlamento. Cada um teria a obrigação de ouvir as demandas parlamentares e dar uma resposta em até sete dias. A conversa foi boa e teve até abertura para que Pereira sugerisse nomes para essa equipe de apoio.

— Ele até perguntou para mim se eu tinha alguém para indicar, disse que tinha de ser uma pessoa limpa. Mas de lá pra cá não teve nenhum desdobramento. Alguns dias depois, mandei para ele uma mensagem e nunca tive resposta — contou o presidente do PRB.

Em reuniões com os parlamentares, Lorenzoni tem dito que a principal missão do grupo é trabalhar pela aprovação da reforma da Previdência nos seis primeiros meses do governo Bolsonaro. De acordo com um interlocutor do grupo, não haverá outra pauta até o tema passar pelo Congresso.

O novo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni Foto: Jorge William / Agência O Globo

Principal desafio do futuro governo no Congresso, a aprovação da reforma também será determinante para Lorenzoni marcar posição no Planalto. Nesta semana, Bolsonaro anunciou o general Carlos Alberto Santos Cruz para a Secretaria de Governo. O militar vai dividir com Onyx a missão de fazer a interlocução com o Parlamento, o que foi interpretado por integrantes da transição como uma perda de poder do futuro chefe da Casa Civil.

Coordenador da bancada da bala, Alberto Fraga (DEM-DF), que perdeu a eleição para governador do Distrito Federal, tem batido ponto no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde está o governo de transição, mas garante que não ocupará nenhum cargo por sua “situação na Justiça”. Fraga foi condenado por cobrar propina de R$ 350 mil de uma cooperativa quando era secretário de Transportes no governo do Distrito Federal. Ele refuta as acusações e recorre da decisão.

— Não aceito ocupar nenhum cargo por minha situação na Justiça. Enquanto não resolver minha situação na primeira instância, não aceito nenhum tipo de cargo político, mas é natural que ele esteja chamando alguns nomes.

Fraga não é o único com problemas na Justiça. O ex-deputado Lupion foi citado nas delações da Odebrecht, acusado de ter recebido R$ 250 mil, não declarados à Justiça, nas eleições de 2010 e 2012.

Quintão virou líder do então PMDB na Câmara em 2015, após liderar um movimento de descontentes com a ex-presidente Dilma Rousseff. Seu antecessor, o deputado Leonardo Picciani (RJ), mantinha-se fiel a Dilma. Quintão foi eleito para a Câmara em 2014, quando, segundo relatório da Secretaria do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, 42% dos gastos de campanha foram pagos por mineradoras.

Neste ano, Carlos Manato (SD-ES) foi candidato derrotado ao governo do Espírito Santo. Ele chegou a ser investigado  por incentivar a greve de policiais no estado em 2017. Reconheceu ter defendido anistia aos grevistas, mas negou qualquer participação direta com o movimento. Ao participar da elaboração do código da mineração, envolveu-se em um caso de conflito de interesses. Em 2015, a BBC Brasil revelou que parte do relatório assinado por Quintão foi redigido no computador de um advogado que defendia os interesses da Vale e da BHP. À época, Quintão disse que o advogado Carlos Vilhena apenas ajudou na redação de temas que já haviam sido discutidos com parlamentares.

No ano passado, o Ministério Público Federal do Distrito Federal (MPF-DF) entrou com uma ação de improbidade administrativa contra Ronaldo Nogueira, por entender que ele dificultou a fiscalização e a repressão ao trabalho escravo no cargo de ministro. Ele negou qualquer ilegalidade ou irregularidade. Nogueira também viu sua gestão no Trabalho ser alvo da Operação Registro Espúrio, que investiga uma suposta organização criminosa, formada por políticos, lobistas, dirigentes de sindicatos e funcionários públicos. Ela praticou fraudes e corrupção para a liberação e o veto de registros sindicais dentro da Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho de acordo com interesses privados.

Segundo o líder do PR, José Rocha, que se reuniu com Quintão e Lorenzoni, ao que tudo indica o governo tratará com os líderes partidários sobre as votações. Desde que foi eleito, Bolsonaro tem dito que vai priorizar a interlocução com as bancadas temáticas.

— Veja bem: eu entendo que esse movimento é muito mais para agradar as bancadas, como a da Agricultura, do que uma prática que pode ocorrer no dia a dia do Congresso.

Crédito: Jussara Soares e Bruno Góes/Revista Época edição 1066 – disponível na internet 03/12/2018

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