“Obrigado, Nação”

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Não se trata de ufanismo, nacionalismo ou patriotismo nosso louvor apresentando o título deste artigo, ou uma referência ao governo constitucional e democraticamente escolhido, que embora agradando ainda parte do seu eleitorado (uns 30%), longe está do agradecimento tanto do time que comanda a administração aos seus comandados, uma vez que dele se espera apenas um apoio despropositado, sem declarações absurdas e inconvenientes, quanto o inverso, de um povo que já sente o esgotamento diário das suas expectativas com as retiradas das conquistas sociais, as ameaças quanto aos direitos individuais e coletivos, a exaltação aos tempos ditatoriais e torturadores, as discórdias promovidas pela máquina robotizada de mentiras, o constrangimento à imprensa livre e a cooptação da mídia engajada e apoiadora da precarização das leis trabalhistas, das restrições dos benefícios previdenciários em contraposição e distinção de categorias privilegiadas.

Ainda persistem os pseudos adeptos da lisura, oligarcas da sanha punitiva, conservadores da correição, justiceiros “do olho por olho”, do combate à corrupção alheia, que, “antolhados”, acreditam messianicamente na remissão dos seus erros e preveem a redenção das suas escolhas. São os mesmos que sempre enaltecem a meritocracia, favoráveis às segregações, justificam seus privilégios e se manifestam contra os feriados nacionais contraproducentes, as comemorações populares dispendiosas, e consideram os jogos de futebol e torneios desnecessários porque entretêm a “plebe” desinteressada da política.

A Nação ovacionada é aquela que acorda cedo, pega diversas conduções para trabalhar e retornar quando tem o passe, o emprego e uma casa para morar, partes de sua identidade social. Se não, ainda assim, nada tira sua garra, pois seu coração é de ouro, por baixo do que apelidaram de “manto sagrado”, que representa a garra de uma torcida. É a que tem fé na virada, que não arreda o pé porque acredita na vitória. Exuberando o vermelho e o preto, solidária no grito e na “charanga”, que entoa a alegria além do tempo regulamentar.

Atentos e agradecidos à participação dessa magnífica máquina de entusiasmo, no jogo com o Avaí, no Maracanã, após demonstrar a que veio conquistando os títulos obtidos anteriormente, o time carioca, em vez de trazer o nome do patrocinador no uniforme, estampou um “OBRIGADO, NAÇÃO”, como um gesto representativo e inteligente ao apoio dos torcedores do time do Flamengo, este que reconhece a participação de quem jogou na torcida e empurrou o time com a vibração, emoção e a certeza do sucesso, onde esta afirmava assistência com uma mensagem: “JUNTOS”.

Com uma pontuação máxima dificilmente a ser alcançada, foi obtida pela campanha do brasileirão e fez com que o título de campeão fosse conquistado por antecipação, sem entrar em campo, preservando a equipe para a vitória seguinte ao derrotar seu adversário, sagrando-se campeão da Copa Libertadores da América, cuja importância está na competição continental de clubes sul-americanos em um torneio que homenageia os lideres das independências das nações sul-americanas.

Preparou-se para disputa do mundial de clubes. Para os contra, o FLA perdeu. Para os torcedores, o Liverpool é que ganhou suado, com o pior ataque da temporada, com ajuda de um gol na prorrogação, de um brasileiro (Firmino) que não só deu a vitória final para os ingleses, mas repetindo o feito anterior contra um time mexicano.

Luiz Fernando Mirault Pinto: Físico e administrador – pesquisador aposentado do Inmetro. [email protected]

Foi o primeiro título mundial do Liverpool (os Reds) que, entre outras ocasiões, perdera em 1981 para o próprio flamengo – aquele de Zico – e, apesar de ser o atual campeão europeu, foi ameaçado constantemente pelos rubro-negros que, com qualidade, mantiveram mais e por bons momentos a posse da bola e a presença eufórica da plateia flamenguista, que aos pulmões bradava a vitória e afrontava a torcida oposta em maior número, como continuidade do “maraca”. 

Essa torcida, esse time, essa campanha, esse técnico, foram uma demonstração de parceria, seriedade, compromisso e solidariedade, exatamente a resposta democrática que o País está precisando para sair da mediocridade, da pasmaceira, da polarização nefasta, da torcida negativa. Esses momentos de alegria e esperança da torcida ficarão marcados, mostrando que dessa união depende a vitória, os dribles, da qualidade dos jogadores e o espírito esportivo do reconhecimento do Clube de Regatas do Flamengo à Nação Rubro-Negra.

Crédito: Luiz Fernando Mirault Pinto/Correio do Estado – disponível na internet 31/12/2019

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