Após a divulgação da retração de 1,5% do PIB no primeiro trimestre, o ministério da Economia, disse que o resultado ‘coloca fim a recuperação econômica’ do Brasil, mas o ministro Paulo Guedes exaltou o desempenho das exportações. Em evento, disse que ‘o que é maldição acabou virando uma benção’. Para ele, as vendas externas podem melhorar previsão do PIB do ano.
Embora essas operações já sejam praticamente isentas de impostos, exportadores penam para conseguir reaver créditos tributários, como PIS e Cofins, que deveriam ser repassados pelo governo federal.
A estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que o total devido pela União aos exportadores gira em torno de US$ 5 bilhões. A ideia é facilitar o acesso a esses créditos, o que impulsionaria o setor exportador.
Outro custo adicional que está sendo discutido é o Adicional ao Frete da Marinha Mercante, cobrado em algumas operações.
Também está sobre a mesa o aumento da alíquota do Reintegra, hoje em 0,1%. O programa tem por objetivo devolver, parcial ou integralmente, o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção de bens exportados.
Na prática, trata-se de uma restituição aos exportadores e, quanto maior a alíquota, maior essa compensação — que já chegou a ser de 3% no passado.
— É preciso devolver o que os exportadores já pagaram indevidamente. O país também deve investir pesado em infraestrutura, redução da burocracia e em uma reforma tributária — disse o presidente da AEB, José Augusto de Castro.
A necessidade de melhorar o perfil exportador, em um momento de queda das vendas de produtos industrializados — somente em maio, a comercialização de manufaturados caíram 15,85% em relação ao mesmo mês do ano passado —, foi um dos principais temas discutidos em uma reunião na semana passada entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e dirigentes de mais de 40 entidades que representam o empresariado brasileiro.
Risco com importações
Em outra frente, setores pedem proteção temporária, de cerca de seis meses, para evitar prejuízos com o aumento de importações, principalmente de produtos chineses e coreanos. Mas a possibilidade de elevação de tarifas aduaneiras e imposição de cotas, mesmo emergenciais, estaria descartada no momento.
O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Mello, disse que alguns setores, incluindo o siderúrgico, manifestaram essa preocupação ao ministro da Economia. Disse que a indústria estará fragilizada quando a pandemia acabar.
Marco Polo foi um dos empresários que participaram, ao lado de Guedes e do presidente Jair Bolsonaro, de uma marcha ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pressionar pela reabertura da economia. Ele tem sido um dos principais interlocutores entre o setor produtivo e o time de Guedes.
— A indústria brasileira terá de enfrentar duas potências mundiais que, além de venderem as matérias-primas por preços muito baixos, não seguem as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e têm práticas predatórias no comércio internacional — disse Marco Polo.
Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, reforçou que uma invasão de produtos chineses é um risco:
— A exportação só está funcionando pelo lado agrícola. Do lado das importações, não podemos ser ingênuos de achar que esses produtos que estão sobrando no planeta não virão para o Brasil.
Regras de concessão
Diante desse cenário, a equipe econômica observa como a economia reagirá à retomada gradual que começou a ocorrer em alguns estados. Além das medidas voltadas especificamente para exportações, está no radar a reforma das regras de concessão, inclusive nos leilões de petróleo.
A privatização da Eletrobras e o destravamento do novo marco legal do saneamento são outras apostas para melhorar de forma geral o ambiente de negócios no pós-pandemia.
Na reunião da semana passada, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, comentou ter ouvido do ministro da Economia que um de seus principais focos é a geração de empregos.
Ele relatou que Guedes enfatizou que os investimentos em infraestrutura e logística terão de vir do setor privado.
— O ministro disse que, dentro de 40 dias, sairão novas medidas para criar empregos e que, quando o governo passou a distribuir o auxílio emergencial, descobriu que 38 milhões nunca tiveram carteira profissional — contou Martins.
Representantes da indústria voltaram a reclamar da dificuldade de acesso ao crédito.
— O governo liberou o compulsório dos bancos, mas o dinheiro não chega nas mãos das empresas, por causa das garantias — afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
Entenda as medidas em análise:
Aumento da alíquota do Reintegra, de devolução de impostos
Uma das medidas em discussão avançada é o aumento da alíquota do chamado Reintegra. O programa, criado em 2011, tem por objetivo devolver, parcial ou integralmente, o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção de bens exportados. Na prática, trata-se de uma restituição aos exportadores. Quanto maior a alíquota, maior essa compensação. A legislação prevê restituições de até 3% sobre a receita de bens exportados. Hoje, essa alíquota está em apenas 0,1%.
Ampliação de desonerações para vendas para o exterior
Também na linha tributária, está em estudo ampliar desonerações nas vendas para o exterior. Hoje, essas operações já são praticamente isentas de impostos. Mas, na prática, exportadores penam para conseguir reaver créditos tributários, como PIS e Cofins, que deveriam ser repassados pelo governo federal. A estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que o total devido pela União aos exportadores gira em torno de US$ 5 bilhões.
Adicional ao Frete da Marinha Mercante
Outro custo que pode ser revisto é o chamado Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), que incide sobre o transporte aquaviário no país e vigora desde 1987. Essa taxa incide apenas sobre o custo do transporte, e as alíquotas variam, dependendo da operação. A cobrança é de 10% na navegação de cabotagem e de 25% na chamada navegação de longo curso. A ideia é diminuir o custo logístico das operações de exportação e importação.
Proteção contra produtos importados
Em outra frente, setores da indústria pressionam para que o governo proteja por até seis meses empresas nacionais. Como países asiáticos registraram os primeiros casos de Covid-19 no mundo, a expectativa é que esses mercados se recuperem antes, já que o pico de disseminação da doença já passou. A ideia de propor medidas protecionistas, no entanto, é vista com resistência na equipe econômica, porque vai contra a agenda de abertura comercial defendida pelo ministro Paulo Guedes.
Crédito: Eliane Oliveira e Geralda Doca/O Globo – disponível na internet 02/06/2020