Motivações para um novo Inmetro

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A nova missão institucional, formulada após estudo recente no Inmetro, resume as ações, os valores e os beneficiários principais, que dão legitimidade às áreas de conhecimento e processos, que compõem e justificam nossa instituição:

Prover infraestrutura da qualidade para viabilizar soluções que adicionem confiança, qualidade e competitividade aos produtos e serviços disponibilizados pelas organizações brasileiras, em prol da prosperidade econômica e bem-estar da nossa sociedade.

Nessa nova missão, as tradicionais e diferentes, porém entre si relacionadas, atividades institucionais vislumbradas pelos legisladores de 1973, que criaram o então Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) seguem bem representadas. O que nossos “pais fundadores” não podiam ainda prever naquele ano seria a necessidade de se atualizar continuamente a expressão de nossos propósitos, face aos desafios que a sociedade e a indústria brasileiras enfrentarão para inserir-se no mundo deste Século XXI.

Como nos ensina a história da prosperidade econômica das nações, a manufatura de produtos, o posterior desenvolvimento de serviços associados, até a formação de redes de valor – dependem de uma infraestrutura técnica de base bem estabelecida, de forma que ela contribua para a industrialização, as inovações e a promoção do comércio justo dentro e fora das fronteiras territoriais.

Agora, tendo em nossas mãos a missão de levar adiante o legado do Inmetro, renomeado Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, não poderiam nos faltar motivações para ajudar o Brasil a embarcar novamente no trem do progresso, que está partindo da estação século XXI. Trata-se de uma oportunidade daquelas que não se pode perder, sob o risco de não haver segunda chance.

Para conseguir um assento nesse trem da prosperidade econômica mundial, teremos de apoiar o Inmetro para superar os enormes desafios que a terceira década do século XXI nos apresenta – conforme muito bem colocou o Presidente do Inmetro, Marcos Guerson. Dentre as motivações para a superação daqueles desafios, gostaria de destacar duas: globalização e 4ª revolução industrial. Paradoxalmente, é justamente no entendimento, tanto de suas dimensões de obstáculos a serem ultrapassados, quanto de incentivos que explicam nossos esforços, que esses dois elementos se encontram a nossa frente a serem analisados e encarados. Por conseguinte, contribuo neste artigo com algumas breves reflexões sobre as quais tenho me debruçado em pesquisas a fim de avaliar o ambiente e propor ações condizentes.

Seguidamente, a título de fechamento, faço considerações igualmente sobre o planejamento estratégico como instrumento de modernização do instituto e fonte de motivações extras para o mesmo.

Globalização e 4ª revolução industrial

Após o solavanco da crise econômico-financeira de 2008, a globalização passou a ser questionada como movimento capaz de espontaneamente entregar resultados satisfatórios à redução da pobreza mundial e o desnivelamento de riqueza entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Por conseguinte, passou-se a conjecturar a retomada de projetos nacionais próprios e soberanos, capazes de recolocar os atores nacionais em uma posição mais privilegiada. É preciso certo cuidado para não confundir essas iniciativas com desenvolvimentismo estatal centralizado, uma vez que a essência do movimento passa pela livre vontade de ação em corresponder à magnitude, como dito precedentemente, aos desafios e motivações do momento que lhe são inerentes.

Se as condições de maior liberdade de proposição no contexto do sistema internacional perdurarem, os países que desenvolverem suas próprias normas, regulamentos e outros padrões técnicos e tecnológicos deterão uma vantagem competitiva para a sua inserção competitiva nos novos fluxos comerciais de produtos, dados e informações, que se estabelecerão em cadeias produtivas no mundo. Com a mudança de alguns paradigmas técnicos em favor de novas tecnologias, as cadeias de valor emergentes serão governadas com base em infraestruturas, que garantam a confiança das medições, a rastreabilidade delas ao longo das linhas de fabricação, a interoperabilidade e a segurança de sistemas críticos desde as utilidades, como a energia para o bem-estar, até os logísticos, como os de materiais para a alimentação e a saúde. O risco é que revolução poderá fazer com que as inovações fiquem concentradas somente sobre um número pequeno de centros desenvolvidos e capazes para tal. Se no século início do XX, isso se consolidou porque os países acreditavam que se mantivessem fechados era melhor para manter os resultados da 3ª revolução industrial, os próximos anos deste centenário deverão mostrar tendência de mesmo sentido, porém com a direção alterada. A razão é a  natureza distinta e própria da 4ª revolução manufatureira. Se antes era a linha de produção extrínseca que gerava a padronização para o comércio e a interoperabilidade de sistemas; daqui pra frente será a própria padronização intrínseca, local, e portanto inovadora, que engendrará toda uma linha de oferta de bens e serviços a jusante.

Conclusões para um planejamento estratégico

O cenário internacional apresenta grande instabilidade, no que pese predizer as consequências vindouras de fato ainda não nos é possível. Entretanto, alguns dos motivos das transformações mundiais e das configurações técnicas que se definirão no futuro, dependem exclusivamente de identificar algumas tendências e distinguir elos de causalidades nos seus desdobramentos. Um planejamento estratégico organizacional e orgânico tem o potencial de coordenar os esforços internos, de modo que até mesmo uma ruptura na normalidade do sistema possa ser enfrentada como oportunidade.

Eduardo Trajano Gadret – Pesquisador Tecnologista em Metrologia e Qualidade no Inmetro, Engenheiro Químico, Mestre com dissertação sobre Barreiras Técnicas, Bacharel e Doutorando em Filosofia

Ademais, a história do desenvolvimento nos ensina que a transição da produção artesanal para a fabricação em escala industrial foi baseada na livre decisão diante de uma encruzilhada entre uma consequência e sua condição. Com o advento das tecnologias avançadas deste século, o trem do progresso mundial vai novamente partir, porém o comando da locomotiva, seja no plano doméstico, quanto externo, dependerá de quais padrões serão escolhidos para adoção pelos sistemas produtivos. Recordemos que as escolhas pregressas eram entre as duas principais causas do desenvolvimento técnico, a primeira de ordem econômica, a outra puramente técnica. De fato, causas econômicas continuam a ser encontradas em toda parte. Mas ao que parece, daqui pra diante, somente a segunda deverá ter maior importância: o que vai tornar mesmo a nova industrialização possível é a formação de referências estáveis.

Autor: Eduardo Trajano Gadret – Pesquisador Tecnologista em Metrologia e Qualidade – 30/07/2020

 

5 Comentários

  1. Parabéns Dr.eduardo pelo seu magistral trabalho . Penso que o percurso apontado pelas suas ideias de transição no plano interno dará a locomotiva segurança e velocidade

  2. O Brasil deve ficar agradecido ao seu filho que se dedica a melhorar a vida dos brasileiros.
    Parabéns Eduardo, cá deste lado do Atlântico dos amigos de Portugal.
    Elsa Masters

  3. Muita oportuna as colocações. A hora é agora! Em minhas reflexões sobre o SINMETRO também dedico especial atenção aos ideais dos seus pais criadores, e os valorizo, pois, visualizaram e construiram a atual infraestrutura pública da Qualidade através do modelo
    de auto sustentabilidade pela prestação de serviços técnicos metrológicos. Destaco principalmente a operação da Metrologia Legal no Brasil, prática exemplar de combate a concorrência desleal entre empresas, necessária para obtenção de ambiente estável e robusto de mercado.

  4. Parabéns ao Trajano, disse tecnicamente o que a experiência, a percepção e o sentimento pessoal e profissional ditou… sinal que estamos ligados com os anceios, necessidades e expectativas dos cidadãos, onde quer que eles estejam…

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