Eletrodomésticos ineficientes travam redução do consumo de energia em tempos de crise hídrica
Naquele que ficou conhecido como o ano do apagão, os selos de eficiência energética se tornaram um dos principais meios de informação do consumidor na hora de escolher os eletrodomésticos mais eficientes para reduzir o consumo.
Para se ter uma ideia, as geladeiras, responsáveis por 30% do gasto com energia, só alcançarão em 2026, no Brasil, o padrão de eficiência exigido nos EUA desde 2014.
Atualmente, quase 100% das geladeiras estão classificadas como A. No entanto, o próprio Inmetro admite que há entre elas uma diferença de até 30% no consumo. Na nova regulamentação, em fase de conclusão, o instituto prevê classificação dos refrigeradores em A+, A++ e A+++, representando diferenças de consumo de 10%, 20% e 30%.
— Há mais de dez anos o selo de classificação das geladeiras não era revisto. Temos hoje à venda no mercado brasileiro refrigeradores que não chegariam às lojas em países como México, Índia e Quênia. Nem estou comparando com o Primeiro Mundo — diz Clauber Leite, coordenador do programa de Energia, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Ele continua:
— Mesmo quando se escolhe um produto classificado como A, o consumidor não tem a seu dispor o melhor desempenho.
Selo Procel é mais eficiente
Menos de 9% do refrigeradores atuais se classificariam como A+++, o maior nível de eficiência da nova regulamentação, admite Hércules Souza, chefe da Divisão de Verificação e Estudos Técnicos do Inmetro.
Ele pondera que classificar esses aparelhos abaixo de A, o que só acontecerá em 2025, significaria para os fabricantes a perda de incentivo tributário, e resultaria em aumento de preço:
— O preço mais alto prejudicaria as classes menos favorecidas para as quais o que vale é o que cabe no bolso. E não adianta mudar a classificação abruptamente como fez a Argentina,por exemplo, e não ter aparelho para oferecer na classe A. Lá hoje estão todas classificadas como D.
Souza diz que o programa de etiquetagem vem sendo atualizado. Cita o caso do ar-condicionado, revisto em 2019, e explica que é preciso dar prazo para que a indústria se adapte. Segundo ele, o Inmetro está trabalhando para equalizar as regras de classificação com as implementadas na Europa.
Além do selo do Inmetro, há no mercado brasileiro o selo concedido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) aos aparelhos mais eficientes de suas categorias. Para especialistas, a certificação do programa hoje é uma referência mais fidedigna que a do Inmetro.
Redução de até 30% na conta de luz
O selo é a parte mais visível do Procel, que existe há 35 anos. Em 2020, ações implementadas com a participação do programa em indústrias, edificações e setor público, além da certificação dos equipamentos, resultaram numa economia de energia estimada em 22 bilhões de kWh. Isso representa 5% do consumo total de eletricidade no país.
O país vive uma crise hídrica. Com reservatórios das hidrelétricas baixos, há necessidade de acionar as termelétricas, que produzem energia mais cara, elevando a conta de luz. Por isso,, eficiência energética é fundamental para aliviar o bolso.
Especialistas dizem que é possível reduzir em até 30% a fatura mensal em casa com a troca de lâmpadas incandescentes por modelos mais eficientes e de aparelhos de ar-condicionado de janela por splits.

São práticas crescentes no país, segundo pesquisas do Procel, indicando que os brasileiros vêm incorporando esse comportamento desde o apagão de 2001. Bruno Yamanaka, analista do Instituto Akatu, diz que estudos feitos pela entidade apontam na mesma direção:
— Desde 2012, vemos uma crescente mudança de hábitos como o de evitar lâmpadas acesas em ambientes vazios e desligar aparelhos quando não estão em uso. Casos como ar- condicionado ligado com janelas abertas, aparelhos em modo stand by e lava-louças usada abaixo da capacidade.
Clauber Leite, do Idec, reforça que eficiência energética precisa ser uma preocupação constante, não só em momentos de crise de abastecimento.
Indústria admite atraso
— Campanhas educativas são de fundamental importância. No entanto, é essencial garantir ao consumidor equipamentos que ofereçam de fato melhor eficiência energética e trabalhar com as prefeituras para implementação de políticas como mudanças no código de obras para exigência de uso de energia solar e captação de água da chuva — destaca.
A entidade diz que, no Brasil, a norma regulatória que embasa o programa de etiquetagem é a IEC 2005, mas internacionalmente se utiliza a IEC 2015.
A indústria considera adequado o prazo dado pelo Inmetro e a maneira como pretende implementar a transição a partir de 2022:
“Com esta proposta, já haveria uma maior diferenciação dos produtos no ponto de venda. Para a segunda fase, o Inmetro propõe a adoção da norma europeia, ajustada para a realidade climática e socioeconômica do Brasil, já sem subclasses”.
Crédito: Luciana Casemiro/ O Globo – @internet 07/06/2021
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