Conversamos com Adalberto Maluf, presidente da ABVE, para entender se o parâmetro de diminuição da autonomia divulgada vai ameaçar os eletrificados
O mercado de carros elétricos vem crescendo a passos lentos no Brasil se comparado com países mais desenvolvidos. Porém, seja aqui ou na Europa , questões como autonomia desses veículos e custo elevado são as mesmas.
Para 2023 o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) deveria publicar uma nova portaria sobre o padrão de aferição de autonomia de veículos eletrificados, que no caso dos 100% elétricos, poderia causar uma redução de até 45% na autonomia divulgada pelas fabricantes.
Conversamos com Adalberto Maluf , Presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico ( ABVE ) e diretor de comunicação da BYD no Brasil para entender como essa nova determinação poderá afetar os veículos híbridos , que contam com motor a combustão sendo auxiliado por um elétrico .
Maluf enxerga com estranheza o fato da nova determinação causar um “dano” aos carros elétricos tão grande, especialmente tendo em vista o tamanho do mercado que possuem atualmente e os obstáculoscomo alto custo e falta de infraestrutura de recarga que esses modelos já enfrentam.
“Na Alemanha, os elétricos puros correspondem a 20%, na China é 20%, somando os híbridos plug-in vai para 30%, Reino Unido é cerca de 25 a 30%, enquanto nos Estados Unidos as vendas são de 5% de elétrico puro e quase 10 somando híbridos plug-in. No Brasil é 0,4%, por que penalizar assim? O mercado é pequeno por enquanto. São 8.460 em um mercado de 2 milhões de veículos. É um pouco estranho.” Afirma o executivo.
A nova medida pode afastar eventuais interessados em comprar um carro elétrico . Nos casos de motores a combustão, os veículos são anunciados com médias de consumo que muitas vezes não são possíveis no dia a dia do usuário, e nos elétricos , a baixa autonomia pode afastar compradores .
“O BYD Han tem 499 km de autonomia no PBEV (Padrão Brasileiro de Etiquetagem Veicular), tirando os 30%, vai para 350 km. Eu ando direto com esse carro, rodo 350 km e ainda tem cerca de 20 a 30% de autonomia.” Exemplifica Maluf.
“As montadoras que estão debatendo com o Inmetro, e nós estamos aguardando a publicação oficial da portaria para um posicionamento, mas queremos chegar em consenso para um ciclo comum, todos usarem o padrão mundial WLTP, pois queremos empoderar o consumidor com informação real.”
Atualmente existem cerca de quatro medições adotadas pelas fabricantes: WLTP (Mundial, usada principalmente na Europa), NEDC (Europa), EPA (Estados Unidos), CLTC (China), PBEV (Brasil), a ideia de unificar um padrão é atrativo para a ABVE, mas nessa forma, prejudicando justamente o carro elétrico , causa estranheza em Maluf e na ABVE.
“Se a marca fala que a autonomia é 400 km, não pode dar só 300. Se alcançar 380 ou 420 o consumidor entende que existem variáveis. O importante é dar informação mais real possível ao consumidor de carros elétricos.” Rebate Maluf.
Nos modelos híbridos , Maluf acredita que o padrão a ser adotado irá impactar nos modelos plug-in especificamente, já que os testes laboratoriais desses modelos levam em conta a mobilidade exclusivamente elétrica , enquanto nos híbridos flex , as métricas não devem ser alteradas.
Outro fator que chama a atenção no crescimento dos carros eletrificados por aqui são os padrões de plugs de recarga , que podem variar de modelo para modelo, e dependendo do ano do carro, o cliente vai encontrar o padrão chinês , japonês ou europeu . Segundo Maluf, a Associação vem se esforçando para garantir a maior disponibilidade de conectores para os clientes.
“A ABVE está em constante contato com a ABNT para criar uma norma que garanta conectividade, segurança e padrões de recargas. Temos que ter cuidado para não criar um padrão exclusivamente nacional e acabar afastando marcas do Brasil. Nissan e JAC não tem tanto volume por aqui para mudar o padrão chinês para o Europeu do Brasil. Nosso foco é garantir segurança e conectividade para o consumidor.”
“Uma coisa que nos preocupa muito é a qualidade da energia que o carro vai devolver para a rede ao utilizar o V2G (Energia saindo do veículo e indo para a rede elétrica), que é uma tecnologia que já está disponível lá fora” Conclui o executivo.
Crédito: Maurício Campelo / IG Carros – @ disponível na internet 30/01/2023