Chiliques do mercado

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“Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”Sempre me perguntei por que na mídia corporativa existem quadros e âncoras de plantão para dissertarem e opinarem aleatória e superficialmente sobre índices econômicos que nada refletem dirigidos para uma platéia de espectadores ineptos: os indicadores de variações mercadológicas da Bolsa de Valores e o câmbio do momento.

Por vezes, um assunto mais complexo, todavia socialmente importante, como o recente rombo de grande empresa de varejo, é vagamente divulgado e propositalmente abafado, de modo a não estimular ou compelir o mercado, esse sujeito indefinido, cuja identidade é erroneamente atribuída a todos nós consumidores, quando na verdade é dirigido e controlado por alguns milionários e pequenos grupos de acionistas mantenedores de um sistema simulado.

Esse tal “mercadejo” é capaz, por meio de alguns “patacudos”, de ficar aflito, dar chiliques e emitir estultices a cada discurso governamental que indique ajustes nos seus planos, podendo tirá-lo da sua “zona de conforto” e que possibilitem inconvenientes às suas “burras”.

Manchetes: “Mercado reage mal à declaração sobre priorização em investimentos sociais do governo”; “Mercado financeiro fica nervoso ao se questionar o ajuste fiscal”; “Reação do mercado contra a moeda comercial única”; “Medo do mercado com o fim do teto de gastos”; “Receio de uma reforma tributária tipo Robin Hood”.

Em verdade, esse sujeito oculto que reage contra as políticas públicas e que tenta constantemente dominar e minar os planos econômicos do governo se resume ao 0,1% da população que vive da especulação financeira, e que, por isso, permite, por meio de especulações na Bolsa, ao garantir seus rendimentos, a transferência de renda da classe pobre para os mais abastados e é capaz de emitir ao seu favor, com apoio midiático, notícias dissimuladas. 

Enquanto isso, outros informes, de Davos (Suíça), relatam que uma tomada de consciência tomou lugar nas discussões econômicas quando milionários do mundo inteiro, excetuando esses tais brasileiros, publicaram uma carta aberta cujo título é “Custo da Extrema Riqueza”, para ser entregue aos lideres políticos presentes no Fórum Econômico, em que inusitadamente solicitam que governos aumentem os impostos em relação à riqueza amealhada, concentrada e constatada a partir dos tempos de pandemia, levando agora o mundo a uma crise social profunda, conforme uma ONG que luta contra a fome (Oxfan), que em estudos revela que 2/3 dessa riqueza produzida ficou nas mãos de apenas 1% da população mundial (US$ 23 trilhões) em relação ao restante, os detentores da pobreza extrema, e que apenas o aumento em 5% sobre os impostos dessa classe pródiga aliviaria a vida de dois bilhões de miseráveis.

As dificuldades econômicas geradas pelos próprios países, com o descaso da pandemia, o apoio Ocidental a guerras eslavas, a hegemonia de poder geopolítico com embargos a regiões já desprovidas, o declínio das condições climáticas, as migrações e o desemprego e as reivindicações quanto às perdas de direitos sociais, são algumas das razões que levaram ao desequilíbrio econômico, à concentração de riqueza e ao aumento da desigualdade entre ricos e pobres. 

Em um país como o nosso, onde a classe alta (A) é definida por uma renda ridícula familiar de R$ 22 mil (2,8%) e quem dela não faz parte, como a (B), com 13,2%, a (C) com 33%, e a maioria da população (D/E), que compõe 60%, que almeja não uma posição de aplicadores financeiros do mercado, mas de pobres consumidores de mercadinhos comerciais, não tem sentido que alguns poucos deem pitacos ou se sintam incomodados com políticas públicas que planejam aumentar o bem-estar de um povo desprovido das necessidades primárias básicas e das aspirações naturais dos seres humanos.

Sobreviver aos extremos, inclusive às riquezas e ao desequilíbrio produzido pelas sucessivas crises, levam ao desespero das famílias, frente ao desemprego, às dificuldades da aposentadoria, às expectativas distantes da casa própria, do planejamento familiar, da educação remota e, muitas das vezes, da esperança de um prato de comida.

Luiz Fernando Mirault Pinto: Físico e administrador

No mundo, a vida está ameaçada, e é preciso que crescimento econômico seja inclusivo, pois é “o apego à riqueza que divide as famílias e provoca as guerras”, nas palavras do Papa Francisco, que complementa:

“Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade”.

O caminho é a política, esclarecer, educar, ensinar, vencer e se contrapor a toda ação que impeça a implantação das políticas públicas em larga escala, a distribuição proporcional da renda e a desconcentração da riqueza.

Crédito: Luiz Fernando Mirault Pinto / Correio do Estado MS – @ disponível na internet 07/02/2023

 

 

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