Quinta coluna

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@reprodução internet

Na administração, as nomeações de membros indicados pela frente de partidos apoiadores, a demissão de milhares de comissionados apadrinhados e militares pelo governo anterior

Relembrando o texto “As entrelinhas e as linhas tortas” (Correio do Estado, 8/7/2017), dizia eu: “Comparar opiniões contrárias, avaliar a veracidade das informações e diversificar as fontes são práticas que evitam a ‘idiotização’ que atualmente estamos vivendo, na replicação de posts ridículos, divulgação de mentiras, reprodução de notícias requentadas, ridicularização de pessoas e instituições e acusações sem direito a defesa”; e ainda: “As mensagens das entrelinhas não entendidas sempre beneficiam minorias privilegiadas interessadas na manutenção do status quo, com a aceitação de leitores despreparados”.

Não é de hoje, mas é certo que após a mudança de governo identificamos uma sistematização na divulgação de notícias comuns nas mídias acessíveis à população.

Quando não reproduzem fatos e eventos já disseminados e multiplicados nas redes sem a citação da fonte, recebemos a interpretação das resenhas diárias por meio de profissionais experientes em dar ênfase aos acontecimentos de interesse da direção da empresa de comunicação.

Exemplificando, vimos o caso das declarações sobre a economia, as contradições disseminadas sobre a aprovação da PEC do auxílio emergencial, as discussões sobre o teto de gastos, o alerta dos juros altos, a necessidade de âncora fiscal, a importância da independência do Banco Central, a pressa e o receio sobre a reforma tributária, entre outras. 

Na Justiça, considerações sobre as revogações legais sobre o desarmamento para a população, as punições consideradas “exageradas” aos golpistas, a preocupação com “pobres” garimpeiros que invadiram ilegalmente as terras indígenas, as justificativas legais sobre a compra de ouro com base na boa-fé da origem.

Na administração, as nomeações de membros indicados pela frente de partidos apoiadores, a demissão de milhares de comissionados apadrinhados e militares pelo governo anterior.

Na política, as dúvidas e “apostas contra” a formação de uma base parlamentar, dificuldades sobre as possíveis aprovações parlamentares das políticas públicas e a impossibilidade de se formar uma frente partidária por conta da distribuição de cargos e, recentemente, a torcida oposta ao protagonismo do País pelo fim da guerra eslava e os impostos dos combustíveis.

Outra estratégia é o desvio de atenção nos noticiários envolvendo omissões premeditadas de fatos importantes ou forjando uma aura exagerada para eventos banais de conteúdos descartáveis, sempre carregadas de emoções, medos e preocupações, de modo a prender a atenção dos interessados.

Por isso o título escolhido se refere a um termo atípico, fora do vocabulário trivial, mas que descreve em parte a quantas andam as informações quando elas se propõem a um comportamento singular, com notícias facciosas e sectárias, tipo às que estamos submetidos diariamente pela mídia corporativa.

Quinta coluna é uma expressão usada durante a guerra espanhola (1936) para se referir aos partidários clandestinos do general Franco, infiltrados na comunidade madrilena e cuja atividade era minar a população e os apoiadores legalistas com ações de guerrilha, como espionagens e propagandas subversivas, enganosas, atuando sempre às escondidas, dissimuladamente, se fazendo passar por aliados dos combatentes frente ao avanço das tropas antidemocráticas.

Reforçando esse quadro de noticiários duvidosos, lembramos um termo americano, yellow press, que era atribuído aos veículos que se utilizavam de sensacionalismo.

Luiz Fernando Mirault Pinto: Físico e administrador

Com a disputa entre os meios de comunicação, rádios e jornais (tabloides) da época (1930) tentavam sobreviver e manter a audiência dos leitores; hoje, o mesmo acontece com TVs e “influenciadores”, ao divulgar igualmente assuntos insignificantes e eventos diversionistas que nada dizem à sociedade, sempre com apresentações tendenciosas (fakes), textos, fotos e comentários apelativos, deturpados ou exagerados, buscando agradar grupos de interesse, econômicos, políticos, assim como financiadores, mantenedores, ou simplesmente na onda do momento. 

Não diríamos que essa prática seja constante ou universal, mas identificada como uma “quinta coluna”; determinadas figuras que se sentem alijadas ou incomodadas por um novo processo político ou social e que se veem obrigadas a contestar aleatoriamente, com artigos opinativos ou mais elaborados, a pedido de grupos, e se servindo de “especialistas”, colunistas, influenciadores e prestigiosos âncoras na tentativa de se contrapor e convencer a sociedade que as medidas em questão devem ser observadas exclusivamente sob seus pontos de vista ao reverberar uma gama de informes divergentes.

Crédito: Luiz Fernando Mirault Pinto / Correio do Estado – @ disponível na internet 03/03/2023

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