Trabalho híbrido é o preferido de brasileiros, diz pesquisa
Organizações têm optado por retomar seus escritórios após a pandemia, mas a modalidade híbrida aparece como preferida por colaboradores brasileiros, segundo pesquisa
Diversas empresas que, durante a pandemia, adotaram o trabalho remoto têm retomado seus escritórios, como as gigantes da tecnologia Google, Amazon e até o Zoom, plataforma de reuniões on-line que ganhou destaque no período de isolamento social.
Segundo a pesquisa Tendências e Perspectivas do Trabalho da WeWork Latam, que entrevistou 10 mil trabalhadores latino-americanos, sendo 3 mil deles brasileiros, a modalidade presencial aumentou de 10% para 18%.
O trabalho no modelo híbrido reduziu em 14%, passando de 78% para 64%, mas continua representando o maior contingente entre os entrevistados. O número de profissionais que trabalha de casa passou de 12% para 18%.
O estudo foi realizado em parceira com a Page Outsourcing e revelou também que 94% dos trabalhadores entrevistados não gostariam de trabalhar exclusivamente de maneira presencial.
“Após a pandemia, as nossas prioridades se deslocaram e o trabalho deixou de ser o único ou o principal foco de nosso tempo. Passamos a valorizar mais o bem-estar e a qualidade de vida. O modelo de trabalho híbrido é o que melhor combina os benefícios do presencial e do remoto. Ter flexibilidade é um aspecto mais lembrado do que ter plano de saúde na hora de avaliar o emprego, para os trabalhadores do mundo contemporâneo, e um benefício inegociável”, afirma Bruna Mendes, porta-voz da WeWork.
Empregadores
Lucas Mendes, CEO da Revelo, plataforma on-line de recursos humanos para divulgação de vagas e oportunidades, diz que, com o isolamento social, a empresa precisou mudar sua modalidade de trabalho, passando do formato presencial para o remoto. Presente em onze países, todos os seus funcionários trabalham majoritariamente on-line, com encontros presenciais esporádicos para alinhar as demandas. O CEO conta que “nunca estivemos prontos para o trabalho remoto, achávamos que atrapalharia a dinâmica da empresa, mas a pandemia nos forçou a fazer a transição e, hoje, ainda é a maneira como a empresa funciona”.
Apesar de trabalharem à distância, os funcionários da Revelo possuem rotinas de trabalho próprias para garantir a produtividade durante o tempo do serviço, como a confirmação das tarefas a serem cumpridas e um ponto eletrônico virtual. Para Lucas, isso “amadureceu os processos trabalhistas” e, de fato, tornou a empresa mais produtiva.
Thales Vanussi, um dos sócios da start up Mission Brasil, plataforma que conecta empresas com prestadores de serviços, reforça que o trabalho híbrido é uma tendência do mercado brasileiro, também conhecida como trabalho 4.0, e que possibilita maior tempo livre não só para a vida pessoal, mas para geração de renda extra para além do emprego formal.
O empreendedor lembra, porém, que esses novos arranjos exigem também novos contratos sociais. “Como outras transformações na história da humanidade, que tiveram desafios, existem fatores a serem considerados para a execução do trabalho híbrido, como a habilidade das empresas e dos empregadores em negociar essa maneira de trabalho”, descreve Thales.
Para ajudar nesse processo de negociação entre chefes e subordinados, a gestora de marketing Rejane Matos, que coordena equipes de trabalho híbrido na empresa de RH Thomas International Brasil, acredita que é necessário estimular um ambiente que considere a política da empresa, mas que também adapte a forma de cobrança das demandas de trabalho. “Para que o modelo híbrido dê certo, temos que ter confiança entre os membros da equipe e entender o perfil comportamental de cada empregado”, diz. Segundo ela, cada pessoa produz em um ritmo e o gestor precisa saber coordenar entregas levando isso em conta.
Empregados
Gabriel Araújo, desenvolvedor de aplicativos da Revelo, trabalha de maneira completamente remota, viajando por diversos países como parte do serviço, mas com um encontro a cada três meses na sede da empresa, em São Paulo. Ele diz que prefere esse modelo de trabalho pela qualidade de vida que ele proporciona. “Eu gastava pouco mais de uma hora só no transporte público para chegar no trabalho, pagava um aluguel com preço bem alto porque precisava morar em uma região específica. Hoje, é diferente: pago um quinto do aluguel, minha pontualidade melhorou e tenho mais tempo para fazer exercícios físicos”, compara.
O engenheiro de software admite, porém, que encontra uma pequena desvantagem no chamado home office: a ausência do contato com o outro. “Você perde o encontro entre colegas para tomar um cafezinho, jogar conversa fora”, pondera.
Victor Hugo Costa, analista jurídico no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), fez o caminho oposto a muitos trabalhadores: passou para a modalidade híbrida no segundo semestre de 2021, momento em que a maioria dos profissionais estavam retornando aos ambientes de trabalho. Durante a pandemia, trabalhava presencialmente por dois dias e on-line em três; hoje, ele vai ao tribunal apenas pelas segundas, e no restante da semana, trabalha remotamente.
Para o servidor, o modelo oferece mais vantagens do que desvantagens, porém a desorganização dos fluxos de trabalho pode ser um problema: “Existe a possibilidade de você se desorganizar muito, mas, no geral, essa não é uma característica minha. Para mim, o trabalho híbrido permite flexibilidade, menor tempo de deslocamento e maior produtividade”.
Ferramentas
Algumas tecnologias para organização das rotinas de trabalho e para comunicação à distância prometem facilitar a vida de quem trabalha de forma híbrida ou remota. No Brasil, as plataformas digitais mais utilizadas por empresas que adotaram essas modalidades de serviço, segundo levantamento da Mission Brasil, são o GitHub, Mission Brasil, Canva, Office e Jira.
A pesquisa Tendências e Perspectivas do Trabalho aponta, porém, que as mídias para gestão de equipes e demandas mais populares são Teams, Slack e Trello, representando 25% do total, seguidas por ferramentas desenvolvidas pelas empresas (21%), e-mail (20%) e planilhas compartilhadas (10%). O WhatsApp é o aplicativo mais usado para comunicação, sendo adotado por 88% das empresas e profissionais.
No trabalho de Victor Hugo, os colegas conversam pelo Teams e por e-mail. Ele descreve que “dentro das unidades, o WhatsApp também é utilizado. Creio que esses meios resolvem muito as demandas por comunicação”.
Na Revelo, todos os trabalhadores utilizam a plataforma Slack. Gabriel conta que separar os canais de comunicação ajuda a colocar limites entre o trabalho e o tempo de descanso. “Enquanto eu uso o WhatsApp para comunicação pessoal com amigos e familiares, para o serviço, utilizo somente o aplicativo do trabalho.”
Crédito: Lara Costa, estagiária sob supervisão de Priscila Crispi / Correio Braziliense – @ disponível na internet 06/11/2023