Comparação revela distorções nos salários do funcionalismo federal

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@reprodução internet

No emaranhado de cargos e tabelas remuneratórias do serviço público federal, é possível identificar servidores que têm funções semelhantes, porém convivem com profundas diferenças salariais. Essas distorções alimentam uma competição predatória e estão no centro do debate sobre a criação de um novo sistema de carreiras.

A newsletter Por Dentro da Máquina da última semana consultou especialistas, ligados à academia, ao Executivo e às entidades sindicais, para chegar a um exemplo clássico do que o próprio governo avalia como uma importante disfuncionalidade do sistema. Decidimos comparar as tabelas remuneratórias de sete cargos semelhantes, todas de “analistas administrativos” de nível superior.

Foram avaliados os cargos de analista administrativo das agências reguladoras, da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), do Ibama, da Agência Nacional de Mineração (ANM), do Incra e do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE). No último caso, o cargo tem a nomenclatura de “analista técnico-administrativo”.

A comparação revela, por exemplo, que o analista administrativo do Incra recebe de salário inicial o equivalente a 39,1% daquilo que é pago ao analista administrativo das agências reguladoras. Enquanto o primeiro entra no funcionalismo com salário de R$ 5.897,29, o segundo entra com R$ 15.050,25.

No caso dos analistas administrativos, deve-se notar que, apesar das semelhanças, há diferenças de complexidade nas atividades que precisam ser levados em conta.

Neste caso, a distorção se mostra mais relevante se a comparação for entre os analistas administrativos do conjunto das agências reguladoras e seus colegas com o mesmo cargo na Agência Nacional de Mineração, cuja reestruturação da carreira é considerada prioritária. O analista da ANM tem um salário inicial de R$ 10.065,06, o que equivale a 66,87% dos vencimentos pagos nas outras agências.

“Isso é reflexo de uma política salarial historicamente sem critérios técnicos, na qual prevalece a força política de cada carreira. É preciso discutir tabelas remuneratórias padronizadas, fazer o mapeamento das ocupações, refletir sobre os salários e a complexidade das funções, e pensar em ter carreiras muito bem desenhadas para que o serviço público funcione”, afirma Felipe Drumond, consultor do Instituto Republica.org e um dos expoentes no debate sobre a transformação do Estado brasileiro.

Na lista dos analistas administrativos, os servidores das agências reguladoras têm as melhores remunerações, seguidos dos servidores da Previc (salário inicial de R$ 14.583,49), do Dnit (R$ 13.351,89), do Ibama (R$ 10.893,30), da ANM (R$ 10.065,06) e do Incra (R$ 5.897,29), respectivamente. Em relação aos analistas técnicos-administrativos do PGPE, os trabalhadores recebem o inicial de R$ 6.255,90, podendo alcançar o salário final de R$ 9.728,38.

Segundo levantamento feito pela Secretaria de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão e da Inovação, o serviço público federal tem hoje dois mil cargos diferentes, 300 agrupamentos sistêmicos, mais de 250 tabelas remuneratórias, 43 planos de cargos e 117 carreiras.

O governo discute desde o primeiro semestre de que forma o sistema de carreiras pode ser atualizado. No entanto, diante da complexidade e das resistências ao tema, o secretário de Gestão de Pessoas, José Celso Cardoso, reconhece que aprovar uma lei de organização de carreiras, focada na mobilidade de servidores entre diferentes órgãos e entidades, entre outros dispositivos, deve levar bastante tempo.

“É precisa saber se haverá interesse, envolvimento, desprendimento das carreiras e dos próprios órgãos de caminhar nessa direção. Em havendo interesse e disposição, temos uma proposta para debate”, afirmou o secretário de Gestão de Pessoas em evento, no final de agosto, promovido pelo Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), para discutir a reforma administrativa.

Se ocorrer essa reorganização ocorrer até 2026, o secretário já considera uma vitória.

Crédito:Roberto Maltchik / JOTA e CONDSEF – @ disponível na internet 14/11/2023

1 COMENTÁRIO

  1. Na verdade tal constatação é antiga, atual e certamente para o futuro. Salários iniciais destoam em várias funções e cargos nos diversos órgãos e locais de trabalho. Não é novidade, inclusive a defesa de funcionários de de estrutura de estado e de governo , onde as corporações defendem que alguns são mais qualificados que outros.Ora , todos servem ao serviço público independente dos governos pois são concursados igualmente .
    Algumas classes choram ao STF, outras a políticos e partidos, algumas são relegadas ao segundo plano, e existem aquelas que servem a setor privado que lutam pelos seus afilhados …. Desde a última reforma administrativa nada foi feito efetivamente para regularizar de fato a função pública. Divulgava-se na época que o ascensorista do senado ganhava mais que um oficial graduado, piloto de caça a jato. Isto é voava mais rápido e mais alto. Na época dos militares , congelaram os salários mais altos fazendo com que uma merendeira recebesse tanto quanto um engenheiro. Na era FHC os salários foram congelados e defasados por oito anos, só sendo corrigido mal e porcamente nos governos seguintes. Servidores de poderes diferentes recebem salários diferentes para exercerem as mesmas atividades mesmo que a nomenclatura se diferencie para fugir das comparações. Concluindo, tudo na mesma, pra que mexer se não resulta em voto…..

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