Caso Marielle expõe rede de políticos e agentes públicos por trás do crime organizado; veja os alvos
Investigação revelou detalhes do funcionamento de uma rede de autoridades públicas por trás do crime praticado em 2018; entenda quem são e qual foi a participação dos envolvidos, segundo a PF
A Polícia Federal (PF) anunciou neste domingo, 24, a conclusão da principal etapa da investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A investigação revelou detalhes do funcionamento de uma rede de autoridades públicas por trás do crime praticado em 2018. Os envolvidos são integrantes da Câmara dos Deputados, da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.
Entenda quem são e qual foi a participação dos envolvidos, segundo a PF:
Ronnie Lessa
Élcio de Queiroz
Chiquinho Brazão
Segundo a PF, Chiquinho é um dos mandantes do crime e tinha vínculo com milicianos da zona oeste do Rio que tinham interesse na grilagem de terras para fins comerciais. O grupo da vereadora Marielle Franco se opunha à proposta e buscava dar finalidade social às áreas em disputa.
Domingos Brazão
Domingos e Chiquinho são apontados como mentores do crime, ao lado do delegado Rivaldo Barbosa. As investigações que resultaram na prisão do conselheiro apontaram “diversos indícios” do envolvimento dos dois irmãos, “em especial de Domingos”, com “atividades criminosas, incluindo-se nesse diapasão as relacionadas com milícias e grilagem de terras”.
No decorrer do inquérito, a polícia apontou que ações no sentido de “criar obstáculos à regular tramitação da elucidação dos fatos”.
Domingos Brazão conseguiu o primeiro mandato de vereador em 1996. Em 1999, foi eleito deputado estadual pela primeira vez e acumulou mandatos até 2015, quando foi escolhido pelos demais deputados para a cadeira de conselheiro do TCE, um cargo vitalício. A nomeação dele foi feita pelo então governador Luiz Fernando Pezão.
Rivaldo Barbosa
Segundo o inquérito, ele planejou o crime e depois atuou para atrapalhar as investigações. “O crime foi idealizado pelos dois irmãos (Chiquinho e Domingos) e meticulosamente planejado por Rivaldo”, diz o relatório. “Apesar de não ter o idealizado, ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências.”
A investigação também apontou relação direta do delegado com o crime organizado. Ele recebia “vantagens indevidas da contravenção para não investigar e não deixar investigar os homicídios por eles praticados” quando chefiava a Delegacia de Homicídios. Com os pagamentos feitos por bicheiros, segundo a PF, ele aumentou o patrimônio e comprou imóveis.
Érika Andrade de Almeida Araújo
Advogada, é mulher do delegado Rivaldo Barbosa. A PF diz que ela não tem participação direta nos homicídios, mas movimentava e lavava o dinheiro sujo recebido pelo marido por meio de uma empresa de consultoria empresarial.
Entre junho de 2016 e junho de 2018, houve uma movimentação a crédito de R$ 1.072.598,00 e a débito de R$ 1.141.159,00 nas contas da empresa. Os valores correspondem a mais que o dobro do faturamento esperado no período, de R$ 480 mil. Do montante sacado das contas, R$ 760.659,30 foram sacados em espécie, cerca de 70% das operações a débito.
Giniton Lages
Segundo a investigação, Giniton Lages atuou depois dos crimes para “embaraçar as investigações e proteger os seus mandantes e executores materiais”.
Em 2022, lançou o livro “Quem Matou Marielle?”, no qual diz que “se apaixonou” pela atuação da vereadora.
Marco Antônio de Barros Pinto
Comissário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, ele atuou com Giniton Lages e Rivaldo Barbosa para atrapalhar as investigações. De acordo com a investigação, Marco Antônio e Giniton Lages “foram fundamentais para o sucesso da empreitada que garantiu a impunidade do crime até os dias atuais”, porque os dois eram os responsáveis por atuar na chamada “hora de ouro”, o período logo após o crime considerado fundamental para a investigação.
Robson Calixto, o Peixe
Foi assessor de Domingos Brazão na Assembleia Legislativa do Rio e atuava como auxiliar dele no Tribunal de Contas. A investigação aponta que ele “funcionou como intermediário das conexões entre os executores dos delitos e os respectivos mandantes”. Não foi preso preventivamente, mas foi alvo de outras medidas, como a proibição de manter contato com investigados e a obrigação de usar tornozeleira eletrônica.
Edmilson Oliveira, o Macalé
Ele também teria sido responsável por entregar o carro usado na execução, um Cobalt prata, aos comparsas Ronniel Lessa e o ex-bombeiro Maxwell Simões, o Suel, preso em operação da Polícia Federal no dia 24 de julho.
Maxwell Simões Corrêa, o Suel
José Carlos Roque Barboza
Citado como chefe da segurança do contraventor Bernardo Bello, policial militar reformado José Carlos Roque Barboza teria fornecido o carro usado por Ronnie Lessa e Élcio Queiroz para matar Marielle e Anderson. Segundo a delação de Élcio Queiroz, Barboza teria intermediado os primeiros encontros entre Ronnie Lessa e Bernardo Bello.
Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha
Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, foi o mecânico acionado por Suel para se livrar do veículo usado no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com Élcio Queiroz, Orelha tinha uma agência de automóveis e já tinha sido dono de um ferro velho, logo saberia como se livrar do Cobalt prata. Ele foi preso em fevereiro deste ano.
Denis Lessa, irmão de Ronnie Lessa
É acusado de ter recebido os materiais usados no assassinato (arma do crime, touca, casaco e silenciador) no dia da execução. Segundo Élcio Queiroz, Ronnie Lessa teria entregado ao irmão, na casa de sua mãe, uma bolsa que continha a arma usada no crime, assim como o casaco usado por Lessa na noite do crime e outros “apetrechos” utilizados no momento dos disparos.
João Paulo Viana dos Santos Soares, o Gato do Mato
João Paulo Viana dos Santos Soares e a mulher, Alessandra da Silva Farizote, são suspeitos de terem recebido a arma usada por Ronnie Lessa no crime, uma submetralhadora MP5. Em delação, Élcio Queiroz diz que Ronnie e João Paulo tinham uma relação próxima de confiança e já foram sócios.
Mauricinho e Jomarzinho
A PF cumpriu mandados de busca e apreensão contra Jomar Duarte Bittencourt Junior, o “Jomarzinho”, e Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o “Mauricinho”, em julho do ano passado. Eles são acusados de vazar informações e alertar Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, por mensagens eletrônicas, sobre uma operação da Polícia Federal, em 2019. Jomarzinho é filho de um delegado aposentado da Polícia Federal, Jomar Bittencourt.
Só falta a PF solucionar o caso do Adélio Bispo.