No início da segunda metade do mandato presidencial, Lula (PT) enfrenta momento crucial para avaliar o desempenho do governo sob o comando dele para delinear estratégias diante dos desafios políticos e eleitorais até 2026.
Nesse processo, há 3 pilares fundamentais que se destacam nessa análise: a sustentação da coalizão política, a governabilidade e a popularidade do presidente e do governo. Esses fatores estão interligados e influenciam diretamente na percepção da sociedade sobre a gestão governamental.
O governo iniciou com ritmo acelerado, em busca de imprimir uma marca com avanços significativos, com a volta de programas sociais, com medidas fiscais e econômicas para o retorno do desenvolvimento do País. Contudo, ao longo do tempo, a necessidade de governar dentro de modelo de coalizão tem imposto desafios que resultam em perda de fôlego e ainda sendo pressionado por agenda fiscal às vésperas do ano eleitoral.
A escolha entre base mínima e ampla coalizão tornou-se o dilema central para a gestão Lula.
A primeira opção garantiria maior alinhamento programático, mas enfrentaria dificuldades na tramitação legislativa que poderiam ser contornadas, enquanto a segunda, adotada pelo governo, facilitaria a aprovação de projetos, porém, sem garantir fidelidade partidária e política ao programa de governo.
Ampla coalizão eleitoral
A ampla coalizão eleitoral foi essencial para garantir a vitória nas urnas, mas a manutenção e expansão dessa aliança impõem desafios constantes. O fortalecimento do centro e da direita, evidenciado nas eleições municipais, e as negociações sobre fusões e federações partidárias redesenham o tabuleiro político-eleitoral.
O Congresso Nacional, cada vez mais fragmentado partidariamente, porém unido e fortalecido, com seu protagonismo legislativo, exige do Executivo negociações permanentes para garantir a aprovação da agenda governamental. Nesse cenário, a capacidade de articulação política se torna fator crítico para evitar paralisias e impasses que comprometam a governabilidade.
Mesmo assim, no campo da governabilidade, o governo obteve expressivos resultados legislativos, destacando-se pela aprovação de reformas e medidas fundamentais para a recuperação econômica e social do País.
Entre os principais avanços estão a Emenda de Transição, a Reforma Tributária e a nova política de valorização do salário mínimo, além de outras iniciativas para o equilíbrio fiscal e a melhoria do ambiente de negócios.
No entanto, também houve derrotas parciais nas propostas, como a derrubada de vetos presidenciais ou caducidade de medidas provisórias, o que evidencia os limites da coalizão na garantia de fidelidade ao governo.
Custos político
Essas conquistas e vitórias, todavia, não vieram sem custos políticos. A estrutura ministerial inicial e a necessidade de acomodar diferentes forças políticas levaram à concessão de mais ministérios e cargos no segundo escalão para PP e Republicanos, na primeira reforma ministerial, em 2023/2024.
Contudo, essa estratégia não resultou na consolidação da fidelidade desses partidos ao programa de governo. Pelo contrário, tem gerado dificuldades na coordenação política dos ministérios e, consequentemente, no processo decisório da máquina pública, dentre outras, que impactam diretamente na imagem do próprio presidente da República.
A popularidade do governo reflete essa equação entre estrutura de governo e entrega de resultados. Apesar de desempenho positivo diante de cenário político, fiscal, econômico e social desafiador, a ampliação da coalizão sem contrapartida clara na adesão ao programa de governo compromete, em última instância, a percepção pública sobre a capacidade de o governo cumprir as promessas de campanha agravada ainda pelo ambiente de desinformação e polarização política.
Queda da popularidade
Embora politicamente ativo e influente, o presidente enfrenta dificuldades com a queda na popularidade, que pode ser explicada por fatores internos e externos, como a inadimplência das famílias, o aumento dos preços devido a eventos climáticos que afetaram a produção agrícola, a escalada das tensões políticas internacionais e as sanções econômicas.
E até mesmo o papel da oposição que tem forte capacidade de disseminação de desinformação nas redes sociais. Portanto, essa queda não parece decorrer de questões estruturais e orgânicas, vez que a governabilidade e os indicadores como crescimento do PIB e aumento da geração de empregos mostram avanços na economia.
Nesse contexto, a segunda reforma ministerial surge como peça-chave para definir os rumos do governo Lula. No entanto, mais do que garantir a viabilidade eleitoral, o governo enfrenta o dilema de condicionar a participação na gestão a compromisso efetivo com o programa de governo e aliança para 2026.
Agenda governamental

A ampliação do espaço político não pode ser um fim em si mesmo. É preciso assegurar que os aliados compartilhem da agenda governamental e atuem de forma coesa para a implementação dessa agenda.
A decisão estratégica da reforma ministerial passa por 2 caminhos:
• ampliar ainda mais a coalizão heterogênea, ainda que isso implique distanciamento da base tradicional e riscos de reversão da popularidade, tendo em vista o índice máximo desde a posse; e/ou
• reforçar a conexão com setores progressistas e o eleitorado fiel ou politicamente engajado, o que garantiria maior alinhamento e identidade programática, mas tensionando a sustentação política no Congresso.
Ao que tudo indica, a reforma em curso não trará grandes surpresas, devendo priorizar a popularidade e as alianças eleitorais mais enraizadas, a fim de preparar para a corrida eleitoral de 2026.
Crédito: Neuriberg Dias / DIAP – @ disponível na internet 14/3/2025