A violência do trânsito no Brasil fez disparar o número de pessoas socorridas por serviços de emergência do SUS (Sistema Único de Saúde). Somente em 2024, aproximadamente 228 mil vítimas de acidentes envolvendo veículos automotores e bicicletas acabaram internadas em serviços hospitalares custeados com verba pública.
É como se a cada cerca de dois minutos um acidentado desse entrada nessas emergências. Em média, essas pessoas ficam seis dias internadas para tratamento.
O número é o maior em ao menos uma década. O total de hospitalizados em unidades do SUS por causa de acidente de trânsito no país no ano passado é 45% superior aos 157,6 mil casos de 2015.
Os dados fazem parte de um levantamento inédito realizado pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) e pela Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência). O levantamento não disponibiliza informações sobre tratamentos particulares.
Percentualmente, o crescimento na quantidade desses hospitalizados na década supera o da frota de veículos motorizados no país, que passou de 90,6 milhões de unidades registradas em 2015 para 124 milhões no ano passado -alta de 37%, de acordo com a Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito).
A partir de dados de 2023, o estudo mostra ainda que houve mais mortes em acidentes de trânsito do que por arma de fogo -34.810 óbitos contra 30.254, respectivamente. Em 71% dos municípios morrem mais pessoas em sinistros envolvendo veículos do que baleadas, também conforme as associações médicas.
“O trânsito brasileiro é uma epidemia silenciosa. As emergências estão lotadas de vítimas de circunstâncias evitáveis, com um custo humano, social e econômico altíssimo”, diz Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
A pesquisa, a partir de bases oficiais de dados do Ministério da Saúde, aponta que nos últimos dez anos o SUS contabilizou 1,8 milhão de internações por causa de sinistros de trânsito, totalizando R$ 3,8 bilhões em despesas hospitalares diretas.
O levantamento não aponta os principais traumas e lesões dessas vítimas de acidentes que precisaram ser socorridas a hospitais.
Mas, assim como nos casos de mortes, os motociclistas são as principais vítimas entre os internados, com 60% dos casos no período analisado.
Em 2024, o número chegou a pouco mais de 150 mil internações dos que estavam em motos, quase o dobro dos hospitalizados nos demais modais -77,5 mil pessoas- incluindo pedestres, ciclistas e pessoas que estavam em carros, ônibus e caminhões.
Os pedestres formam o segundo maior grupo de vítimas atendidas nas emergências por acidentes de trânsito, com 16% dos casos no período. Em seguida, aparecem os ciclistas e ocupantes de automóveis, ambos com 7% do total de registros entre 2015 e 2024.
Na comparação entre 2023 e 2024, porém, caiu a quantidade de acidentados a pé que precisaram de internação -passou de 35.629 para 29.733 casos envolvendo ciclistas, redução de 16,5%.
“Atuamos diariamente nas emergências e vemos o peso dessa tragédia nos hospitais. Isso exige resposta do Estado, da sociedade e de todos os atores do sistema de mobilidade”, diz a presidente da Abramede, Camila Lunardi.
O estudo foi feito por causa do Maio Amarelo -mês de conscientização sobre violência no trânsito.
A maioria dos internados -78%- é de homens. Entre todos os socorridos, 49% são adultos com idade entre 20 e 39 anos.
Mas a exposição ao risco no trânsito começa desde os primeiros anos de vida, aponta o texto das associações médicas, muitas vezes associada à ausência de equipamentos de retenção infantil, como cadeirinhas: 15% dos casos estão entre menores de 20 anos.
“Embora representem uma fatia menor em termos absolutos [9%], os idosos são mais vulneráveis à gravidade das lesões e à evolução desfavorável dos traumas”, diz o estudo.
Região com maior frota de veículos -59 milhões de unidades registradas em 2024, segundo a Senatran-, o Sudeste liderou o ranking de internações no ano passado, com 93 mil ocorrências. À frente do Nordeste (66 mil) e do Centro-Oeste (25,4 mil).
O estado de São Paulo, sozinho, responde por 387.991 das 747.757 internações na década.
“Como médicos, estamos profundamente preocupados com a preservação da vida e da saúde dos brasileiros. Ver tantos recursos sendo consumidos por tragédias evitáveis no trânsito é frustrante”, diz Meira Júnior.
Crédito: Fábio Pescarini / Jornal de Brasília com Folha Press – @ disponível na internet 9/5/2025