O Plano Brasil Soberano dá bons instrumentos para o enfrentamento do tarifaço, mas é insuficiente. Obrigará o país a algo que sempre teve imensa dificuldade em fazer: abrir o mercado
Se o governo tinha esperanças de que a crise que abala as conexões entre Brasil e Estados Unidos se amenizaria com a negociação para a suspensão ou a mitigação daquilo que restou do tarifaço, tem agora a certeza de que extrapolou a seara econômica e contaminou a política.
O Plano Brasil Soberano dá bons instrumentos para o enfrentamento da tempestade provocada por Donald Trump no comércio internacional e nas relações de confiança entre antigos aliados, mas é insuficiente. Isso obrigará o país a algo que sempre teve imensa dificuldade em fazer: abrir o mercado.
Das grandes economias mundiais, a brasileira é uma das mais fechadas, por conta, em grande parte, de um permanente desequilíbrio fiscal. Taxar importados é uma forma de arrecadação preguiçosa, mas eficiente. Há, porém, setores do empresariado brasileiro que se acostumaram a uma certa reserva de mercado e têm arrepios à simples menção da palavra “competitividade”.
Mantêm o país em descompasso tecnológico com as nações mais avançadas e, sempre que ameaçados, acenam com a redução de postos de trabalho, ante a hipótese de enfrentarem um rival importado melhor e mais barato. Como governo algum quer ser acusado de ser responsável por desaquecimento na produção e por maiores percentuais de desemprego, cede com mais concessões.
O trauma generalizado causado por Trump nas relações entre as nações, sejam comerciais ou diplomáticas, obrigará o governo e o empresariado brasileiros a encontrarem fórmulas que deem condições à abertura da economia nacional. E pelo óbvio motivo de que a busca de novas parcerias pressupõe disposição em receber aquilo que o outro país não tem para onde escoar. É simples entender: se quero aumentar meu fluxo de comércio, para compensar o que os EUA não mais me oferecem, preciso ser receptivo a um volume de produtos maior do que o que me satisfazia até então.
Isso, claro, mexe com o mercado e a produção interna. Alíquotas de impostos terão de ser revistas, burocracias precisarão ser suspensas, canais de escoamento passarão por melhorias, logísticas carecerão de mais eficiência. Representa que o fluxo de comércio dentro do país será profundamente afetado. A exigência aumentará, trazendo no bojo a necessidade de investimentos do Estado na ampliação dessa cadeia. Um Plano Brasil Soberano II, em adição ao recém-lançado, seria obrigatório.
Em recente entrevista, o empresário Lawrence Pih, maior produtor brasileiro de farinha de trigo, ousou dizer — para horror de economistas, parcela do empresariado e analistas de mercado — que o Brasil não precisa dos EUA para coisa alguma e que Trump, sem saber, nos dá a chance de intensificarmos as trocas com outros países e contornarmos rapidamente a barreira norte-americana. Advertiu que teremos de ceder mais do que estamos acostumados, mas frisou que, dessa maneira, daremos o salto de qualidade e de capacidade que há muito almejamos.
Crédito: Opinão / Correio Braziliense – @ disponível na internet 18/8/205