COP30: Consenso possível, frustração inevitável e o desafio brasileiro de liderar rotas para o futuro climático

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Última sessão plenária da COP30 teve atraso e interrupção após protesto de alguns países latinosFoto: Pablo Porciuncula/AFP

O encerramento da COP30, em Belém, deixou lições importantes, avanços pontuais e uma grande frustração: o texto final aprovado pelos países não incluiu qualquer menção à eliminação dos combustíveis fósseis, tema que mobilizou debates, protestos e forte articulação diplomática ao longo de toda a conferência.

Mesmo com o engajamento pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou a Belém no meio da semana para tentar destravar as negociações, a proposta brasileira — construída em conjunto com Colômbia, Reino Unido, França, Suécia e diversos países vulneráveis — não entrou no documento final.

Fósseis fora do texto e a promessa brasileira de uma rota paralela

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu a decepção geral e anunciou uma iniciativa inédita: a criação, fora do texto oficial, de dois “mapas do caminho”, a serem desenvolvidos durante a sua presidência até a próxima COP:

  1. Mapa para reverter o desmatamento

  2. Mapa para a transição global para longe dos combustíveis fósseis

A iniciativa tenta preencher o vazio deixado pela ausência do tema no texto final, resultado de forte resistência liderada por países produtores de petróleo, como Arábia Saudita, e apoiada por China e Índia.

Tensões, protestos e o impacto latino-americano

A conferência foi marcada por momentos de tensão. A sessão final chegou a ser suspensa após um protesto contundente da delegação da Colômbia, que acusou a presidência de ignorar seu pedido de fala.
O país liderou uma coalizão de mais de 80 nações pedindo a inclusão explícita da expressão “transição para longe de combustíveis fósseis”.

Chile, Peru, Uruguai, Panamá e outros países latino-americanos apoiaram o protesto, e o episódio quase levou parte das delegações a abandonar a plenária.

Um acordo possível — mas aquém do esperado

O pacote aprovado contém avanços importantes, como:

  • criação de um mecanismo de transição justa, aproximando a agenda climática da vida real, ao reconhecer desigualdades sociais no processo de descarbonização;

  • menção ao triplo financiamento para adaptação climática, tema crucial para países pobres e vulneráveis;

  • reconhecimento dos territórios indígenas, povos afrodescendentes, mulheres e meninas como grupos essenciais na agenda climática.

Ainda assim, organizações ambientais e países vulneráveis criticaram duramente o resultado, afirmando que o texto é insuficiente em mitigação e vago em financiamento, mantendo ambiguidade sobre metas a partir de 2025.

A frustração global com a ausência de um plano para os fósseis

Para cientistas, ambientalistas e diplomatas favoráveis à proposta de Lula, o recado é claro: não é possível enfrentar a crise climática sem reduzir o uso de petróleo, gás e carvão, responsáveis por mais de 80% das emissões globais de CO₂.

A ausência do tema no documento final foi definida como:

  • “Recusa de uma tarefa histórica” (WWF-Brasil)

  • “Frustração que contraria o consenso científico” (Carlos Nobre)

  • “Retrocessos para países vulneráveis” (delegações latino-americanas e insulares)

Participação histórica de povos indígenas

Em Belém, a COP30 registrou a maior presença indígena da história das conferências do clima: mais de 5 mil representantes, sendo cerca de 300 credenciados à zona azul.
Movimentos indígenas celebraram o reconhecimento de seus territórios como medidas essenciais de proteção climática, mas reivindicaram financiamento direto e maior participação nos mecanismos de decisão.

O que fica para 2026 e para a liderança brasileira

Apesar do desfecho frustrante, a COP30 consolidou a visibilidade internacional do Brasil e elevou as expectativas sobre seu papel na liderança climática global.
A decisão de Corrêa do Lago de elaborar os “mapas paralelos” mantém viva a pauta dos combustíveis fósseis — agora fora do texto da ONU, mas dentro de uma articulação diplomática liderada pelo país.

Entram na agenda até a próxima COP:

  • definição concreta dos dois “mapas do caminho”;

  • articulação com a ciência, sociedade civil e agências internacionais;

  • fortalecimento de alianças com países latino-americanos, europeus e vulneráveis;

  • ampliação da pressão por metas claras e financiamentos previsíveis.

A COP30 terminou com um acordo possível, mas não o acordo necessário.
A missão brasileira agora é transformar frustração em liderança — entregando, até 2026, rotas reais e factíveis para um futuro climático justo, seguro e sem dependência dos fósseis.

Diretoria Executiva do ASMETRO-SI 24/11/2025

Fontes consultadas
Próxima COP será realizada na Turquia, e a presidência será exercida pela AustráliaFoto: Pablo Porciuncula/AFP

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