
O encerramento da COP30, em Belém, deixou lições importantes, avanços pontuais e uma grande frustração: o texto final aprovado pelos países não incluiu qualquer menção à eliminação dos combustíveis fósseis, tema que mobilizou debates, protestos e forte articulação diplomática ao longo de toda a conferência.
Mesmo com o engajamento pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que retornou a Belém no meio da semana para tentar destravar as negociações, a proposta brasileira — construída em conjunto com Colômbia, Reino Unido, França, Suécia e diversos países vulneráveis — não entrou no documento final.
Fósseis fora do texto e a promessa brasileira de uma rota paralela
O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, reconheceu a decepção geral e anunciou uma iniciativa inédita: a criação, fora do texto oficial, de dois “mapas do caminho”, a serem desenvolvidos durante a sua presidência até a próxima COP:
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Mapa para reverter o desmatamento
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Mapa para a transição global para longe dos combustíveis fósseis
A iniciativa tenta preencher o vazio deixado pela ausência do tema no texto final, resultado de forte resistência liderada por países produtores de petróleo, como Arábia Saudita, e apoiada por China e Índia.
Tensões, protestos e o impacto latino-americano
A conferência foi marcada por momentos de tensão. A sessão final chegou a ser suspensa após um protesto contundente da delegação da Colômbia, que acusou a presidência de ignorar seu pedido de fala.
O país liderou uma coalizão de mais de 80 nações pedindo a inclusão explícita da expressão “transição para longe de combustíveis fósseis”.
Chile, Peru, Uruguai, Panamá e outros países latino-americanos apoiaram o protesto, e o episódio quase levou parte das delegações a abandonar a plenária.
Um acordo possível — mas aquém do esperado
O pacote aprovado contém avanços importantes, como:
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criação de um mecanismo de transição justa, aproximando a agenda climática da vida real, ao reconhecer desigualdades sociais no processo de descarbonização;
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menção ao triplo financiamento para adaptação climática, tema crucial para países pobres e vulneráveis;
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reconhecimento dos territórios indígenas, povos afrodescendentes, mulheres e meninas como grupos essenciais na agenda climática.
Ainda assim, organizações ambientais e países vulneráveis criticaram duramente o resultado, afirmando que o texto é insuficiente em mitigação e vago em financiamento, mantendo ambiguidade sobre metas a partir de 2025.
A frustração global com a ausência de um plano para os fósseis
Para cientistas, ambientalistas e diplomatas favoráveis à proposta de Lula, o recado é claro: não é possível enfrentar a crise climática sem reduzir o uso de petróleo, gás e carvão, responsáveis por mais de 80% das emissões globais de CO₂.
A ausência do tema no documento final foi definida como:
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“Recusa de uma tarefa histórica” (WWF-Brasil)
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“Frustração que contraria o consenso científico” (Carlos Nobre)
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“Retrocessos para países vulneráveis” (delegações latino-americanas e insulares)
Participação histórica de povos indígenas
Em Belém, a COP30 registrou a maior presença indígena da história das conferências do clima: mais de 5 mil representantes, sendo cerca de 300 credenciados à zona azul.
Movimentos indígenas celebraram o reconhecimento de seus territórios como medidas essenciais de proteção climática, mas reivindicaram financiamento direto e maior participação nos mecanismos de decisão.
O que fica para 2026 e para a liderança brasileira
Apesar do desfecho frustrante, a COP30 consolidou a visibilidade internacional do Brasil e elevou as expectativas sobre seu papel na liderança climática global.
A decisão de Corrêa do Lago de elaborar os “mapas paralelos” mantém viva a pauta dos combustíveis fósseis — agora fora do texto da ONU, mas dentro de uma articulação diplomática liderada pelo país.
Entram na agenda até a próxima COP:
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definição concreta dos dois “mapas do caminho”;
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articulação com a ciência, sociedade civil e agências internacionais;
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fortalecimento de alianças com países latino-americanos, europeus e vulneráveis;
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ampliação da pressão por metas claras e financiamentos previsíveis.
A COP30 terminou com um acordo possível, mas não o acordo necessário.
A missão brasileira agora é transformar frustração em liderança — entregando, até 2026, rotas reais e factíveis para um futuro climático justo, seguro e sem dependência dos fósseis.
Diretoria Executiva do ASMETRO-SI 24/11/2025
Fontes consultadas
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Deutsche Welle (DW) – “COP30 tira fósseis do acordo e Brasil promete rota paralela”, de Nádia Pontes. ww.dw.com/pt-br/cop30-tira-fósseis-do-acordo-e-brasil-promete-rota-paralela/a-74850573
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BBC News Brasil – “COP30: texto final frustra proposta de Lula e não traz rota para fim de combustíveis fósseis”, de Leandro Prazeres. www.bbc.com/portuguese/articles/cn0k2q18ykro













