De Bem com a Vida: 5 descobertas sobre o Alzheimer neste ano

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A ciência tem avançado nas descobertas sobre o diagnóstico e o tratamento do Alzheimer Foto: deagreez/Adobe Stock

5 descobertas surpreendentemente animadoras sobre o Alzheimer neste ano

De um exame de sangue ao papel inesperado do lítio, essas descobertas podem levar a um melhor diagnóstico e tratamento da condição que apaga as memórias

Assim como ocorre com muita gente, você pode sentir ansiedade em relação ao risco de desenvolver demência com o envelhecimento.

O risco ao longo da vida de desenvolver demência após os 55 anos é estimado em 42%, de acordo com um estudo de 2025 com mais de 15 mil participantes. O número de americanos desenvolvendo demência a cada ano deve aumentar de 514 mil em 2020 para cerca de 1 milhão até 2060.

(Em 2019, estima-se que havia 2,46 milhões de pessoas com 60 anos ou mais vivendo com demência no Brasil. Esse número deve subir exponencialmente nos próximos anos, e atingir 5,05 milhões, em 2039, e 8,74 milhões, em 2049.)

Mas houve avanços empolgantes no diagnóstico e nos tratamentos do Alzheimer — que responde por 60% a 80% dos casos de demência —, assim como na compreensão de suas causas biológicas e desenvolvimento. Aproximadamente metade dos casos de demência pode ser evitada ao lidar com fatores de risco já conhecidos, segundo um relatório da Lancet Commission de 2024.

Com esses avanços, é importante “pisar no acelerador e realmente intensificar esse trabalho”, avalia Ronald Petersen, professor de neurologia e ex-diretor do Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da Mayo Clinic College of Medicine and Science.

“Acho que estamos no limiar de causar um impacto significativo na qualidade de vida — na duração da vida saudável, não apenas na duração da vida em anos”, afirma.

Aqui estão alguns dos avanços mais promissores na pesquisa sobre demência em 2025.

1. Um exame de sangue para Alzheimer

Em maio, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou o primeiro exame de sangue capaz de detectar sinais das placas de beta-amilóide e dos emaranhados de tau — as marcas biológicas da doença de Alzheimer — com mais de 90% de precisão.

“Acho que esse biomarcador sanguíneo vai realmente revolucionar como diagnosticamos, quem pode ser diagnosticado e quem está fazendo o diagnóstico”, comenta Kristine Yaffe, professora e vice-chefe do departamento de psiquiatria da Universidade da Califórnia em San Francisco.

Por cerca de uma década, os médicos conseguiam medir o beta-amilóide com neuroimagem por PET ou identificar a formação de placas por meio de uma punção lombar que coleta líquido cerebrospinal. Mas “as tomografias por PET são caras e as punções lombares são invasivas”, esclarece Petersen. O novo exame de sangue pode ser realizado por um médico de atenção primária e representa o que alguns estão chamando de “democratização dos testes diagnósticos da doença de Alzheimer”, afirma.

Especialistas esperam que o exame de sangue torne o diagnóstico do Alzheimer mais acessível, barato e viável em áreas onde, de outra forma, seria difícil receber um diagnóstico clínico por falta de especialistas ou equipamentos médicos.

Na mesma época da aprovação do exame, a Associação de Alzheimer produziu a primeira diretriz clínica de diagnóstico baseada em robustas análises da literatura científica e incluindo exames de biomarcadores sanguíneos, comenta Heather Snyder, vice-presidente sênior de relações médicas e científicas da associação.

O exame de sangue mede dois biomarcadores-chave do Alzheimer. Um é a beta-amilóide, uma proteína que pode se dobrar de forma incorreta e criar placas pegajosas no cérebro. O outro é a p-tau217, uma versão anormalmente modificada da proteína tau que pode levar à formação de emaranhados prejudiciais.

Muitos biomarcadores já foram estudados, mas “a p-tau217 parece ser o mais informativo em relação à probabilidade de a pessoa ter a biologia subjacente da doença de Alzheimer”, nota Petersen.

Pesquisas mostram que o biomarcador p-tau217 pode servir como um sinal de alerta anos antes do desenvolvimento da doença.

A detecção precoce significa mais oportunidade para tratamento e intervenção antecipados, seja com medicamentos ou mudanças de estilo de vida.

Embora o acúmulo de placas de beta-amilóide e emaranhados de tau seja uma marca registrada do Alzheimer, um teste positivo não significa necessariamente que a pessoa tenha ou vá desenvolver a doença. (Pesquisas já encontraram que mais de 20% dos adultos com mais de 65 anos, cognitivamente preservados, têm resultado positivo para amiloide.)

Melhorias nos diagnósticos, como esse exame de sangue, também podem acelerar as pesquisas sobre tratamentos.

Ensaios clínicos que visam processos biológicos específicos podem recrutar de forma mais precisa pacientes que apresentem esses biomarcadores, diz Petersen.

No futuro, assim como fazemos exames de rotina para colesterol, poderemos ter um exame de sangue que avalie diferentes biomarcadores para criar um perfil único de risco de demência, permitindo um tratamento personalizado, informa ele.

2. Intervenções de estilo de vida podem levar à melhor cognição

Em julho, o maior ensaio clínico de intervenção em estilo de vida dos Estados Unidos descobriu que, ao focar simultaneamente em várias áreas — nutrição, exercício, treinamento cognitivo e monitoramento da saúde —, houve melhora nas medidas cognitivas dos participantes em risco de demência. Os que participaram do grupo mais estruturado tiveram resultados melhores do que os que se orientaram sozinhos.

O estudo, conhecido como U.S. POINTER, foi “um grande momento” e “culmina décadas de pesquisa que realmente fundamentaram a intervenção”, incluindo um ensaio anterior realizado na Finlândia, conta Heather, uma das autoras do estudo POINTER.

O importante é que “existem maneiras de reduzir seus fatores de risco para Alzheimer e outras demências” e “você pode realmente melhorar seu perfil de envelhecimento cognitivo”, destaca Kristine, que conduziu em 2024 um ensaio menor sobre redução de risco personalizada.

Por exemplo, um estudo publicado em agosto sugeriu que pessoas com maior risco genético de desenvolver Alzheimer por carregarem o gene APOE4 se beneficiam mais ao seguir a dieta mediterrânea.

O estudo POINTER deve trazer mais descobertas em breve. Cerca de metade dos participantes se voluntariou para fazer neuroimagem, e os dados sobre como essas mudanças de estilo de vida afetam o cérebro devem ser divulgados ainda este ano, informa Heather.

3. Crescente foco na inflamação

Embora a beta-amilóide continue sendo um alvo das pesquisas, os cientistas estão cada vez mais investigando o papel da inflamação no aumento do risco de demência. “O Alzheimer é uma doença complexa, e provavelmente não haverá uma única abordagem”, explica Heather.

De fato, um estudo publicado em julho descobriu que pessoas com o gene APOE4 compartilham muitas alterações no sistema imunológico, o que pode explicar sua suscetibilidade não apenas ao Alzheimer, mas também a outras doenças neurodegenerativas.

A inflamação e a disfunção imunológica atravessam diversos distúrbios neurodegenerativos, incluindo demência e Parkinson.

“Acho que há um grande esforço agora em torno da imunomodulação para Alzheimer e outras doenças degenerativas”, pontua Kristine, referindo-se a formas de modificar a atividade do sistema imunológico.

4. Vacinas podem reduzir o risco de demência

Uma das formas de modificar a atividade imunológica associada a menor risco de demência? Vacinas.

Recentemente, vários estudos em larga escala compararam os desfechos de pessoas vacinadas com as não vacinadas. Juntos, fornecem fortes evidências de que vacinas podem ajudar a reduzir o risco de demência.

Em abril, um estudo publicado na Nature acompanhou mais de 280 mil adultos no País de Gales e descobriu que a vacina contra herpes-zóster reduziu em 20% o risco de desenvolver demência em um período de sete anos. Em junho, outro estudo com mais de 430 mil adultos constatou que vacinas contra o herpes-zóster e contra o vírus sincicial respiratório (VSR) estavam associadas a menor risco de demência.

Existem duas hipóteses biológicas amplas para explicar essa ligação. Primeiro, vacinas poderiam reduzir o risco de infecções, que já foram associadas ao aumento do risco de demência. Segundo, a própria vacina pode ativar o sistema imunológico de uma forma benéfica.

Esses dois mecanismos não são mutuamente exclusivos e ambos podem desempenhar um papel, afirmaram os pesquisadores.

5. Uma nova ligação descoberta com o lítio

Em agosto, um estudo publicado na Nature relatou que o metal lítio pode desempenhar um papel protetor contra o Alzheimer. “A ideia de que o lítio é neuroprotetor já existe há algum tempo”, avisa Kristine, que não participou do estudo.

Em um cérebro saudável, o lítio ajuda a manter o funcionamento adequado dos neurônios. O carbonato de lítio também é usado no tratamento do transtorno bipolar.

O estudo, realizado em camundongos, descobriu que as placas de beta-amilóide aprisionavam o lítio, tornando-o menos eficaz. E baixos níveis de lítio produziam um ambiente inflamatório no cérebro, marcado por acúmulo acelerado de placas de beta-amilóide e emaranhados de tau.

Os pesquisadores relataram que pequenas doses de orotato de lítio poderiam reverter a doença e restaurar a função cerebral — apontando para uma terapia promissora a ser testada em humanos.

“Acho que a justificativa científica é convincente e interessante, mas precisamos realmente avaliá-la em ensaios clínicos para ver se pode ter utilidade terapêutica”, pondera Petersen.

Crédito:  Richard Sima (The Washington Post) / O estado de São Paulo – @ disponível na internet 26/9/2025

Este conteúdo foi publicado originalmente no The Washington Post. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. 

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