O presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou a negar nesta terça-feira que vá renunciar a seu mandato ou ao comando da Casa, e também rejeitou que esteja considerando a possibilidade de fechar uma delação premiada com a Justiça.
Aliados têm sugerido a Cunha que renuncie à presidência da Câmara, ao mesmo tempo em que surgiram especulações sobre uma eventual colaboração do parlamentar, investigado pela Lava Jato e réu em uma ação penal, com a Justiça.
“Não cometi qualquer crime, eu não tenho o que delatar”, disse a jornalistas nesta terça-feira.
Cunha convocou uma entrevista coletiva nesta terça-feira, após um período sem falar com a imprensa, alegando que queria dar a sua versão dos fatos.
Com o cerco se fechando cada vez mais, Cunha não poupou críticas a adversários, ao processo de cassação aprovado pelo Conselho de Ética da Câmara, e ao pedido de prisão oferecido ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
“Chega a ser ridículo”, disse.
Alvo de processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara, que se arrastava há cerca de sete meses, Cunha sofreu uma importante derrota na semana passada quando os integrantes do colegiado acataram um parecer contra ele. O presidente afastado da Casa é acusado de quebra de decoro parlamentar sob argumento de que teria mentido em depoimento à CPI da Petrobras no ano passado ao negar ter contas bancárias no exterior.
O parlamentar aproveitou a entrevista nesta terça-feira para anunciar que irá apresentar recurso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa contra a decisão do conselho e não descartou que outros deputados recorram à CCJ questionando a decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), que na segunda-feira retirou um pedido de consulta sobre o rito do processo de cassação cuja interpretação poderia beneficiar Cunha.
Também rejeitou as acusações de que teria aceitado o pedido de impeachment de Dilma Rousseff a partir de um desvio de finalidade, como alega a defesa da petista, argumentando que sua decisão já estava assinada e trancada no cofre antes do dia de sua divulgação.
Aproveitou para acusar o então chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, de ter prometido, em três encontros, votos do PT a favor de Cunha no Conselho de Ética, além de garantir que poderia ter o “controle” do presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), para evitar que Cunha aceitasse o pedido de impeachment contra Dilma.
Nessas conversas, segundo o deputado, o então ministro teria ainda sugerido que poderia interferir no STF para evitar que seu caso fosse desmembrado, o que resultaria no envio dos processos contra a sua esposa e filha para a primeira instância.
Cunha está afastado de suas funções desde o início de maio, quando o STF suspendeu seu mandato. Já é réu em uma ação penal e corre o risco de tornar-se réu pela segunda vez na quarta-feira, quando o Supremo deve analisar nova denúncia.
O pedido de prisão formulado por Janot permanece pendente no STF. Cunha tem um prazo para apresentar informações e alegações sobre o pedido, e só então será analisado no Supremo.
Ainda este mês, a Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio dos bens do presidente afastado, e da mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz, em resposta a uma ação de improbidade administrativa movida pela força-tarefa da operação Lava Jato.
A ação do Ministério Público Federal acusa o parlamentar de ter recebido propina na compra pela Petrobras de 50 por cento de um bloco petrolífero em Benin, na África.
Crédito: Reuters Brasil – disponível na web 22/06/2016
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