Ele deteve o cronômetro em 9,81 segundos e faturou sua terceira medalha olímpica consecutiva na prova masculina dos 100 metros rasos.
Muitos dizem que Usain Bolt não corre, voa. Ou que o jamaicano não é de carne e osso.
O programa Today, da rádio 4 da BBC, convidou um proeminente médico a assistir a final dos 100 metros e analisar os movimentos de Bolt, para entender o que acontece com o corpo do atleta durante a corrida.
Eis as explicações de John Brewer, diretor da Escola de Saúde Esportiva e Ciências Aplicadas da Universidade de St. Mary’s, na Inglaterra:
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
Para encarar uma prova como a final dos 100 metros rasos, corredores devem chegar recuperados da semifinal, realizada uma hora e meia antes, e realizar aquecimento, para assegurar que os músculos estejam flexíveis, quentes e elásticos, com menor possibilidade de lesão.
Esses músculos contêm o que chamamos fibra muscular de contração rápida: músculos fortes, poderosos e rápidos na contração, mas também de fácil fadiga.
A maioria de nós temos cerca de metade de músculos com fibras rápidas e metade com fibras lentas.
Mas o homem mais rápido do mundo tem 80% da musculatura composta por fibras rápidas.
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Os competidores dos 100 metros rasos, em geral, pesam entre 90 e 100 kg.
Por isso, quando passam pela etapa de aceleração da corrida, devem fazer contrações muito potentes dos quadríceps (coxas) para acelerar rapidamente o corpo.
Nesse ponto, contudo, eles ainda não estão em posição vertical: seguem correndo agachados, buscando exercer força horizontal para empurrar o corpo para frente e manter a resistência aérea em nível mínimo.

Logo os atletas chegam à fase de manutenção da corrida, quando alcançam a velocidade máxima: cerca de 45 km/h, o máximo que um ser humano pode atingir.
Nessa etapa eles se levantam, mas não ao máximo. E toda sua energia continua sendo anaeróbica.
Muitos nem se preocupam em respirar, já que isso os tornariam mais lentos. E nesta alta intensidade o oxigênio não importa.

O ácido lático (que se acumula nos músculos após esforço) está subindo, mas apesar disso precisam manter a velocidade, já que a linha de chegada está próxima.
Aqui é onde Bolt leva vantagem sobre seus rivais.
E 41 passadas depois, Usain Bolt cruza a linha de chegada para ganhar sua terceira medalha de ouro consecutiva nos 100 metros rasos.
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Ele criou uma alta porcentagem de energia anaeróbica, o que resulta em falta de oxigênio.
Por isso vemos que ele, como os outros atletas, respiram profundamente.
A frequência cardíaca começa a baixar e a se estabilizar, mas o ácido lático se deslocará dos músculos ao sangue, o que pode causar tonturas e náuseas.

Mas, claro, Bolt está eufórico e parece com bastante energia.
Isso ocorre pela liberação de endorfina, o ópio natural do corpo, que combate qualquer dor e fadiga e permite a Bolt aproveitar sua nova façanha olímpica.
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