Herói dos manifestantes que desde 2015 vão às ruas “contra a corrupção”, o juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, onde é responsável pelas investigações da Operação Lava Jato em primeira instância, foi flagrado em uma situação inusitada na noite de terça-feira 6. Em evento da revista Istoé, realizado em São Paulo, Moro apareceu gargalhando ao lado do senador Aécio Neves (PSDB-MG), uma das figuras que mais apareceu em delações premiadas na Lava Jato.
Por ser um juiz de primeira instância, Moro não poderia investigar Aécio, mas a boa convivência de entre os dois chama a atenção por conta dos diferentes perfis públicos. Em geral, Moro busca transmitir em suas aparições e manifestações uma imagem austera, exemplar de como um funcionário público engajado no combate à corrupção deve se postar.
Ídolo de manifestantes contra a corrupção, em especial a corrupção do PT, Moro se tornou uma espécie de reencarnação de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo alçado à condição de herói após liderar as condenações dos políticos envolvidos com o “mensalão”. Nos últimos meses, Moro vem se tornando uma figura messiânica e, no último domingo, um manifestante chegou a classificá-lo de “segundo filho” de Deus.
Aécio, ao contrário, é uma figura cuja imagem tem sido duramente afetada desde outubro de 2014, quando perdeu as eleições presidenciais para Dilma Rousseff. O tucano já foi citado por pelo menos cinco delatores diferentes da Lava Jato, entre eles o ex-senador Delcídio do Amaral; o doleiro Alberto Yossef; um de seus entregadores de dinheiro, Carlos Alexandre de ouza Rocha, o “Ceará” (ambos casos arquivados); do lobista Fernando Moura, ligado ao PT; e do ex-deputado do PP Pedro Corrêa.
Nos áudios gravados clandestinamente pelo ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, Aécio também aparece com destaque. ‘ Aécio está com medo” “, diz o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a Machado sobre a delação de Delcídio.
Em um outro trecho das gravações, Machado conversa com o também senador Romero Jucá (PMDB-RR) e pergunta: “Quem não conhece o esquema do Aécio”.
Mais recentemente, Aécio teria manobrado para aprovar, no Senado, o regime de urgência para a tramitação do pacote anticorrupção aprovado na Câmara, desfigurado pelos deputados. Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, Aécio foi o primeiro a articular a urgência da votação e o PSDB prometeu votos no requerimento, mas não cumpriu. Isso teria ocorrido por conta da forte reação contrária da sociedade e de alguns senadores no plenário.
No prêmio da revista Istoé, Moro foi eleito o “Brasileiro do Ano na Justiça”. O prêmio principal da noite, de “Brasileiro do Ano” em todas as áreas, foi para Michel Temer. Nenhuma surpresa. Nos últimos meses, a revista passou a adotar um tom laudatório para tratar Temer, e chegou a afirmar que o PMDB era a “nau mais segura” para “recolocar o País nos trilhos”.
Crédito: Coluna Parlatório da Revista Carta Capital – disponível na web 08/12/2016