Centrão pressiona e Temer adia anúncio de deputado tucano na equipe ministerial

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Escolha por Imbassahy é vista por líderes do antigo bloco de apoio a Cunha como interferência do Planalto na disputa pela Presidência da Câmara. “Seria inconveniente uma ação que poderia parecer ingerência ou ajuda para um dos lados. O que o governo menos precisa é de confusão”, ponderou Jovair Arantes, um dos candidatos ao comando da Casa

O antigo grupo de apoio ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara ameaça tirar o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), do páreo para assumir a Secretaria de Governo na gestão Michel Temer, posto vago desde a saída turbulenta de Geddel Vieira Lima, em 25 de novembro, sob denúncias de corrupção. Como este site mostrou mais cedo, o tucano ampliaria a influência do PSDB no Planalto, mas o chamado “centrão” reclamou da escolha e a interpretou como ingerência de Temer na disputa pela Presidência da Câmara, em fevereiro. Ou seja, a ação para agradar tucanos descontentes com o espaço no Executivo acabou por desagradar ao maior agrupamento naquela Casa legislativa, com cerca de 300 nomes.

No transcorrer desta quinta-feira (8), depois de noticiada a escolha de Temer, uma intensa mobilização foi posta em campo pelo centrão, levando ao adiamento do anúncio sobre o escolhido –embora Imbassahy ainda seja o provável novo ministro, o comando do Planalto entendeu ser melhor tentar resolver o foco de conflito na base aliada antes de formalizar a decisão. “A mobilização do centrão criou uma dificuldade. Mas a tendência é essa [o deputado baiano]”, comentou um auxiliar presidencial, segundo o site do jornal O Globo. “O presidente só não bateu o martelo. Ele pediu calma”, acrescentou outro assessor palaciano.

Temer agora tenta isolar a disputa pelo posto de Secretário de Governo das eleições para o comando da Câmara, função ora exercida pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), sucessor de Eduardo Cunha e também membro da base aliada. Nessa corrida estão pelo menos outros dois governistas, ambos membros do centrão: o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), e o presidente da comissão do impeachment na Casa, Rogério Rosso (PSD), um dos principais aliados de Cunha na tarefa de derrubar Dilma da Presidência da República.

Mais cedo, durante a tarde, líderes do centrão como Jovair e Aelton Freitas (PR-MG) se reuniram com o presidente Temer no Palácio do Planalto. O encontro serviu justamente para que os membros do centrão, que tem perdido espaço no governo desde a queda de Cunha, reclamasse da escolha do peemedebista. Na avaliação dos membros do grupo majoritário de partidos, nomear Imbassahy, também potencial candidato à Presidência da Câmara, significaria o Planalto chancelar a candidatura do próprio Rodrigo Maia à reeleição, embora o regimento interno e a Constituição proíbam a recondução do presidente na mesma legislatura.

Insatisfeito com a postura do governo, Jovair disse à reportagem de O Globo que este não é o momento  para Temer “arrumar confusão” com a preferência por Imbassahy. “O que eu sei é que foi feito uma sondagem ao Imbassahy, mas não é hora de o governo fazer esse tipo de coisa. O momento é delicado. Estamos numa meio de uma disputa na Casa, onde os dois grupos que discutem essa questão [eleição da Mesa] são da base do governo. Seria inconveniente uma ação que poderia parecer ingerência ou ajuda para um dos lados. O que o governo menos precisa é de confusão. Tenho certeza de que o presidente Michel Temer é muito equilibrado para fazer uma ação dessa”, ponderou o deputado goiano, com elogios a Imbassahy. “Seria um ministro excelente.”

Secretário-geral do PSDB, o deputado Silvio Torres (PSDB) também reclamou do governo – só que, no caso do tucano, contra o recuo sobre Imbassahy. Informado na manhã desta quinta-feira (8) de que a nomeação seria formalizada no mesmo dia, Torres questionou-se: “Como conseguem fazer tanta confusão”?

Tucanato

A escolha de um tucano para a equipe ministerial serviria para Temer ampliar a sua base de apoio no Congresso – e, consequentemente, reforçar as possibilidades de aprovação de medidas do ajuste fiscal em 2017, entre elas a reforma da Previdência, além das mudanças nas leis trabalhistas. A pasta que era de Geddel ganhará mais poderes e atribuições administrativas, além da articulação política com o Legislativo e outros segmentos políticos.

Se o escolhido for mesmo Imbassahy, a decisão terá um preço. Em troca de mais poder, o PSDB se comprometeu a apoiar a reeleição de Rodrigo Maia, apoiado pelo Planalto para continuar no cargo. Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) negociou o apoio do partido a Rodrigo Maia em troca de maior participação da legenda no governo Temer. Imbassahy seria o quarto ministro tucano no governo.

Hoje, o PSDB ocupa o ministério das Relações Exteriores com o senador José Serra, o ministério das Cidades com o deputado Bruno Araújo (PE) e a pasta da Justiça, ocupada por Alexandre de Moraes, ex-secretário de segurança de São Paulo e indicado pelo governador Geraldo Alckmin. Com 48 deputados e 12 senadores, o PSDB é a terceira bancada na Câmara e a segunda força no Senado. O partido já exerce forte influência na política econômica com a presença de importantes quadros na equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que é uma espécie de tucano do PSD.

Crédito: Congresso em Foco – disponível na web 09/12/2016

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