O presidente americano, Donald Trump, assinou na quarta-feira uma ordem executiva para que seja construída uma “barreira física intransponível” ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Ele disse que contratará 10 mil agentes de imigração para ajudar a intensificar a patrulha na fronteira.
“Uma nação sem fronteiras não é uma nação. Hoje os Estados Unidos começam a retomar o controle de suas fronteiras”, afirmou.
Erguer esse muro foi uma das principais promessas da campanha eleitoral de Trump. Mas o que se sabe até agora sobre as questões logísticas envolvendo a construção?
A fronteira entre os dois países tem mais de 3 mil quilômetros de extensão e atravessa todo o tipo de relevo, desde um deserto empoeirado até o terreno acidentado ao longo do Rio Grande.
Já há cerca de mil quilômetros de muros e cercas de concreto e outros tipos de barreiras erguidos, de forma descontínua, ao longo da fronteira.
Trump disse que o “novo” muro cobrirá 1.600 quilômetros e obstáculos naturais cuidarão do restante.
Durante a campanha, ele defendeu a construção do muro dizendo que este seria “melhor e muito mais poderoso do que uma cerca”.
Um muro contínuo tira da mesa a possibilidade de se usar opções relativamente mais baratas, como uma cerca alta de ferro ou telas de arame.
Concreto seria então a opção mais óbvia. O engenheiro Ali F. Rhuzkan, especializado em estruturas, estimou, em um artigo para a publicação National Memo, que um muro de cerca 3 mil quilômetros – como parece ser o plano original de Trump – precisaria de 950 milhões de metros cúbicos de concreto (o equivalente ao volume de água de 380 mil piscinas olímpicas).
O cálculo de Rhuzkan foi baseado em um muro que iria 1,5 metro abaixo da superfície e 6 metros para cima. Em entrevistas passadas, Trump disse que o muro teria 9 metros, em outra ocasião disse que teria 16.
A imensa quantidade de concreto necessária, de acordo com o engenheiro, teria de ser feita em forma de placas produzidas em fábricas nas proximidades da fronteira e serem transportadas para o local da construção. Assim, ele lembra que os custos de produção, transporte e funcionários também precisam entrar na conta.
Trump afirma que o custo total do muro estaria entre US$ 10 e US$ 12 bilhões (entre R$ 32 e 38 bilhões). Mas estimativas feitas por engenheiros parecem ser bem mais altas.
Os cerca de mil quilômetros de cerca já construída custaram ao governo mais de US$ 7 bilhões – e nenhuma parte dessa estrutura pode ser definida como alta, forte, poderosa e tampouco “intransponível”.
E há outras razões pelas quais os valores gastos podem ser maiores: o plano de Trump exige que o muro passe por áreas remotas e montanhosas, fazendo o custo crescer substancialmente.
Além disso, a barreira atravessaria áreas de propriedade privadas, acarretando custos para desapropriá-las.
Um levantamento para o jornal Washington Post calcula que o custo total sairia em US$ 25 bilhões.
Com quem ficará a conta?
Em uma entrevista veiculada na quarta-feira pela rede americana ABC, o presidente reafirmou que os EUA inicialmente financiariam o muro e que o México reembolsaria os Estados Unidos – sem especificar como.
“O que estou fazendo é bom para os EUA. E também será bom para o México. Queremos um México estável e sólido”, disse ele.
O presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, reiterou que seu país não vai pagar.
Até o momento não está claro como o governo americano faria o México pagar. Trump já sugeriu que uma das maneiras seria impedir imigrantes em situação ilegal de enviar dinheiro para seus familiares no México, usando legislação antiterrorismo.
Questionado se seria mesmo possível usar esse tipo de lei para obrigar o México a financiar o muro, Trump também citou outras opções, como elevar as taxas de pedidos de visto, cobrar mais para se atravessar legalmente a fronteira e implementar tarifas comerciais nas transações com o país vizinho.
Meio ambiente
A construção do muro também poderia afetar a vida animal na região. A fronteira é um ecossistema delicado pelo qual transitam animais e pássaros migrando do norte para o sul da América.
Algumas espécies precisam cruzar a fronteira para se acasalar, entre elas, espécies ameaçadas de ursos e jaguares.
E animais também são suscetíveis a qualquer fronteira artificial, tanto muros como estradas, ferrovias e todo tipo de infraestrutura construída pelo homem.
“A infraestrutura de fronteira não apenas bloqueia o movimento da vida selvagem, como destrói ou fragmenta habitats e a conexão que os animais usam para se movimentar de um lugar para outro”, explicou à BBC Sergio Avila-Villegas, do Museu do Deserto de Sonora, em Tucson, no Arizona.
A construção também traria um aumento na atividade humana na região e a presença de máquinas pesadas, trabalhadores e lixo, causando impacto no ecossistema.
Crédito: BBC Brasil – disponível na web 27/01/2017