Carne vencida e mascarada com produtos cancerígenos. Ministério afasta 33 servidores suspeitos de envolvimento na operação Carne Fraca.

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Carne vencida e mascarada com produtos cancerígenos: o escândalo que atinge as maiores empresas do Brasil.

Mudar a data de vencimento de carnes estragadas, maquiar seu aspecto ou usar químicos para mascarar seu mau cheiro – até mesmo em produtos usados na merenda escolar.

Esta são algumas das táticas ilegais que, segundo as autoridades do Brasil, cerca de 30 empresas de carne do país usavam para vender alimentos em mau estado de conservação, incluindo fornecedoras de grandes frigoríficos.

A Operação Carne Fraca, realizada nesta sexta-feira, revelou que as empresas JBS e BRF – que são as maiores do Brasil e estão entre as maiores exportadores mundiais de carne – também adulteravam a carne que vendiam no mercado interno e externo.

A operação foi a maior já realiza na história da Polícia Federal, segundo as autoridades. A investigação, que mobilizou 1.100 policiais em sete Estados, revelou uma extensa rede de subornos e propinas nos quais estariam implicados dezenas de inspetores do governo encarregados de garantir que os produtos cumpriam com as normas sanitárias.

 

CarneDireito de imagemREUTERS
Image captionCerca de 30 empresas estão sendo investigadas pela PF, incluindo as gigantes do setor, JBS e BRF, que negam irregularidades

As empresas negam que práticas de alteração tenham sido realizadas em seus produtos e dizem que estão colaborando com as investigações.

Carne sendo empacotadaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionO aspecto físico da carne vencida era maquiado com produtos químicos e ou injetado com água

Merenda escolar

A descoberta de que, no Paraná, alunos da rede pública estadual consumiram salsicha de peru sem carne – preenchida com proteína de soja, fécula de mandioca e carne de frango – deu início à investigação de dois anos.

“Inúmeras crianças de escolas públicas estaduais do Paraná estão se alimentando de merendas compostas por produtos vencidos, estragados e muitas vezes até cancerígenos para atender o interesse econômico desta poderosa organização criminosa”, disse o delegado da Polícia Federal Mauricio Moscardi Grillo.

As práticas fraudulentas incluíam alterar os rótulos e as datas de vencimento dos produtos, injetar água na carne para aumentar seu peso e tratar as carnes com ácido ascórbico, substância potencialmente cancerígena. A PF encontrou produtos com estas alterações em supermercados.

A liberação da carne vencida e adulterada era feita por fiscais do Ministério da Agricultura, que recebiam propina dos frigoríficos para afrouxar a fiscalização.

Segundo a PF, há provas de que as empresas falsificaram documentos para exportar a carne para a Europa, a China e o Oriente Médio.

A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas.

O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto em carne suína. As exportações em 2016 representaram 7,2% do comércio global do setor, segundo a agência EFE.

Ligações com a política

Michel TemerDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionParte da propina paga a funcionários do Ministério da Agricultura para relaxar a fiscalização das carnes ia para PMDB e PP, diz polícia

Na sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu 38 mandados de prisão, 34 deles para funcionários públicos, principalmente agentes sanitários. Também foram detidos quatro executivos de empresas, incluindo o gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos, o diretor da BRF André Luiz Baldissera e o funcionário da Seara, empresa da JBS, Flávio Evers Cassou.

Ao todo, foram 309 mandados judiciais, incluindo condução coercitiva e busca e apreensão.

Mauricio Moscardi afirmou também que “a investigação deixa bem claro que uma parte dos valores (das propinas) era revertida para partidos políticos”. O dinheiro, segundo ele, beneficou membros do PMDB e do PP, cujos nomes não foram citados.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, emitiu um comunicado no qual informou ter ordenado a suspensão de 33 funcionários do governo acusados de estar envolvidos no escândalo.

Crédito: BBC Brasil – disponível na internet 18/03/2017

Ministério afasta 33 servidores suspeitos de envolvimento

O secretário executivo do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Eumar Novaki, disse ontem (17) que as fraudes no processamento de carnes por algumas das maiores empesas do ramo alimentício do país, como JBS, BRF e Peccin, identificadas pela Operação Carne Fraca, são um “fato isolado” e que os consumidores podem “ficar tranquilos”.

Segundo o secretário, 33 servidores do órgão já foram afastados. De acordo com Novaki, a “maquiagem” de produtos vencidos foi verificada em carne de frango, mortadela, salsicha e há a suspeita de carne bovina. A fraude foi confirmada na unidade da BRF da cidade de Mineiros (GO) e nos frigoríficos de Jaguará do Sul (SC) e Curitiba, da empresa Peccin Agroindustrial. Os três estabelecimentos foram fechados pelo Ministério da Agricultura e passarão por “inspeção rigorosa”.

“São 21 SIFs [Serviço de Inspeção Federal], de quatro grupos econômicos, de um universo de 5 mil estabelecimentos. Isso demonstra que não é um fato cotidiano, mas um fato isolado, que não representa, de modo algum, a postura do Ministério da Agricultura”, afirmou Novaki. Segundo o secretário, em até 15 dias, o ministério apresentará um diagnóstico “preciso” sobre os produtos comercializados pelas empresas investigadas.

Mesmo afirmando que os consumidores podem ficar tranquilos quanto à procedência dos produtos, o secretário recomendou que a população fique atenta a possíveis sinais de má conservação.  De acordo com Novaki, o ministério está atuando para identificar e retirar do mercado lotes de produtos adulterados.

“O queremos dizer para a população é que fique absolutamente tranquila. Nosso sistema de fiscalização é um dos mais respeitados do mundo. Se perceberem qualquer problema, comuniquem ao Ministério da Agricultura, que tomaremos a providências.”

O secretário afirmou ainda que o ministério já vinha, desde o ano passado, tomando medidas para evitar falhas no processo de fiscalização e inspeção. Ele ponderou, no entanto, que é impossível impedir desvios individuais.

“Desde que chegamos, o ministro Blairo Maggi determinou que uma série de procedimentos fossem reestudados e mudados, entre eles, o de inspeção. São 33 servidores, em um universo de 11 mil do ministério, e de 2,3 mil da área de inspeção”, comparou.

Apesar das fraudes identificadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, Novaki assegurou que o sistema de vigilância sanitária brasileiros é “consolidado”, “robusto” e “aprovado por inspeções internacionais”. “Nenhum sistema está livre de má índole. Se tem uma pessoa operando com segundas e más intenções, haverá falhas. Estamos trabalhando para evitar fraudes”, disse.

Ao pedir que a população denuncie qualquer suspeita de produtos estragados ou com más condições para o consumo, o secretário não descartou a possibilidade da ocorrência de novas operações.  “Novas operações poderão vir porque tudo que estamos detectando de irregularidade no ministério estamos tomando providências administrativas e encaminhando  para o Ministério Público e para a PF. Estamos tomando as medidas para que isso não se repita no futuro.”

Exportações

Perguntado sobre o possível impacto nas exportações, já que o Brasil é o principal exportador de carne do mundo, o secretário executivo do Ministério da Agricultura disse que os países compradores também fiscalizam os produtos. Além disso, Novaki reiterou que os “fatos isolados” não podem comprometer toda a cadeia.

“Os produtos brasileiros estão presentes em mais de 150 países, e isso demonstra a qualidade dos produtos produzidos no país. Cada um dos países tem seu sistema de vigilância que atesta os produtos quando lá chegam. Portanto, se tiver problema, isso será acionado e será resolvido, e aquilo não será entregue.”

Saiba Mais

Justiça Federal no Paraná bloqueia R$ 1 bilhão dos maiores frigoríficos do país

Agência Brasil de Notícias – disponível na internet 18/03/2017

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