PF volta à UFSC e mira contratos de R$ 300 milhões. Reitor e vice-reitora da UFMG são alvo de condução coercitiva da PF

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Operação Torre de Marfim deflagrada nesta quinta-feira, 7, revela que Universidade Federal de Santa Catarina é alvo recordista de recomendações da Controladoria-Geral da União para correção de irregularidades.

 

A Polícia Federal, em trabalho com a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União, abriu nesta quinta-feira, 7, a Operação Torre de Marfim. A ação tem como objetivo apurar aplicação irregular de verbas públicas federais destinadas a projetos de pesquisa desenvolvidos por Fundações de Apoio da Universidade Federal de Santa Catarina.

Esta é a segunda vez este ano que os negócios da UFSC ficam sob suspeita. Em setembro, a PF esteve na Universidade, no âmbito da Operação Ouvidos Moucos, para apurar esquema que supostamente desviou recursos de cursos de Educação a Distância (EaD).

Em nota, a PF informou que cerca de 90 policiais federais e servidores do TCU e da CGU cumprem 20 mandados judiciais expedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis/SC, sendo 14 mandados de busca e apreensão e 6 mandados de condução coercitiva. Os mandados estão sendo cumpridos em Florianópolis/SC e Balneário Camboriú/SC.

As investigações da Torre de Marfim tiveram início em 2014 a partir de uma comunicação feita pelo gabinete da Reitoria da UFSC. Instruída com nota técnica e relatórios elaborados pela CGU, o documento analisava aparentes irregularidades em projetos de pesquisa desenvolvidos com uso verbas públicas federais firmados em 2003 e 2004.

Segundo a PF, dentre as irregularidades, os investigadores encontraram indícios de contratações de serviços sem licitação prévia, pagamentos realizados a empresas pertencentes a gestores de projetos, que estariam vinculadas a servidores da Universidade ou das Fundações de Apoio e até mesmo pagamentos efetuados a empresas fantasmas. Dois dos servidores investigados teriam movimentado cerca de R$ 300 milhões em contratos na coordenação de projetos e convênios entre os anos de 2010 a 2017. Durante este período foram identificadas diversas irregularidades quanto à execução orçamentária apontando para o desvio de verbas públicas e para a prática de outros crimes licitatórios.

Também chamou atenção dos investigadores, de acordo com a PF, Um contrato questionado pelo TCU, no qual um servidor aposentado da Universidade, que também foi gestor do projeto e teve sua própria empresa contratada por cerca de R$ 20 milhões, sem licitação.

Os investigados responderão, na medida de suas participações, por crime licitatório, peculato, e lavagem de dinheiro, bem como por atos de improbidade administrativa.

O nome Torre de Marfiml faz referência a um afastamento da principal finalidade do mundo acadêmico

A operação tem por objeto um conjunto de irregularidades na administração de recursos educacionais com verbas federais. A PF informou que ‘antes de serem levadas à apreciação do Ministério Público e do Poder Judiciário, essas irregularidades foram auditadas pelos órgãos de controle CGU e TCU’.

“As auditorias geraram recomendações solicitando a correção de práticas administrativas que poderiam levar ao mau uso do dinheiro público, o que não foi atendido pelos administradores”, diz a nota.

A UFSC, segundo informações da CGU, é a entidade recordista em recomendações para correção de irregularidades no estado de Santa Catarina, com cerca de 120 recomendações, quase o dobro do segundo colocado.

Crédito: Fabio Serapião, Fausto Macedo e Julia Affonso/O estado de São Paulo – disponível na internet 07/12/2017

Reitor e vice-reitora da UFMG são alvo de condução coercitiva da PF em operação contra desvio de recursos em BH

Jaime Arturo Ramirez e Sandra Goulart Almeida foram levados para a Superintendência da PF em Belo Horizonte; polícia apura desvio de R$ 4 milhões na construção do Memorial da Anistia Política.

O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaime Arturo Ramirez, a vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, e o presidente da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira, foram alvo de condução coercitiva pela Polícia Federal em uma operação na manhã desta quarta-feira (6), em Belo Horizonte.

Operação da PF investiga desvio na implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil
Operação da PF investiga desvio na implantação do Memorial da Anistia Política do Brasil

A operação “Esperança Equilibrista” apura um suposto desvio de cerca de R$ 4 milhões em recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil.

Viaturas da PF perto da reitoria da UFMG, em BH (Foto: Reprodução/TV Globo)
Viaturas da PF perto da reitoria da UFMG, em BH (Foto: Reprodução/TV Globo)

De acordo com a decisão judicial ao qual o G1 teve acesso, além dos atuais reitor e vice-reitora, também foram conduzidos coercitivamente as ex-vice-reitoras Rocksane de Carvalho Norton e Heloisa Gurgel Starling. Outras duas mulheres contratadas pela Fundep, Silvana Coser e Sandra Regina de Lima, também foram levadas para a Superintendência da Polícia Federal na capital mineira.

A assessoria de imprensa da UFMG disse, em nome da universidade, da Fundep, do reitor, da vice-reitora e da pesquisadora Sandra Regina de Lima, que não pode se manifestar “sobre os fatos que motivam a investigação em curso”, por se tratar de uma investigação sigilosa. A Universidade disse ainda que vai contribuir com as investigações, “dada a transparência com que lida com as questões de natureza institucional, a UFMG torna público que contribuirá, como é sua tradição, para a correta, rápida e efetiva apuração do caso específico”.

O advogado de Heloísa Starling não quis falar com a imprensa na saída da PF. A professora deixou o prédio por outra porta.

G1 tenta contato com a defesa da ex-vice-reitora Rocksane de Carvalho Norton.

A investigação

O delegado Leopoldo Lacerda (segundo da dir. para a esq.) detalhou a operação que investiga desvio de recursos na UFMG (Foto: Raquel Freitas/G1)
O delegado Leopoldo Lacerda (segundo da dir. para a esq.) detalhou a operação que investiga desvio de recursos na UFMG (Foto: Raquel Freitas/G1)

De acordo com o delegado da Polícia Federal Leopoldo Lacerda, o inquérito aponta que, até o momento, teriam sido gastos mais de R$ 19 milhões na construção do memorial e pesquisas de conteúdo, mas, de acordo com a polícia, “o único produto aparente é um dos prédios anexos, ainda inacabado”.

Segundo o delegado, os R$ 4 milhões foram desviados para outras contas da Fundep, mas que as investigações vão apontar para quais projetos. Ainda conforme Lacerda, os bolsistas também podem ter sido vítimas do golpe e eles serão ouvidos posteriormente.

A Polícia Federal disse ainda que vai investigar como o restante do dinheiro – R$ 15 milhões – foi usado. Ainda segundo a polícia, outro indício de fraude está ligado à publicação de um livro que não tem relação com o projeto. A PF também investiga uma possível editora fantasma.

Ao todo, foram cumpridos nesta quarta-feira sete mandados de condução coercitiva – quando o suspeito é levado para depor – e 11 de busca e apreensão. Um mandado de condução coercitiva não foi cumprido porque a pessoa, que não teve o nome divulgado, não foi encontrada. A operação conta com 84 policiais federais e 15 auditores da Controladoria-Geral da União (CGU).

Servidores protestam na PF em apoio ao reitor

Professores da UFMG protestam em frente a sede da Polícia Federal (Foto: Raquel Freitas/G1)
Professores da UFMG protestam em frente a sede da Polícia Federal (Foto: Raquel Freitas/G1)

Professores e funcionários da UFMG foram à sede da Polícia Federal para se manifestar a favor dos servidores da UFMG que foram conduzidos coercitivamente. Eles pediam que os professores fossem soltos e escreveram no asfalto “a UFMG luta”. Os manifestantes comemoraram a saída do reitor da Superintendência da PF.

“Estamos vivendo um momento [político] complexo, delicado, um momento que a gente pode chamar de exceção. Saindo de nossas casas correndo para vir dizer que nós estamos indignados com isso que ocorreu hoje com a direção da UFMG. É um sinal desse momento que estamos vivendo”, disse a professora da Faculdade de Medicina Eli Iola Gurgel.

Para a ex-ministra e professora da UFMG Nilma Lino Gomes, a operação é um “ataque à democracia” e “não é um caso isolado”. “A UFMG resiste e nós resistiremos junto com ela”, afirmou.

A vereadora Áurea Carolina (PSOL), mestre pela UFMG, considera que a operação é uma violência simbólica. “O ataque à universidade pública, ainda mais em um projeto que trata da apresentação de uma pesquisa sobre a memória e a verdade em relação ao período da ditadura militar, é uma violência simbólica, uma violência física também contra as pessoas que foram conduzidas coercitivamente.(…) Eles querem que a população brasileira desconheça a história ditadura militar. Querem apagar as marcas da tortura e da repressão”, disse.

Professores da UFMG protestam em frente à sede da Polícia Federal (Foto: Raquel Freitas/G1)
Professores da UFMG protestam em frente à sede da Polícia Federal (Foto: Raquel Freitas/G1)

Ex-reitores se manifestam

Onze reitores e vice-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) assinaram carta nesta quarta-feira (6) em repúdio à ação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria Geral da União (CGU). “Repudiamos inteiramente o uso da condução coercitiva e mais ainda a brutalidade e o desrespeito com que foram tratados o Reitor e a Vice-Reitora, as ex-Vice-Reitoras e outros dirigentes e servidores da UFMG, em atos totalmente ofensivos, gratuitos e desnecessários”, dizem no texto. Os ex-gestores falam ainda em desrespeito e reiteram a confiança na UFMG e nos atuais reitores.

Crédito: Raquel Freitas e Fernando Zuba, G1 MG e TV Globo – disónível na internet 07/12/2017

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