Prestes a ter que trocar pelo menos mais 12 ministros que pretendem ser candidatos a algum cargo na eleição de outubro, Temer tem chamado líderes e presidentes de partidos para deixar claro que quem quiser ficar terá que apoiar o candidato do governo.
Um emedebista da cúpula partidária admitiu que essa é mesmo a estratégia: quem ficar agora deve ficar até o final. “É a base para a eleição”, disse.
O recado foi recebido, mas mal digerido pela base.
“Eu estive com o presidente na semana passada e ele me disse isso também, mas não me disse quem é (o candidato)”, disse à Reuters o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. “Apoiar um poste não dá, né?”
O Solidariedade tem, desde o início, trabalhado pela candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que seria uma das alternativas a candidato da base. No entanto, o próprio presidente da Câmara e seu partido, o DEM, já afirmaram que não serão o “candidato do governo”.
“Vamos esperar para ver quem é esse candidato então. Só dá para ter opinião sobre isso quando a gente souber quem é”, disse Paulinho, que, na reunião do DEM que lançou a candidatura de Maia, foi o mais efusivo dirigente partidário a defender o nome do presidente da Câmara ao Palácio do Planalto.
O governo trabalha desde o ano passado com a ideia de manter a base unida em torno de um candidato de “centro” na eleição presidencial, mas tem tido dificuldades por absoluta falta de nomes viáveis.
As alternativas até agora —o próprio Temer, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e Maia— não conseguiram decolar nas pesquisas.
O fraco desempenho dos centristas tem levado os partidos da base a olharem para todos os lados para descobrir onde podem se colocar melhor para as próximas eleições.
No lançamento da pré-candidatura de Maia ao Planalto, por exemplo, apareceram presidentes e líderes de todos os partidos da base. PP, Solidariedade e PSD conversam não só com Maia, mas com o tucano Geraldo Alckmin. O mesmo ocorre com o PRB, que estaria negociando até a possibilidade de uma vice na chapa presidencial do senador Álvaro Dias (PR), do Podemos.
“O presidente foi muito claro em dizer que quem for indicar ministro vai ter que apoiar o candidato do governo. Mas quem é esse candidato? Como é que eu vou dizer para o partido que vamos apoiar alguém que a gente nem sabe quem é?”, disse à Reuters um presidente de partido que esteve esta semana com Temer.
Um dos presidentes partidários ouvidos pela Reuters perguntou a Temer se ele próprio poderia ser candidato. Ouviu que dependeria da reação das pesquisas e do resultado da intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Questionado se o candidato governista poderia ser Meirelles, Temer também deixou a alternativa no ar.
“Fica difícil comprometer um apoio sem saber quem seria o candidato não é?”, disse a fonte.
De acordo com essa fonte, seu partido ainda vai se reunir para decidir o que fazer.
ESPERAR PARA VER
Temer estaria planejando fazer as mudanças entre os dias 3 e 4 de abril, três dias antes do prazo máximo de desincompatibilização.
“O meu feeling é que a maior parte dos partidos que ainda estão na base vai topar só para esperar para ver. Se esse candidato do governo se viabilizar, ou se for a mesma opção do partido, tudo bem. Se não então o governo que troque o ministro depois”, disse.
O presidente do PTB, Roberto Jefferson, disse que Temer ainda não teve qualquer tipo de conversa com ele sobre atrelar a participação do partido no primeiro escalão do governo a um apoio à candidatura presidencial patrocinada pelo Planalto.
“Não acho que vai ter esse tipo de conversa, faca no peito”, disse. Se houver, avaliou, o PTB vai ter que decidir o que fazer. “Vamos esperar para ver o que acontece”, limitou-se a dizer.
Jefferson afirmou que o caminho do PTB é apoiar em outubro a candidatura do governador de São Paulo e presidente do PSDB, Geraldo Alckmin, e que mesmo uma candidatura do próprio Temer ou de Meirelles não deve mudar essa disposição.
“Não vamos refluir nessa posição (de apoiar Alckmin)”, destacou. “Acho muito difícil virar isso, não dá”, completou ele.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, tem recebido dirigentes partidários nos últimos dias para saber se a respectiva legenda quer permanecer na pasta e qual seria o nome. Essa triagem vai nortear a reforma ministerial do governo.
Esta semana, porém, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, admitiu que o Planalto pode acabar fazendo duas reformas ministeriais: uma em abril, para a desincompatibilização, e outra em julho, quando as candidaturas e coligações forem confirmadas.
“Mesmo com pré-candidaturas, partidos que se mantém na base podem manter ministérios. Lá na frente, já com candidaturas, o governo deverá ter que unificar o seu discurso em torno de um candidato”, disse Marun.
“Acontecerá uma reforma necessária no início de abril e no futuro talvez sejam necessários ajustes para que os governo tenha uma unidade.”
Crédito: Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito/Reuters Brasil – disponível na internet 10/03/2018