Quanto aos casos suspeitos, o ministério pede atenção para os seguintes sintomas: febre, conjuntivite, manchas vermelhas na pele, tosse e coriza. Nos quatro dias após o início dos sintomas, essas pessoas devem ser isoladas para evitar contaminar as pessoas ao redor.
“Casos suspeitos devem ser imediatamente notificados às autoridades de saúde, pois é possível tomar medidas para evitar a disseminação da doença para as pessoas que convivem com o doente”, explica o infectologista Bruno Oliveira, médico do Hospital Materno Infantil de Brasília.
A BBC News Brasil ouviu autoridades sobre transmissão do vírus do sarampo e imunização, e responde às principais dúvidas sobre o assunto.
O Brasil está com surto de sarampo?
Sim, segundo documento emitido em março pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O surto no Brasil, por enquanto, se concentra nos Estados Amazonas e Roraima, mas o vírus já começou a se espalhar para outras regiões: no Rio de Janeiro, 2 casos já foram confirmados e outros 14 são investigados. Sete casos já foram confirmados no Rio Grande do Sul, além de 2 casos no Mato Grosso e 1 em São Paulo. No total, são 995 casos de sarampo registrados no Brasil entre 1º de janeiro e 23 de maio, sendo 475 confirmados, com 3 mortes.
O sarampo era considerado erradicado nas Américas desde 2016, segundo certificado emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Como prevenir o sarampo?
Existem medidas de prevenção contra o sarampo, mas a imunização por meio das vacinas é a única medida eficaz contra o sarampo. Por isso, o Ministério da Saúde busca vacinar 95% da população de 6 meses a 49 anos.
Além das vacinas, as pessoas podem adotar demais medidas, como: higienizar as mãos com água e sabão antes das refeições, antes de tocar os olhos, a boca e o nariz, assim como após tossir, espirrar, ir ao banheiro ou cumprimentar pessoas. Ao tossir e espirrar, deve-se proteger a boca e o nariz com lenços descartáveis e nunca espirrar nas mãos; caso não tenha um lenço descartável, recomenda-se espirrar no antebraço, próximo ao cotovelo. Evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados são outras medidas de prevenção contra a transmissão do sarampo.
Sarampo mata?
De acordo com Oliveira, sim. “O sarampo pode se apresentar de forma extremamente grave, principalmente no que diz respeito aos sistemas respiratório e nervoso central, podendo causar a morte.”
O sarampo é uma doença infecciosa grave, extremamente contagiosa, que pode afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, que não tenha anticorpos contra a doença.
Entre as várias complicações que o vírus pode causar estão a pneumonia e as alterações neurológicas, como convulsões, confusão mental, alucinações, fraqueza e perda de sensibilidade. Essas complicações costumam ser mais severas em crianças desnutridas e menores de um ano de idade.
A doença também pode deixar sequelas graves para o resto da vida. “As mais comuns são as neurológicas e podem ocorrer durante a doença ou até vários anos após a infecção”, informa o médico infectologista.
Qual o nome da vacina a tomar contra sarampo?
São duas as vacinas contra sarampo: a tríplice viral, que também protege contra os vírus da rubéola e da caxumba, e a tetravalente viral, que inclui a imunização contra um quarto vírus, a varicela, conhecida como catapora.
Onde posso encontrar a vacina?
Tanto a vacina tríplice viral como a tetravalente viral estão disponíveis o ano todo nas Unidades Básicas de Saúde, de graça e para toda a população. Também há a possibilidade de tomar essas vacinas em clínicas particulares, mas não de maneira gratuita. Tanto na rede privada como no SUS, os componentes das vacinas contra o sarampo são os mesmos.
Posso pegar sarampo por meio da vacinação?
A pesquisadora da FioCruz explica que as vacinas contra sarampo são feitas a partir do vírus enfraquecido e, por isso, o risco do vacinado ser infectado pela vacinação não passa de 2%.
“Esta hipótese de contrair o sarampo na vacinação é pouco provável, pois os estudos com a vacina mostraram soroconversão (produção de anticorpos) de 98% a 100% dos vacinados”, afirma Noronha.
Grávidas podem tomar vacina contra sarampo?
Não. “Gestantes não devem receber a vacina e há indicação de se evitar a gravidez por pelo menos 28 dias após a vacinação porque ocorre o risco teórico de efeitos maléficos para o feto, apesar desse risco nunca ter sido provado na prática”, afirma o médico Oliveira. A dica para as gestantes que nunca tomaram as vacinas contra o sarampo é se vacinarem no pós-parto, para proteger o recém-nascido indiretamente, por meio da amamentação, e evitarem contrair o vírus.
Bebês podem tomar vacina contra sarampo?
Sim, mas somente os bebês a partir dos seis meses de vida podem ser vacinados contra o sarampo.
Tomei uma dose na infância. Estou protegido?
Não. “Quem não tomou duas doses a partir dos 12 meses de vida não está adequadamente protegido, ainda está com algum nível de suscetibilidade. Em caso de dúvidas se está ou não totalmente protegido, o melhor é revacinar-se”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai.
Todos podem se vacinar?
Não. Dois grupos não devem tomar a vacina tríplice viral sem prescrição médica: grávidas, conforme explicado acima, e pessoas com a imunidade baixa.
“A vacina contra o sarampo não é recomendada para indivíduos com o sistema imunológico comprometido por alguma doença ou medicamento, que podem desenvolver o sarampo a partir do vírus vacinal, uma vez que a vacina é elaborada a partir de vírus enfraquecidos”, completa Ballalai.
Qual a idade correta para tomar vacina?
A tríplice viral deve ser tomada aos 12 meses de vida. Já a tetravalente viral deve ser tomada aos 15 meses.
“Pelo Programa Nacional de Imunizações, os adultos até os 29 anos de idade deverão receber duas doses com a vacina tríplice viral. Pessoas de 30 a 49 anos de idade devem receber uma dose”, explica a epidemiologista Tatiana Noronha, pesquisadora da unidade Bio-Manguinhos, da FioCruz, uma das produtoras da vacina tríplice viral.
É proibido em alguma idade tomar vacina para sarampo?
Sim, recém-nascidos e bebês abaixo dos seis meses de vida não devem tomar nenhuma das vacinas contra o vírus.
Com a exceção acima, caso não tenha sido imunizada na idade correta, qualquer pessoa poderá tomar a tríplice viral, não há limite de idade, apesar do alerta do Ministério da Saúde ser até os 49 anos. A explicação para o limite anunciado pelo ministério é que pessoas com 50 anos ou mais já podem ter entrado em contato com o vírus e, por isso, estarem imunes ao sarampo.
“Uma dose poderá ser recomendada aos idosos, mas fica a critério médico, levando-se em consideração o histórico do paciente”, explica Noronha.
Já tive sarampo. Preciso me vacinar?
Pega-se o sarampo apenas uma vez na vida: quem já foi infectado pelo vírus, nunca mais terá a doença.
“A infecção por sarampo gera proteção para a vida inteira”, explica Ballalai. “Mas, antes de tomar a decisão de não se vacinar, é preciso ter certeza absoluta de que teve sarampo, porque outras doenças têm sintomas bastante parecidos. Mais uma vez: em caso de dúvida, o melhor é se vacinar, uma vez que não há qualquer risco de sobrecarga no organismo”, alerta a especialista.
A vacina tem efeitos colaterais?
Segundo Ballalai, os efeitos colaterais são raros, mas podem acontecer entre cinco a 21 dias após a vacinação, principalmente na dose da vacina tríplice viral.
“A vacinação pode causar sintomas leves semelhantes ao da doença: febre alta com cinco dias de duração em 5% a 15% dos vacinados; manchas vermelhas no corpo com cerca de dois dias de duração em 5% dos vacinados; gânglios inchados já foram observados em menos de 1% dos vacinados; dor de cabeça, irritabilidade, febre baixa, lacrimejamento e vermelhidão dos olhos também ocorreram em até 4% dos vacinados”, destaca a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, lembrando que reações locais, como ardência, vermelhidão, dor e nódulos também podem ocorrer por ser uma vacina injetável.
Como se transmite o sarampo?
A transmissão do vírus do sarampo pode ocorrer de duas maneiras: direta, de pessoa a pessoa, entrando em contato com secreções expelidas ao tossir, espirrar, falar; e indireta, por meio do ar: como o vírus pode ficar muito tempo suspenso no ar, não é preciso entrar em contato direto com o doente, basta estar no mesmo ambiente que ele para ser infectado.
Existe tratamento para o sarampo?
Segundo Oliveira, não há tratamento especifico contra o vírus do sarampo. “Há apenas tratamento de suporte para as sequelas que a doença pode deixar”, afirma.
O médico explica que os doentes devem ficar em repouso, ter uma alimentação balanceada, ingerir muito líquido e evitar aglomerações e ambientes fechados para não infectar outras pessoas.
Por que o sarampo voltou?
Porque o vírus ainda circula em grande quantidade em várias regiões da Europa e da América, e voltou a circular no Brasil com as migrações e as viagens internacionais. Ou seja, voltamos a importar o vírus.
Além de voltar a circular no Brasil, o vírus se aproveitou na baixa imunização dos brasileiros, que deixaram de se vacinar e vacinar seus filhos nos últimos anos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal no Brasil da tríplice viral chegou aos 100% de 2004 a 2011, mas começou a decair desde então.
Segundo dados do Datasus analisados pela BBC News Brasil, a segunda dose da vacina contra o sarampo não bate a meta de vacinação, de 95%, desde 2012. Em 2016, apenas 76,74% das crianças com 15 meses de vida foram imunizadas.
Por que algumas pessoas pararam de tomar vacina?
Em entrevista à BBC News Brasil, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde Carla Domingues garantiu que não há explicação clara para a diminuição da cobertura vacinal da tríplice viral nos últimos anos no Brasil, uma vez que não houve redução da oferta ou desabastecimento da vacina no país.
Para a coordenadora, a explicação pode estar em um possível esquecimento das pessoas sobre algumas doenças, antes frequentes no país, mas hoje controladas e menos visíveis.
“A população de adultos de hoje precisa lembrar que sarampo e poliomielite matam. E se não matarem, deixarão sequelas graves para o resto da vida, como a paralisia infantil, a surdez, a cegueira, problemas neurológicos, etc.”, afirmou Domingues.