De acordo com ela, a discussão busca iniciativas para não perder essa cientista que virou mãe, “porque são talentos que podem contribuir para a ciência e que a gente perde se não fizer alguma coisa”.
Na matemática, Carolina destaca que existe uma sub-representação das mulheres. “No Brasil somos menos de 25% dentre os pesquisadores em matemática, em outros países a situação é ainda mais extrema. Parte do que a gente está fazendo aqui é tentando entender quais são os principais problemas, as principais dificuldades e discutir iniciativas, programas, políticas que possam ajudar a reverter essa situação”.
Segundo ela, a sub-representação é tão presente que, apenas em 2003, uma mulher foi aceita para ocupar um lugar no Comitê Executivo da União Internacional de Matemática (IMU), Ragni Piene. Apenas em 2014 uma mulher foi contemplada com a Medalha Fields, considerada o prêmio Nobel da matemática, a iraniana Maryam Mirzakhani. Morta no ano passado, vítima de câncer de mama, Maryam foi homenageada no (WM)² com uma exposição de painéis que mostram fotos inéditas da pesquisadora e seu trabalho.
Incentivo para mulheres na matemática
Dados da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) – aplicada a estudantes de ensino fundamental e médio – mostram que a participação de meninas e meninos na prova são paritárias, inclusive entre os 5% que passam para a segunda fase da competição. Porém, entre os medalhistas, apenas 30% são meninas no nível 1 (6º e 7º anos) caindo para 20% no nível 2 (8º e 9º anos) e apenas 10% no nível 3 (ensino médio).
“Esses números são gritantes, mostra que alguma coisa precisa ser feita. A Obmep traz um diagnóstico da situação, ela também se apresenta como uma ferramenta muito potente para a gente mudar, porque a Obmep consegue teracesso ao país todo, tem uma rede que conecta o país todo, então ela pode ser também uma ferramenta pra gente propor essas mudanças”, diz Carolina.
Igualdade racial
O (WM)² também promove o incentivo com recorte racial. Um grupo de 20 matemáticas negras recebeu apoio do Instituto Serrapilheira para participar do encontro. Segundo a diretora de divulgação científica do instituto, Natasha Felizi, o fomento à produção e divulgação científica precisa levar em conta a diversidade de gênero e raça.
“Essa é uma parcela muito grande da população e quando você exclui essa parcela da população, você está perdendo muitos talentos e muitos cérebros que poderiam contribuir para o desenvolvimento da ciência no Brasil. Porque as pesquisadoras elas existem, mas por ocuparem menos posições de prestígio e serem menos visíveis, a gente tem a impressão que existem menos do que existem de fato”.
A ideia, de acordo com Natasha, é incentivar garotas a entrar para carreira científica a partir da divulgação de figuras inspiradoras que sirvam de modelo. “Não é só no Brasil, uma das bandeiras que a gente considera é a da representatividade, são os role models. Ao apoiar ações como essa, a gente procura mostrar para garotas, meninas e potenciais futuras cientistas que existem outras mulheres nessas carreiras e que esse é um caminho possível para elas também”.
Segundo um levantamento divulgado no fim do ano passado pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), a primeira mulher a obter um doutorado em matemática no país foi Marília Chaves Peixoto, em 1948, seguida de outras duas pioneiras no campo, Maria Laura Mouzinho Leite Lopes e Elza Furtado Gomide, que obtiveram o título em 1949.
Atualmente, a participação das mulheres na matemática do Brasil é comparável a de muitos países da Europa e da América do Norte, com cerca de 42% dos estudantes de graduação e 48% dos que terminaram a faculdade na área. Na pós-graduação, cerca de 27% dos graus são obtidos por mulheres. Entre os professores das universidades federais e estaduais, elas somam cerca de 40%.
Agência Brasil de Notícias 01/08/2018