A campanha Outubro Rosa de 2016 foi um marco na vida da fisioterapeuta Andréa Fidalgo. Foi graças a uma mobilização naquele mês, no estúdio de pilates onde dava aula, que ela, então com 37 anos, decidiu fazer exames de mama. O resultado foi a detecção de dois tumores na mama esquerda, do tipo carcinoma ductal in situ. O choque inicial foi grande, mas Andréa viu a situação como um “copo meio cheio”: um câncer em estágio inicial, que não chegou a invadir veias e linfáticos, de tratamento mais fácil.
O diagnóstico foi confirmado em janeiro de 2017, e a carioca se tratou até setembro, primeiro com cirurgia para retirar ambos os seios e depois com quimioterapia.
— Brinco que foi meu ano sabático — diz ela

A parte mais cansativa foi a quimio. Ao todo, ela fez cinco sessões, com intervalo de 21 dias entre cada uma. Foram poucas, mas o suficiente para que todo cabelo caísse. A angústia de acordar por vários dias com fios espalhados pelo travesseiro foi alta. A decisão de raspar foi difícil. Mas, uma vez careca, a aflição passou. E a filha de Andrea, Sofia, foi essencial nesse processo.
— Passei a usar peruca e lenços e vi que o cabelo não tinha a importância que normalmente se dá a ele. O que queria era ficar viva, por mim mesma e também por minha filha. Hoje ela tem 10 anos e, na época, me deu muita força — lembra a carioca.
Quase 60 mil novos casos
Andréa faz parte de uma multidão no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a previsão é de que 59.700 pessoas no país descubram um tumor maligno de mama em 2018. Este é o segundo tipo de câncer mais comum no sexo feminino, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
Para jogar luz sobre o assunto, a mais recente edição do Encontros O GLOBO Saúde e Bem-estar, que aconteceu na última quarta-feira, discutiu a evolução nos métodos de diagnóstico da doença. O evento, uma realização do jornal com patrocínio do Cepem (Centro de Estudos e Pesquisas da Mulher), teve curadoria do cardiologista Cláudio Domênico e mediação da jornalista Josy Fischberg.
— O Sul e o Sudeste são as regiões com mais incidência de câncer de mama.É que a população dessas áreas tem hábitos alimentares piores; faz menos exercícios; bebe mais álcool; enfrenta mais poluição; e tem mais disponibilidade de mamógrafos — lista Domênico.
Especialistas convidados, o diretor do Cepem, Henrique Pasqualette, e o ex-presidente da Sociedade de Mastologia do Rio de Janeiro, Roberto Vieira, destacaram a importância do diagnóstico precoce. É isso o que leva à cura em cerca de 95% dos casos.
— Se o tumor tiver até 1mm, não conseguimos detectar por mamografia. De 1mm a 1cm, dá para detectar. A partir de 1cm, o paciente já consegue sentir o tumor ao tocar a mama — explicou Pasqualette. — Isso significa que, se é possível apalpá-lo, ele já está grande.
Essa constatação põe em xeque a eficácia do autoexame,outrora tido como principal mote do Outubro Rosa. Mas Roberto Vieira lembra que, embora o melhor cenário seja o diagnóstico por exames de imagem, esta ainda não é a realidade para toda a população brasileira.
— O autoexame, hoje, é desvalorizado em países desenvolvidos, porque, se você apalpa o tumor, isso significa que ele existe há dez anos. O ideal é você poder detectar um nódulo microscópico. Mas, em países ainda em desenvolvimento, com populações muitos pobres e em regiões de difícil acesso, o autoexame ainda se mostra fundamental — destaca ele.
Segundo os especialistas, mulheres que têm histórico de câncer de mama na família ou que nunca engravidaram devem ficar especialmente atentas. Alguns tipos de tumores são genéticos. Logo, enquanto as mulheres que não têm parentes com casos confirmados são aconselhadas a começar a fazer mamografia aos 40 anos de idade, as que têm pessoas próximas com ocorrências (mãe ou avó, ou então homens próximos com câncer de próstata) devem começar aos 25 anos. E, como o câncer de mama “se alimenta” de hormônios, as mulheres que já tiveram filhos e amamentaram têm uma proteção hormonal maior do que as que não são mães
Exames de precisão
Hoje, além da mamografia, já existe uma “versão evoluída” dela: a tomossíntese mamária. É um aparelho em que o exame de cada mama dura entre 4 e 7 segundos, e alguns modelos permitem que a própria paciente regule a intensidade de compressão da mama.
— A tomossíntese possibilita ainda mais imagens do que a mamografia. Por isso está se tornando o novo método mundial de rastreio — afirmou Henrique Pasqualette
Com os exames de imagem mais precisos, as indicações para biópsia estão mais fidedignas. Se em 1989, de cada cem biópsias realizadas, apenas dez se confirmavam como sendo câncer, hoje o número subiu para 50.
— Fazemos, assim, menos biopsias desnecessárias — diz Pasqualette.
Ele afirma, ainda, que, antes de a paciente realizar qualquer exame de mama, é bom ter dois cuidados: não usar desodorante ou talco — para garantir boa qualidade de imagem — e marcar o exame para logo depois da menstruação. Se a mulher fizer antes, a mama tende a ficar dolorida.
Crédito: Clarissa Pains/O Globo – disponível na internet 27/10/2018

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