O professor de economia do Insper Otto Nogami disse à Agência Brasil que a nova equipe deverá adotar medidas menos intervencionistas do que a anterior.
“A gente começa a observar, principalmente dentro da estrutura interna do Ministério da Fazenda, uma gradativa mudança do pensamento econômico. Nós estamos saindo de uma característica mais keynesiana, que seria mais intervencionista, com uma forte participação do Estado na atividade econômica, para um pensamento liberal muito bem claro e definido.”
O coordenador da graduação em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, destaca a adoção de uma “política ortodoxa” cuja preocupação está no equilíbrio das contas públicas e o controle da inflação. “Então é uma equipe, como a do governo atual, que se precisar, pode aumentar os juros, sim, para reduzir o nível de inflação. É o que a gente chama de política ortodoxa.”
Articulação política
Nogami disse que para ter sucesso a nova equipe também precisará trabalhar em conjunto com bons articuladores políticos. “Há a necessidade que essa equipe construa uma ligação mais estreita com o Congresso. Haveria necessidade que essa equipe tivesse alguém com facilidade de trânsito dentro do Congresso Nacional para ir articulando nos bastidores essas necessidades que a equipe vai exigir.”
Para Sampaio, a tendência é de Paulo Guedes defender a redução do papel do Estado. “O Paulo Guedes tem um perfil mais agressivo, ele é muito mais liberal. Na prática não vai mudar muito. Muita coisa tem que ter aprovação, tem que passar pelo Congresso”, disse. “No [setor] público você não faz o que você quer, faz o que você pode. Talvez isso seja um choque de realidade para ele.”
Sampaio acrescentou que um teste de fogo para o novo governo será a negociação em torno do acordo para aprovar a reforma da Previdência. Para ele, alterações nas regras de aposentadoria teriam de ser feitas já no início do governo. “Passar a reforma, além de aliviar a questão fiscal, ela dá um sinal importante. Dá um sinal político de apoio ao governo. Seria muito estratégico para eles conseguirem isso no primeiro ano.”
Continuidade
Sampaio e Nogami destacam ainda que há semelhanças entre os nomes atuais do governo Michel Temer e os escolhidos por Bolsonaro. “O Roberto Campos é muito parecido em termos de carreira com o Ilan [Goldfjan, atual presidente do Banco Central]”, analisou Sampaio.
Para Nogami, a decisão de manter Mansueto de Almeida como secretário do Tesouro Nacional é uma sinalização de continuidade. “A própria manutenção do Mansueto alinha bem nessa direção.”
Agência Brasil de Notícias 17/11/2018