Quem é Roberto Castello Branco, futuro presidente da Petrobras

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Ex-membro do conselho administrativo da Petrobras, o economista Roberto Castello Branco deve voltar à empresa como presidente no ano que vem, por indicação do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

A informação foi confirmada pela assessoria do futuro ministro responsável pela economia, Paulo Guedes, nessa segunda-feira. Guedes, que é amigo de Castello Branco, recomendou a indicação a Bolsonaro e sua assessoria disse que o convite foi aceito.

Crítico à intervenção do Estado na economica, Castello Branco é defensor da privatização não só da Petrobras, mas de outras empresas estatais.

Em junho deste ano, após a demissão de Pedro Parente da presidência da petroleira durante a greve dos caminhoneiros, Castello Branco escreveu um artigo no jornal Folha de S.Paulo defendendo que “é inaceitável manter centenas de bilhões de dólares alocados a empresas estatais em atividades que podem ser desempenhadas pela iniciativa privada.”

O economista se tornou como membro do conselho administrativo da Petrobras em 2015, por indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas ficou pouco tempo, saindo em 2016.

Atualmente, Castello Branco é diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV (Fundação Getúlio Vargas), onde tem doutorado. Seu pós-doutorado foi feito na Universidade de Chicago, nos EUA, entre 1977 e 1978, com apoio de bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Economista liberal

A universidade é muito conhecida por ser um dos berços do neoliberalismo – a escola de Chicago, vertente de pensamento econômico neoliberal, foi disseminada por alguns professores da instituição e embasou a política econômica de administrações como a de Margaret Thatcher na Inglaterra, a de Ronald Reagan nos Estados Unidos e a da ditadura de Augusto Pinochet, no Chile.

Castello Branco foi professor da FGV e depois presidente executivo do grupo educacional Ibmec (1981 e 1984). Ele e Paulo Guedes são amigos desde essa época, já que o futuro ministro da economia, que também fez pós-gradução em Chicago, foi um dos fundadores da instituição de ensino.

Depois disso, em 1985, Castello Branco atuou no Banco Central durante o governo de José Sarney. Foi diretor de diversas instituições financeiras nos anos seguintes, até assumir o cargo de economista-chefe da Vale do Rio Doce (atual Vale), em 1999, empresa onde ficou por 15 anos.

Também participou do Conselho Diretor de várias entidades de classe ligadas ao mercado de capitais, mineração, comércio internacional e investimento direto estrangeiro.

Castello Branco fez críticas à política econômica do governo para óleo e petróleo quando ainda era membro do conselho consultivo da Petrobras. Em 2015, disse à agência Reuters que as regras nacionais favorecem a formação de carteis. Na mesma entrevista, ele criticou a política de exploração do pré-sal.

Mais recentemente, no mesmo artigo da Folha de S.Paulo em que defende a privatização da Petrobras, Castello Branco também afirma que “precisamos de várias empresas privadas competindo nos mercados de combustíveis”, embora reconheça que “a principal fonte de diferenciação de preços (do diesel) entre países são impostos e subsídios”.

No mesmo artigo, ele também criticou o “desenvolvimentismo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento”, dizendo que ele gerou um “excesso de oferta de fretes rodoviários”, que, segundo ele, foi o fator gerador da grave dos caminhoneiros.

O atual presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, deve continuar no cargo até a nomeação formal do novo presidente. Ele chegou a ser cotado para continuar no cargo no ano que vem, mas decidiu recusar.

Crédito: BBC Brasil – disponível na internet 20/11/2018

Escolha de novo CEO da Petrobras indica continuidade de reformas no setor de petróleo

A indicação do economista Roberto Castello Branco para presidir a Petrobras no governo de Jair Bolsonaro sinaliza continuidade de uma política pró-mercado no setor de petróleo nos últimos anos, podendo até mesmo intensificá-la, na avaliação de especialistas.

Ferrenho defensor da independência da gigante estatal em relação ao governo, tendo até já se declarado favorável à privatização da companhia anteriormente, Castello Branco terá que lidar com oposições de sindicatos e possivelmente de militares para implementar suas ideias.

Uma agenda com viés mais liberal, no segmento de petróleo, vem ganhando força desde o início do governo de Michel Temer, que colocou uma série de reformas em curso em busca de maior competição no país, com redução da posição de dominância da Petrobras, atendendo a pleitos antigos do mercado.

“Fiquei muito satisfeito (com a escolha de Castello Branco). Ele tem uma agenda conhecida, muito alinhada com o que vem sendo feito pela ANP”, disse o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) à Reuters, Decio Oddone, por telefone nesta segunda-feira.

Castello Branco é doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e, atualmente, é diretor no Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV.

Com pós-doutorado pela Universidade de Chicago e extensa experiência nos setores público e privado, Castello Branco já ocupou cargos de direção no Banco Central e na mineradora Vale, fez parte do Conselho de Administração da Petrobras e desenvolveu projetos de pesquisa na área de petróleo e gás.

A Universidade de Chicago, também frequentada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é considerada uma instituição de linha liberal.

As ações da Petrobras mostravam alguma volatilidade após o anúncio do nome de Castello Branco. Analistas de mercado acreditam na continuidade de uma gestão com foco na recuperação econômica da petroleira, uma das mais endividadas do mundo.

MAIOR LIBERALIZAÇÃO?

A estratégia da equipe econômica de Bolsonaro já estava apontando em uma direção de maior liberalização do setor de petróleo e com a escolha de Castello Branco isso foi reforçado, afirmou o professor e pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ, Edmar de Almeida.

Almeida defendeu, no entanto, que o governo precisará deixar mais clara sua visão em relação à companhia, uma das maiores produtoras da América Latina, que durante as eleições ficou na linha de fogo entre posições de conselheiros militares de Bolsonaro e de livre mercado.

Enquanto Bolsonaro vem defendendo a manutenção do controle estatal do miolo da Petrobras, seu braço direito Guedes já disse anteriormente acreditar que a privatização da empresa seria a melhor decisão.

“Ele (Castello Branco), por exemplo, em algumas ocasiões, já manifestou a posição dele favorável à privatização da Petrobras. Então, esse é um ponto que tem que ser imediatamente esclarecido”, disse Almeida.

Em busca de reduzir sua enorme dívida, a Petrobras está realizando um plano bilionário de vendas de ativos nos últimos anos, que enfrentou grande resistência de sindicalistas e outros setores, que em parte conseguiram frear os desinvestimentos com medidas judiciais.

“Com a entrada de Castello Branco o sinal é que a direção é essa mesmo (de venda de ativos), mas o governo agora vai ter que explicar o plano que estará em vigor, se será mantido ou se será modificado no sentido de ser mais liberal ainda”, afirmou Almeida, para quem o novo CEO enfrentará forte oposição de sindicalistas.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta segunda-feira, Castello Branco indicou que sua gestão continuará com vendas de ativos da Petrobras para focar em seus negócios principais e seguirá buscando a redução do endividamento.

POSTURA DE CHANCELER

O primeiro desafio de Castello Branco em relação à independência do governo poderá ser o fim do programa de subsídio ao diesel, criado como uma resposta do governo federal à histórica greve de caminhoneiros em maio, como forma de atender aos pleitos de redução dos preços do combustível.

Bolsonaro, à época, apoiou entusiasticamente a greve.

O programa termina em 31 de dezembro, e o governo de transição ainda não anunciou se irá implementar alguma medida para suavizar os impactos do fim da subvenção.

Uma fonte próxima a Castello Branco disse à Reuters que o economista tem traquejo muito bom, é uma pessoa experiente e que saberá lidar de forma eficiente com o governo.

“Roberto tem certa postura de chanceler”, disse a fonte, defendendo ainda que o economista é considerado também muito focado, estudioso, preparado e extremamente comprometido.

“Fez um trabalho brilhante na Vale, pegou área de relações com investidores naquela fase pós-privatização, quando houve o lançamento das ações no exterior, época do primeiro ‘investment grade’ da Vale”, disse a fonte, destacando que o grau de investimento foi algo inédito, obtido antes mesmo do Brasil.

OPOSIÇÕES

O diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP), que compreende 12 sindicatos de petroleiros, Deyvid Bacelar, afirmou ver o cenário atual preocupante, independentemente do presidente escolhido, por acreditar que o próximo governo já manteria as privatizações da Petrobras.

“A situação da privatização, com o governo que infelizmente foi eleito, iria continuar a todo vapor. Tem que ver a velocidade agora, se será mais rápido ou não”, disse Bacelar, que foi Conselheiro da Petrobras na mesma época de Castello Branco.

O líder sindical destacou que, enquanto dividiu a mesa do Conselho da Petrobras com Castello Branco, viu no economista uma pessoa acessível e que considerava ponderações apresentadas por Bacelar, que representava os funcionários no colegiado.

Bacelar também recordou que Castello Branco teve um papel importante na criação de comitês que discutiam e assessoravam decisões do Conselho de administração da Petrobras.

“Sabemos dos desafios por ser um governo neoliberal e por ele (Castello Branco) também concordar com essa forma de gerir o país. Teremos um desafio grande, sem dúvida nenhuma”, disse Bacelar.

Crédito: Marta Nogueira/Reuters Brasil – disponível na internet 20/11/2018

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