Por que a desaceleração da economia global não deve ter ‘impacto forte’ sobre o Brasil

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A atual desaceleração da economia mundial não deve ter forte impacto no processo de retomada do crescimento no Brasil, já que o país, se fizer reformas, poderá crescer acima das previsões, na avaliação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

“No caso do Brasil, os fatores domésticos são muito mais importantes para o crescimento econômico do que a conjuntura internacional”, disse à BBC News Brasil Jens Arnold, economista da OCDE responsável pelas análises sobre o Brasil.

“O Brasil precisa fazer reformas. O país não está crescendo de acordo com o seu potencial”, destaca o economista, citando como reforma prioritária a da Previdência, para garantir a sustentabilidade das contas públicas.

Nos cálculos da OCDE, a economia brasileira poderia crescer, em média, 1,4 ponto percentual a mais se reformas estruturais forem feitas. Entre outras medidas que podem aumentar o potencial de crescimento do Brasil, na avaliação da OCDE, estão a fiscal e ações que permitam o aumento da produtividade industrial e maior abertura comercial.

Notas e moedas do Brasil
Para OCDE, fatores internos são mais importantes para o crescimento da economia brasileira do que a desaceleração da economia mundial. Direito de imagem GETTY IMAGES

“Se houver um choque de reformas, os benefícios para a economia brasileira serão muito importantes”, diz ele.

Segundo nota divulgada pela organização na segunda-feira, as principais economias mundiais mostram sinais de desaceleração. A OCDE já havia alertado, no final do ano passado, que os países precisam se preparar para “tempos mais difíceis”.

Como a participação do Brasil no comércio internacional é baixa, a desaceleração da economia mundial e o clima atual de tensões protecionistas – sobretudo entre Estados Unidos e China, principais parceiros do Brasil – não devem ter impacto significativo no crescimento do PIB brasileiro, na avaliação de Arnold.

“Os principais problemas e desafios do Brasil são de natureza doméstica”, afirma o economista. “O que ocorrerá em relação à formulação das políticas econômicas internas será muito mais importante para o país do que o cenário internacional.”

No entanto, o crescimento mais lento da economia mundial pode afetar os fluxos de capital internacional investidos no Brasil, diz ele.

Jair Bolsonaro em cerimônia de posse no Congresso
Aprovação de reformas no Congresso vai exigir capacidade política do novo governo. Direito de imagem GETTY IMAGES

Implementação de reformas

Segundo Arnold, a euforia nos mercados no Brasil, com a bolsa batendo recordes nos últimos dias, tem ocorrido porque agora há o sentimento, por parte dos investidores, de que a implementação das reformas vai avançar em ritmo mais rápido.

Em seu último relatório com previsões para a economia mundial, divulgado em novembro, a OCDE diz que a fragmentação política no Brasil, em razão do grande número de partidos, poderia dificultar a aprovação das reformas.

Neste documento, a OCDE estimou que o PIB brasileiro irá crescer 2,1% em 2019. O relatório Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, projeta alta de 2,57% do PIB em 2019.

“Temos de ver quantas das intenções (do novo governo) vão ser de fato implementadas”, afirma o economista.

O próximo estudo da OCDE com previsões para a economia mundial será divulgado em abril. Segundo Arnold, as projeções apontam “uma aceleração gradual do crescimento do PIB brasileiro neste ano, supondo avanços na agenda de reformas.”

Fachada Previdência Social
Uma das principais reformas que devem ser votadas no governo Bolsonaro é a da Previdência. Direito de imagem GETTY IMAGES

Desaceleração de grandes economias

Em nota divulgada na segunda-feira sobre os Indicadores Compostos Avançados (ICA), a organização destaca que eles “continuam apontando uma desaceleração do crescimento na maior parte das grandes economias.”

O ICA é formado por um conjunto de indicadores, como produção industrial e preço das ações, e procura antecipar os picos econômicos, levando em conta um índice de 100 pontos, utilizado como referência para o nível de atividade econômica.

No caso do Brasil, o ICA em novembro, de acordo com o documento divulgado na segunda-feira, foi de 102,1, o mais elevado entre os 38 países do estudo. Poucos são os países, como Brasil, Índia e Chile, que ultrapassam ou atingem o índice de 100 pontos, o que é positivo.

O índice do Brasil em novembro ficou praticamente estável, com queda muito leve, de apenas 0,07%, em relação ao mês anterior, de acordo com a nota.

Na variação anual, no entanto, o ICA do Brasil caiu 0,31%. O ICA do país vem caindo desde abril do ano passado (quando havia atingido 103.29), segundo a OCDE, que sinalizou neste documento uma tendência de leve desaceleração da economia brasileira.

Mas será necessário aguardar até abril, quando será divulgado o estudo intermediário sobre a economia mundial, para saber os números que a OCDE projeta em relação ao crescimento do PIB brasileiro neste ano e em 2020.

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