Previdência: Bolsonaro terá que lidar com o “apetite” dos deputados

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Batido o martelo sobre a idade mínima para a aposentadoria – 65 anos para homens e 62 para mulheres –, um dos principais pontos do projeto de reforma da Previdência, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) terá, a partir de agora, uma das etapas mais delicadas – e complicadas – a cumprir: o convencimento do Legislativo de que esse é o caminho correto a percorrer.

A tarefa será realmente árdua, a julgar pelas declarações do líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO). Nessa quinta-feira (14/2), ele afirmou que o governo ainda não tem base naquela Casa para votar – e aprovar – a reforma. O que fazer para garantir o apoio dos aliados? Waldir foi objetivo: “entregar cargos e emendas”.

Embora o líder tenha negado que a base queira o velho toma lá dá cá, a verdade é que o apetite por “cargos e emendas” coloca uma faca no pescoço do governo: ou isso ou nada. O deputado Waldir prefere falar em diálogo. “Não é uma troca, é diálogo. É uma escolha de o governo fazer isso ou não. Mas os parlamentares só vão garantir a governabilidade se eles participarem do governo, porque, se não, todo mundo é independente aqui”, ressaltou.

Coube mais uma vez ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o papel de mediador dos interesses do Legislativo e do Palácio do Planalto. Também nessa quinta ele garantiu que vai procurar, no fim de semana, o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, antes que o texto da reforma da Previdência seja apresentado ao parlamento.

Na pauta do bate-papo, além das reivindicações dos parlamentares, estão as propostas que os governadores querem incluir na reforma chancelada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. “É bom que a gente ainda pode conversar um pouco. Para que a gente possa colocar um pouco da opinião dos governadores e para que, com esse diálogo, a gente tenha um texto que já vá apresentando um consenso entre prefeitos e governadores”, disse Maia.

Laranjas no caminho da reforma
Não bastasse essa queda de braço com a Câmara, Bolsonaro ainda tem que lidar com o desgaste que o seu secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, vem enfrentando, acusado de usar candidatas laranjas na eleição de 2018 para desviar recursos públicos.

O presidente já teria colocado o “braço direito” Bebianno para andar na prancha, quando teria aprovado a atitude do filho Carlos Bolsonaro de chamar o ministro de “mentiroso” nas redes sociais, mas novamente Maia buscou interceder. O deputado teria ligado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para enviar um recado a Bolsonaro: se o ministro da Secretaria-Geral da Presidência cair, pode atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Globo, Maia argumentou que, ao exonerar Bebianno, principal aliado durante a campanha, o presidente indicaria que não honrará compromissos com o Congresso. A interlocutores, o presidente da Câmara avaliou que, depois de entregar a aprovação da reforma da Previdência, Bolsonaro não hesitará em sufocá-lo politicamente, caso também entre em rota de colisão com os filhos.

Bebianno já deu a entender que, se cair, cairá atirando. E também endereçou recados ao presidente. “Eu imagino que ele esteja com esse medo [do caso da candidata laranja respingar nele]”, “O presidente não morrerá presidente” e “Não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado” são algumas das frases que ele tem plantado na imprensa.

Anéis ou os dedos
Ou seja, Jair Bolsonaro terá que ser “salomônico” para sair com o mínimo de desgaste desse imbróglio, que põe em lados opostos seu filho Carlos e Bebianno, além de ter que usar de muito jogo de cintura com a turma dos “cargos e emendas”. Talvez tenha que entregar os anéis (o que os deputados cobram) para salvar os dedos (a reforma da Previdência)

Crédito: Carlos Estênio Brasilino/Metrópoles – disponível na internet 15/02/2019

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