O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na manhã desta quinta que iria fechar o acesso à fronteira de seu país com o Brasil a partir dessa noite para evitar a passagem dos comboios de ajuda humanitária organizados pelo autodeclarado presidente interino do país, Juan Guaidó, para o próximo sábado. Maduro ameaçou fazer o mesmo com a fronteira com a Colômbia.
Dentro do governo brasileiro, a decisão anunciada por Maduro levou a discussões sobre se o Brasil deveria suspender a operação de levar material humanitário até a fronteira, contou uma fonte palaciana. No entanto, em reuniões durante a tarde, o Palácio do Planalto decidiu manter o planejamento como está.
“O planejamento por parte do governo brasileiro permanece o mesmo, se houver a disponibilidade de meios e motoristas por parte dos venezuelanos”, afirmou o porta-voz.
Não há até agora, acrescentou, “possibilidade de fricção” na região de fronteira e a situação é de normalidade. “As tropas brasileiras permanecem em operação de normalidade. Há pouco falei com o comandante e a fronteira estava aberta e com o fluxo normal”, garantiu.
Rêgo Barros deixou claro, ainda, que a ação do governo brasileiro é apenas até a fronteira e caberá aos venezuelanos encontrar um meio de cruzar a fronteira com o material arrecadado no Brasil.
De acordo com uma fonte venezuelana ouvida pela Reuters, a operação pelo lado deles também está mantida, aguardando o material que será doado pelo Brasil. Motoristas e caminhões venezuelanos estariam sendo preparados. A fonte não soube responder, no entanto, como essa travessia será feita com a fronteira fechada a partir desta noite.
“Como fará Maduro com as grandes massas de gente tratando de entrar no país?”, foi a resposta à pergunta da Reuters.
Até agora, no entanto, não existiriam caminhões venezuelanos do lado brasileiro da fronteira. Da mesma forma, as doações brasileiras —23 toneladas de leite em pó e 500 kits emergenciais de saúde, saídos de Porto Alegre e Brasília— só devem chegar a Roraima nesta sexta-feira.
Segundo o porta-voz, até agora também não há informações de doações de outros países chegando ao território brasileiro.
GRUPO DE LIMA
O porta-voz confirmou, ainda, a ida do vice-presidente Hamilton Mourão e do chanceler Ernesto Araújo à reunião de líderes do Grupo de Lima, em Bogotá, chamada emergencialmente para a próxima segunda-feira para tratar da Venezuela.
Mourão informou que terá uma reunião no domingo pela manhã com o presidente Jair Bolsonaro, antes de embarcar para Bogotá.
“O recado na Colômbia será dado após a reunião que eu vou ter com o presidente no domingo de manhã. Nós teremos que aguardar os acontecimentos de sábado na Venezuela”, disse o vice-presidente.
“O Grupo de Lima mantém essa pressão política. A pressão política por meio da ação diplomática para levar ao atual governante da Venezuela, o Maduro, compreender que é necessária uma saída para o país.”
No início da noite, o ministro das Relações Exteriores anunciou que irá já na sexta-feira a Cúcuta, na Colômbia, para participar de evento organizado pelo presidente do país, Ivan Duque, para entrega da ajuda humanitária a Venezuela. No sábado, irá a Roraima, por determinação de Bolsonaro, acompanhar a tentativa de entrega da ajuda humanitária pelo lado brasileiro.
O governo brasileiro demorou a reagir oficialmente ao anúncio de Maduro, no início da tarde. Apenas no início da noite, através do porta-voz, houve uma posição oficial do Planalto.
De acordo com Rêgo Barros, Bolsonaro se reuniu durante a tarde com os ministros do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, da Secretaria de Governo, Alberto Santos Cruz, e da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas a informação não constava da agenda oficial do presidente até a noite.
Em Brasília, o governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), disse recear pelo abastecimento de energia do Estado, lembrando que a Venezuela é responsável por metade disso.
Para Mourão, um eventual corte de envio de energia da Venezuela para Roraima “é possível, mas não é provável”, já que um dos poucos recursos recebidos pelo país vizinho vem do que o Brasil paga por essa energia consumida.
Crédito: Lisandra Paraguassu/Reuters Brasil – disponível na internet 22/02/2019