“Eu vejo a substituição como algo natural”, diz Abraham ao assumir MEC

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, empossou, na tarde desta terça-feira (9/4), Abraham Weintraub como novo ministro da Educação. Weintraub tem pela frente o desafio gerenciar uma pasta que registrou, nos primeiros quatro meses de governo, uma série de desgastes, incluindo mais de 10 demissões.
A crise é resultado, dentre outras coisas, de uma disputada interna entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho, considerado guru do presidente.
A expectativa é que o novo ministro coloque a pasta para funcionar e se comunique melhor com o Congresso. A escolha do número 1 do MEC veio por meio da indicação do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Abraham era secretário imediato de Onyx e tem um perfil mais conciliador, com ideias próximas à de Bolsonaro. Weintraub também é um grande admirador de Olavo de Carvalho. 
 
Em seu discurso de posse, Weintraub se disse disposto a ouvir ideias diferentes das suas, desde que as leis sejam respeitadas. Fez questão de ressaltar o próprio currículo, por exemplo a experiência como professor universitário, justificando ter capacitação suficiente para o cargo de ministro. “Eu vou usar toda minha energia, minha força, e tenho certeza que vou conseguir entregar o resultado esperado. Agradeço a confiança do presidente, do ministro Onyx, e todo o corpo que segura essa nova administração, que vai conseguir mudar a cara do Brasil e direção que a nação estava seguindo”, disse. 
 
O novo ministro destacou, ainda, que nos últimos 16 anos, o MEC teve 11 ministros, 70% eram professores universitários e todos oriundos de partidos políticos. Nesse ponto, Abraham garantiu que esse era um diferencial de sua indicação, uma vez que ele não tem partido. Apesar disso, garantiu não ser um grande problema a indicação de filiados, mas que tem as próprias “convicções políticas”.
 
Sobre a saída de Vélez Rodrígues, comparou a troca de ministros com a substituição de jogadores de futebol. Disse que Bolsonaro escalou 22 gestores, o equivalente a dois times, e teve que trocar bons jogadores que não se adequaram ao momento. “Dificilmente você vai ver um técnico que escala dois times não fazer uma ou outra modificação. Não porque os jogadores sejam ruins ou bons. É simplesmente porque naquele momento ele não está respondendo àquela função. Então, eu vejo a substituição como algo natural, e se acontecerem outras, inclusive comigo, tem que ser visto como algo natural”, disse o novo chefe do MEC.
Crédito: Luiz Calcagno/Eu Estudante/Correio Braziliense – disponível na internet 10/04/2019
 
Comissão de Educação tem pressa em ouvir novo ministro da pasta, Abraham Weintraub

Horas após a indicação de Abraham Weintraub como novo titular do Ministério da Educação, a deputada Alice Portugal, vice-presidente da Comissão de Educação da Câmara, já rascunhou um requerimento para convidá-lo a falar no colegiado. “Vou protocolar amanhã [terça, dia 9 de abril] bem cedo. Se ele puder vir já na quarta, ótimo.”, afirmou a parlamentar.

Para Alice, é necessário que Abraham deixe clara suas intenções frente à pasta, posição compartilhada com o presidente da comissão, deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB). “Temos que ouvi-lo sobretudo sobre a preocupação com a visão de mundo de tudo que vai ser apresentado pelo MEC”.

Abraham assume a Educação após quatro meses conturbados na pasta, até então comandada por Ricardo Vélez Rodríguez, que se notabilizou por comentários polêmicos e por sua proximidade com o escritor Olavo de Carvalho, que o tutelou ao cargo.

O novo ministro também é fã de Olavo e já deu demonstrações públicas disso. “Quando ele (um comunista) chegar para você com o papo ‘nhoim nhoim’, xinga. Faz como o Olavo de Carvalho diz para fazer. E quando você for dialogar, não pode ter premissas racionais”, disse em um evento no fim do ano passado, conforme relato feito à época pelo jornal O Estado de S.Paulo.

“Esse ministro sai da manga da camisa do presidente, do núcleo duro do governo, com posições de extrema direita. Sofre de intolerância política, o que para a convivência educacional é péssimo. Nada mais plural que a ambiência educacional em todos os níveis”, avaliou Alice.

“Vivemos em uma democracia. Agora ele passa a ocupar uma função que exige responsabilidade e precisa mostrar tolerância e respeito”, complementou Cunha Lima sobre os comentários do novo ministro.

O presidente da Comissão de Educação da Câmara, porém, não critica a influência olavista do novo ministro. “O problema da educação não passa por Olavo de Carvalho. Se ele gosta de Olavo de Cavalho ou não, não me interessa. O que preocupa é ter um plano implementado, como vai ser a nova gestão”, afirmou e completou: “É preciso ter uma compreensão de que a baixíssima atratividade do salário dos professores, a falta de vagas em creches, a desvalorização dos profissionais, nada disso são questões ideológicas”.

Abraham Weintraub se formou em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) em 1994. É mestre em administração na área de finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor de Ciências Contábeis na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Fez carreira no Banco Votorantim, onde atuou por 18 anos. Passou pela Quest Corretora, foi professor da Unifesp, e fundou o Centro de Estudos em Seguridade, que presta consultoria a empresas e publica uma revista sobre Previdência.

O caminho dele, todo alinhado ao mercado, também preocupa a vice-presidente a Comissão de Educação da Câmara. “Não sei exatamente a utilidade de um quadro do mercado na educação. Espero que o ministro saiba lidar com a conceituação de que a educação brasileira é laica e gratuita e não queira privatizar e quebrar esse condão da universalização”, disse a deputada Alice Portugal.

Cunha Lima, contudo, prefere esperar para avaliar. “Prefiro aguardar o início da gestão. Me preocupo mais com o resultado”.

Abraham deixa a vaga de número dois da Casa Civil, onde era secretário-executivo, e tinha como principal atribuição negociações em torno da reforma da Previdência, assunto que, aliás, já acompanhava desde a pré-campanha eleitoral ao lado do irmão, Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência da República.

/Congresso em Foco – disponível na internet 10/04/2019

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