“Educando o atraso”

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Vivemos num reino de palpiteiros, e justo por isso sinto-me a vontade para externar a minha opinião em relação às discussões sobre “a quanta anda a educação” nas terras tupiniquins.
Ao nos referimos à educação, profissionais da área de pedagogia, técnicos especializados, acadêmicos de alto nível, profissionais de outras áreas afins, políticos, instrutores e pais, quando são oportunamente questionados para divulgarem seus conhecimentos, vivencia, experiência, ou conhecimento em entrevistas, ou na participação em simpósios, conferencias, no campo dos estudos, ou defesa de teses, observamos que existem inúmeros pontos de vista, por um lado destoantes, incoerentes, de outro, harmônicos, racionais e lógicos apesar de se basearem nos mesmos autores, nas mesmas teorias, nas praticas e observações comuns, e ainda na literatura existente.A começar pela identificação e conhecimento das teorias pedagógicas, não apenas entendendo as diferentes conceituações dos pensadores, mas a capacidade de adaptar, e transformar aos tempos atuais as práticas educativas que as comprovaram, quando poucos as conhecem ou estão dissociados das praticas correlatas apesar dos seus títulos pomposos.

Saber que a didática se refere à técnica de ensino sendo uma ciência que estuda os métodos e técnicas, e que o ensino transmitido depende da aprendizagem do instrutor, isto é um conhecimento com pesquisa, troca de experiência e, sobretudo diálogo, a propriedade de formular questões e a aptidão de resolvê-las e discernir dentre as necessidades, as prioridades, é outro entrave para se entender o que é a educação, predicados que estão longe para nossa realidade social e econômica.

Grande são as confusões quanto à conceituação dos métodos ou modelos teóricos escolhidos, a aplicabilidade dos métodos de ensino adotados, e os recursos didáticos selecionados, as tendências pedagógicas, o significado real da pedagogia libertadora (critica e transformadora), e as diferentes escolas pedagógicas, justo porque não se considera a educação uma prioridade como política pública e cidadã como base da democracia.

Os profissionais do ramo formados pelos métodos educacionais comuns consideram que uma educação moderna, atual, é a simples substituição do quadro negro e giz, e que as pesquisas cognitivas devem acompanhar os avanços tecnológicos na utilização de ferramentas de mídia como principio educacional, isto quando não reprovam o conteúdo das matérias pelas quais eles mesmos foram titulados.

Pois bem, os pseudos especialistas certamente desconhecem que no Vale do Silício, o centro do avanço da informática onde vivem os vendedores da tecnologia digital transformadora da sociedade do século XXI, as escolas avançadas se utilizam do quadro negro e os alunos fazem suas tarefas, manuseando livros, horários, e fazem os trabalhos empregando papel, contrariando as escolas que pensam que modernidade é introduzir computadores, tabletes e quadros interativos (El País; 12/04/2019 – P. Guimon; Califórnia, EUA)  uma vez que a qualidade no ensino e o progresso na educação não se reduzem apenas a ferramentas físicas e sim aos fatores de cognição. 

Um exemplo apenas não define os novos rumos da educação, mas serve como argumento contrário ao que se prega.  A educação pública cujas diretrizes até então foram formuladas por profissionais de economia e do direito, justo por isso não entendida como prioridade dentre as políticas, pois estes perseguem o lucro financeiro e são incapazes de vislumbrar o investimento social ou de entender respectivamente que os costumes sociais “evoluem”; e para isso torna-se necessário uma educação transformadora da sociedade, recuperando a criatividade, o diálogo, o espirito crítico, a diversidade, os direitos, a cidadania, o respeito à liberdade de expressão.

Luiz Fernando Mirault Pinto: Físico e administrador – Servidor aposentado do Inmetro

Apesar da globalização, a qualidade da educação deve ser intrínseca ao sistema nacional, com todas as suas dificuldades e diferenças, a ponto de inviabilizar a comparação paradoxal de índices escolares universais, respeitando as variações socioeconômicas, ou a importação de modelos que não se coadunam como espirito do brasileiro.

Educação domiciliar, escola sem partido, militarização das escolas, educação profissional e tecnológica, incluindo “escola nova (1950?)” são idealizações da moda fora do contexto da educação efetiva e eficaz daquela que o Brasil precisa, ainda bem longe de “onde o galo canta”.

Crédito: Luiz Fernando Mirault Pinto/Correio do Estado – disponível na internet 29/04/2019

Nota: O presente artigo não traduz a opinião do ASMETRO-SN. Sua publicação tem o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. 

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