Um dos nomes mais respeitados nas Forças Armadas, o general, hoje assessor especial do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva Augusto Heleno, deu pela redes sociais o recado que os militares querem passar: Olavo de Carvalho precisa “deixar o governo”.
A análise foi feita à Reuters por uma fonte palaciana que acompanha de perto as crises que têm sido causadas pelos ataques do escritor aos militares —e que tem sido respaldadas pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador no Rio de Janeiro Carlos e o deputado federal Eduardo (PSL-SP).
“Mais uma vez o senhor Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia”, escreveu Villas Bôas.
O general, com seis quase 600 mil seguidores no Twitter —bem mais do que Olavo de Carvalho, com seus 133 mil— foi a voz da insatisfação dos militares no governo.
A mais nova disputa entre a ala militar e os chamados “olavistas” do governo foi escancarada mais uma vez na onda de ataques ao ministro da Secretaria de Governo, general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz. Incomodado, o próprio ministro foi na noite de domingo conversar com Bolsonaro. Disse que estava sendo vítima de um ataque orquestrado que envolviam os filhos do presidente.
“Eles têm intimidade o suficiente para o ministro chegar e reclamar do que está acontecendo”, disse uma fonte palaciana.
Depois de criar polêmica atacando o vice-presidente Hamilton Mourão, o escritor voltou suas baterias a Santos Cruz. Em uma série de tuítes no final de semana chamou o ministro de fofoqueiro e outros adjetivos. A sessão de ataques se manteve nesta segunda.
A crise foi aumentada quando o humorista Danilo Gentili publicou nas redes sociais uma entrevista do ministro dada à rádio Jovem Pan no início de abril. Em sua fala, Santos Cruz diz que “as distorções e os grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra, da ponta leste ou da ponta oeste, isso aí tem que ser tomado muito cuidado, tem que ser disciplinado. A própria legislação tem de ser melhorada”.
O ministro virou alvo, além de Olavo, dos filhos do presidente e um ataque coletivo nas redes, e o próprio Bolsonaro usou o Twitter para dizer que não haveria controle das redes.
“Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba”, escreveu.
Ao ter desautorizado publicamente seu ministro, Bolsonaro terminou por ampliar a margem para os ataques a Santos Cruz. No entanto, nesta segunda, ao ser perguntado se o ministro ainda tinha seu respaldo, Bolsonaro foi enfático: “Completamente”.
Apesar da crise, Santos Cruz se mantém forte no governo não apenas pela relação de amizade com Bolsonaro, mas porque representa e tem liderança no grupo de militares que é considerado um dos pilares de sustentação do governo.
“Para demitir Santos Cruz vai ter que demitir muita gente antes”, disse a fonte palaciana.
A ordem agora é tentar, mais uma vez, ignorar os ataques de Olavo de Carvalho. O próprio presidente afirmou, mais cedo, que, de acordo com a origem do problema, a melhor resposta é “ficar quieto, porque temos muitas coisas mais importantes para discutir no Brasil”.
Mourão reforçou. “Esses ataques são totalmente sem nexo. Se nós ignorarmos, será muito melhor para todo mundo.”
Bolsonaro diz que Santos Cruz tem respaldo completo e não existe divisão entre militares e grupo de Olavo
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira que o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, tem seu respaldo completo e que a melhor resposta para polêmicas como as criadas pelo escritor Olavo de Carvalho, é “ficar quieto”.
“O que eu tenho falado é que de acordo com a origem do problema a melhor resposta é ficar quieto, porque temos muitas coisas mais importantes para discutir no Brasil”, afirmou o presidente ao sair do Ministério da Economia, onde teve um encontro com os servidores de alto escalão da pasta. “Aqueles que por ventura não tem o tato político estão pagando um preço junto á mídia.”
Questionado se o ministro, general da reserva, tinha seu respaldo, Bolsonaro respondeu que sim. “Completamente. Ele está em São João da Cachoeira tratando de assunto fundiários e indigenistas.”
Santos Cruz passou a ser novamente alvo de Olavo de Carvalho —e, na esteira, dos filhos do presidente, Carlos e Eduardo— nesse final de semana, quando o escritor disse que o ministro “fofoca e difama pelas costas”, ao que Santos Cruz respondeu que Carvalho é “um desocupado esquizofrênico”.
Na noite de domingo, o ministro teve uma reunião de uma hora e meia com o presidente no Palácio da Alvorada. Em outra onda de ataques do escritor, em que Olavo disse que Santos Cruz “não presta”, o ministro já havia dito que conversaria sobre os ataques com Bolsonaro.
“Estive com ele ontem à noite, conversamos por uma hora e meia como sempre faço, sobre diversos assuntos…como faço nos fins de semana com diversos ministros”, disse o presidente.
Bolsonaro negou, no entanto, que Santos Cruz tenha feito reclamações. Fontes ouvidas pela Reuters, no entanto, confirmam que o ministro tratou sim dos ataques de Carvalho.
Crédito: Lisandra Paraguassu/Reuters Brasil – disponível na internet 07/05/2019