Pelo segundo dia consecutivo, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta quinta-feira (11/7) com representantes da bancada evangélica em um diálogo pautado na construção da base governista para depois da reforma da Previdência. A articulação não consiste em se ancorar na frente parlamentar esperando que, institucionalmente, ela garanta votos para o governo. Mas, sim, utilizá-la como mecanismo de mapeamento e captação de parlamentares do alto escalão dos partidos mais numerosos do Congresso dispostos a apoiar o Executivo. O objetivo: rachar o Centrão.
O mesmo acontece em relação à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), recebida por Bolsonaro em café da manhã no Palácio do Planalto na última quinta-feira (4/7). A costura é capitaneada pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que tomou posse naquele mesmo dia. Quando assumiu o cargo, o articulador político colocou em prática uma articulação que vinha sendo construída quando ainda era o titular do Comando Militar do Sudeste.
Desde que foi anunciado por Bolsonaro como sucessor do general Santos Cruz na Secretaria de Governo, ainda em 13 de junho, Ramos manteve contato próximo com parlamentares ruralistas e evangélicos. A ideia era iniciar a articulação com o pé direito. Não necessariamente como o “general” da articulação governista na reforma previdenciária, função ainda exercida pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O olhar do ministro está no pós-Previdência.
O Centrão é um bloco político informal composto por PP, PL e PRB. Orbitam entre esses partidos DEM, PSDB, MDB e PSD. Parte da cúpula desses sete partidos é próxima do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O problema é que, depois da Previdência, e com o pacote anticrime governista sendo desidratado, a leitura feita no Parlamento é de que, encaminhada a reforma ao Senado, a tendência na Câmara será de ampliação do protagonismo de Maia e do clima de “parlamentarismo branco”.
Teia
Por esse motivo, aliados de Ramos do próprio Centrão alertaram desde a “transição” do ministro para a necessidade de rachar o bloco. Divisão que virá pela articulação com as bancadas ruralista e evangélica, puxando parlamentares do alto clero de PP, PL, PRB dispostos a evitar o enfraquecimento do governo depois do recesso parlamentar. A costura prometida por alguns membros desses partidos incluiria até mesmo parte da cúpula do MDB.
O presidente nacional do PRB e vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), é um dos nomes que está sendo convencido a apoiar o governo. Membro do alto escalão da bancada evangélica, junta-se a ele o presidente da frente parlamentar, Silas Câmara (PRB-AM), e o deputado João Campos (PRB-GO). São nomes que, juntos, conseguem puxar o alto clero de outros partidos conectados, também, aos ruralistas e aos deputados da bancada da bala. E vice-versa. Como uma teia.
Cálculos
O deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, é outro parlamentar engajado com Ramos nas articulações pela formação da base. Dele, aproximam-se nomes como Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da FPA, e Sérgio Souza (MDB-PR), vice-presidente na Câmara da bancada. O deputado Capitão Augusto (PL-SP), presidente da bancada da bala e da Comissão de Segurança Pública da Câmara, é outro integrante nas conversas.
É partindo desses parlamentares que o governo pretende, a partir do alto clero, rachar o Centrão, com apoio do baixo clero. Daí, a expectativa é construir a base de apoio que, pelos cálculos de alguns desses aliados, conseguiriam entre 200 e 220 votos na Câmara. Sem contar com o PSL. Somando o partido de Bolsonaro à conta, essa quantidade chegaria a 274 votos. Perto do necessário para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), como a reforma da Previdência, que exige 308. O restante, acreditam alguns, viria por inércia.
Crédito: Rodolfo Costa/Correio Braziliense – disponível na internet 12/07/2019