Propina de R$ 2 milhões
O político mineiro começou a cair em desgraça no PSDB em abril do ano passado, quando era senador por Minas Gerais. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou uma denúncia contra ele, feita pela Procuradoria-Geral da República, com base nas investigações da Polícia Federal. Durante a Operação Patmos, deflagrada em 18 de maio de 2017, na esteira das conversas pouco republicanas entre o empresário Joesley Batista e o então presidente Michel Temer, a PF prendeu o primo do senador, Frederico Pacheco de Medeiros, com uma mala contendo R$ 500 mil recebida das mãos do delator Ricardo Saud, da JBS. A dinheirama seria destinada ao tucano. Era a primeira remessa dos R$ 2 milhões em propinas que o senador receberia da JBS.
Na mesma operação, a PF gravou uma conversa de Aécio com Joesley Batista, na qual o tucano combinava o recebimento do dinheiro. Aécio indicou o primo para pegar a encomenda. “Tem que ser um que a gente mata ele (sic) antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu”, disse o tucano. O “cara seu” era Saud. Além de Fred e Aécio, são acusados de corrupção na ação sua irmã, Andréa Neves (que também pediu dinheiro a Joesley), e Mandherson Lima, assessor do então senador Zezé Perrella.
O ideal para a nova direção tucana é que Aécio peça para sair do PSDB já, para evitar a traumática intervenção da Comissão de Ética que, certamente, determinará a expulsão. As pressões para apear Aécio do partido aumentam a cada dia. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, sentenciou na quarta-feira 10: “ou eu ou Aécio”, referindo-se à necessidade do deputado deixar da legenda. Foi o que fez o ex-governador Eduardo Azeredo, preso pelo mensalão mineiro: ele pediu desfiliação antes de ser expulso.Com a denúncia, Aécio percebeu que não se reelegeria senador e disputou as eleições de 2018 como candidato a deputado federal, amargando um grande desgaste no partido, onde foi a grande estrela até 2014, quando chegou a ser o candidato a presidente. Desmoralizado, ele queria, a todo custo, manter o foro privilegiado, já que no STF teria mais chances de ficar impune. Não adiantou: o STF considerou que o crime cometido por Aécio aconteceu quando ele estava investido no mandato de senador e que agora, na condição de deputado, teria perdido o foro especial. O caso foi enviado à Justiça paulista, onde fica a sede da JBS. No último dia 5, o juiz federal João Batista Gonçalves, da 6ª Vara Criminal Federal, aceitou a denúncia e o tornou réu por corrupção e tentativa de obstrução da Justiça.
Nova roupagem
Os tempos mudaram no PSDB, desde que João Doria elegeu-se governador de São Paulo no ano passado e tornou-se o principal líder do partido. A primeira providência foi substituir o então presidente nacional, o ex-governador Geraldo Alckmin, que também enfrenta problemas judiciais por causa de dinheiro recebido do departamento de propina da Odebrecht. Para o seu lugar, Doria emplacou Bruno Araújo, eleito com a missão de reformular o PSDB, torná-lo comprometido com as mudanças da sociedade e desprovido do viés socialista que alguns grupos ainda ecoam dentro da organização. Araujo e Doria acalentam a vontade de que os tucanos assumam políticas liberais na economia. Para isso, contam com a adesão de políticos da centro-direita comprometidos com a lisura em suas condutas éticas.
Crédito:Germano Oliveira/Revista IstoÉ – disponível na internet 15/07/2019