Segundo o Portal do Empreendedor – MEI, no início do mês de julho, cerca de 185 mil microempresários haviam optado pelo sistema de recolhimento de tributos em valores fixos mensais (abrangido pelo Simples Nacional). O número é 19% acima do verificado em fins de dezembro do ano passado – crescimento bastante superior ao aumento do emprego formal entre dezembro de 2018 e maio de 2019 (0,91).
Entre dezembro e julho, o número total de microempreendedores individuais passou de 7,7 milhões para mais de 8,5 milhões de pessoas (alta de 10,9%). Em período próximo, a taxa de desocupação do IBGE (emprego formal e informal) aumentou de 11,6% (trimestre outubro a dezembro de 2018) para 12,3% (trimestre de fevereiro a abril de 2019). No primeiro trimestre de 2019, a economia teve oscilação negativa (queda de 0,2% do PIB).
Crise e empreendedorismo
Para o assessor especial do Ministério da Economia Guilherme Afif Domingos, o crescimento do número de empreendedores tem a ver com a procura de alternativas para obter trabalho e renda. “Na verdade, são empreendedores que estão trabalhando por conta própria, porque emprego, no sistema tradicional, está raro e vai ser muito raro daqui para frente”, prevê.
Afif avalia que a hora é oportuna para superar dificuldades. “No momento de crise, você encontra pessoas dispostas a arriscar sair da zona de conforto para buscar alternativas para própria sobrevivência. Portanto, a crise é alimentadora de atitudes empreendedoras”.
O diretor-superintendente do Sebrae no Distrito Federal, Valdir Oliveira, concorda com o assessor ministerial e acrescenta: “olhamos para crise e vemos recessão e desemprego. O empreendedor vê oportunidade. O dinheiro não some. O dinheiro muda de mão”.
Momento propício
O dirigente do Sebrae avalia que as empresas são criadas para atender demandas das pessoas e da sociedade. “Toda empresa existe para resolver um problema, o problema do cliente. Como alguém que abre uma lanchonete para resolver a alimentação de quem não pode comer em casa”.
Nesse sentido, o momento pode ser bastante propício “Hoje nós temos uma pluralidade de problemas muito grandes. Há muitas oportunidades”, sublinha Ênio Pinto.
A visão do gerente do Sebrae de associar a atividade econômica das empresas à busca de solução de problemas enfrentados pela sociedade é ilustrada na história de algumas iniciativas e na fala de alguns empreendedores em início de carreira entrevistados pela Agência Brasil.
No caso da Mi Petit, pequena empresa que produz comida para crianças, conforme cardápio recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pelo Ministério da Saúde, a preocupação é oferecer qualidade nutricional, conforme demanda dos pais.
“É uma demanda das famílias. A obesidade infantil tornou-se pandemia”, descreve Valéria Freitas, que antes de se juntar à nutricionista sócia da empresa para cuidar de alimentação infantil trabalhou no Brasil e no exterior como engenheira da área de telecomunicações.
A administradora de recursos humanos Roberta Lopes é outra empreendedora que tem as crianças como clientela final. Em vez de comida, no entanto, seu negócio, chamado Mundo de Lívia, cuida do divertimento e desenvolvimento infantil. Ela criou uma pequena empresa para aluguel de brinquedos para crianças na fase inicial de desenvolvimento congnitivo.
Roberta Lopes conta que com o aluguel de brinquedos as mães incorporam espírito de compartilhamento e acabam economizando 70% dos gastos que teriam se a cada etapa de desenvolvimento substituissem o estoque de brinquedos. “As mães compram brinquedos em 10 meses e as crianças usam só por dois meses”, compara.
A pequena empresa, que dispõe de 170 brinquedos para aluguel, ainda funciona na residência de Roberta e já deu emprego a uma pessoa.
A design Jussara Pelicano Botelho e outras duas sócias também já contrataram uma funcionária em um negócio que começa a engatinhar: há mais de um ano, elas criaram um aplicativo para atender mulheres de todas as idades que querem viajar sozinhas, em segurança, e com poucos recursos.
Escassez de crédito
Diego Reis, especialista em tecnologia e segurança da informação, fundou o grupo Afroempreendedor e assumiu como missão o desenvolvimento de produtos e atividades que geram empoderamento e inclusão social. “A gente quer equilibrar o jogo para que os pretos e negros tenham mais espaço na sociedade e, no nosso caso, no empreendedorismo”, resume. “O empreendedorismo é libertador”, defende.
A mesma dificuldade é relatada por Diogo Lisita. “Agora precisamos da grana, mas não temos como dar todas as garantias que os bancos exigem. Quando mais precisa, a economia parece estar menos disposta”, observa.
“Querem oferecer o dinheiro depois que o seu negócio está validado, depois que você passou pela parte mais difícil. O mercado brasileiro tem apetite por inovação, melhoria, eficiência e por lucratividade. Só que não tem um apetite tão grande quanto vemos num ecossistema de startup no Vale do Silício, Europa, Índia e Israel”, compara.
Guilherme Afif Domingos faz coro com os dois empreendedores. “É flagrante a escassez de crédito, principalmente para o segmento de pequena empresa. O microcrédito famoso não chega”, pondera.
O assessor especial do Ministério da Economia é bastante crítico quanto às dificuldades de se obter empréstimos. “O sistema bancário é muito concentrado nas mãos de poucos que arrecadam de todos e emprestam só para alguns – aqueles que têm garantia reais para poder dar. O custo hoje do crédito é de agiotagem”.
Afif Domingos acredita que a macroeconomia vai melhorar após a aprovação da reforma da Previdência e que o ambiente econômico será mais favorável para os empreendedores com a futura reforma tributária, já em discussão no Congresso Nacional, e com o desdobramento de medidas em curso para reduzir a burocracia.
“O Brasil tem que ter um choque de desregulamentação para deixar essa turma livre. Com criatividade, eles vão buscar o caminho para o futuro. Agora é a hora de desburocratizar, simplificar”, promete.
Agência Brasil de Notícias 15/07/2019