Bolsonaro critica punição imposta a empresas que demitem trabalhadores sem justa causa, mas equipe econômica nega intenção de alterar medida. Segundo o presidente, percentual instituído no governo FHC desestimula a contratação de mão de obra
Outras opções estão sobre a mesa da cúpula governista. O ministro da Economia, Paulo Guedes, e os secretários da pasta estudam a possibilidade de reduzir o valor da multa para 10% ou dar outra destinação aos recursos. Transferir os valores da multa para um fundo público que teria por objetivo auxiliar a formação de uma poupança que poderia ser aplicada na aposentadoria dos trabalhadores é algo em análise, como um programa social.
Bolsonaro não foi assertivo ao falar do destino da multa de 40%. “Está sendo estudado. Desconheço qualquer trabalho nesse sentido (de acabar)”, disse. A declaração foi feita após culto na sede internacional da igreja Sara Nossa Terra, em Brasília.
Apesar da indefinição, o presidente não poupou críticas à penalidade. Para ele, a multa, instituída no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso, acabou desestimulando as contratações, e não as demissões — alvo da gestão tucana. “Essa multa de 40% foi quando (Francisco) Dornelles era ministro de Fernando Henrique. Aumentou a multa para evitar demissão, ok? O que aconteceu depois disso? O pessoal não emprega por causa da multa. É quase impossível ser patrão no Brasil”, afirmou.
A intenção de flexibilizar as regras trabalhistas deve estar entre as prioridades da equipe econômica no pós-Previdência, além da reforma tributária. “Acha que eu estou feliz com 14 milhões de desempregados? Como é que eu vou empregar alguém e o cara vai falar: sabe a dificuldade? Conhece a CLT? Você paga outro salário. É difícil. E, olha só, na guerra comercial do mundo, temos a mão de obra entre as mais caras que existem. Qual é a nossa tendência? Continuarmos vivendo de commodities. Até quando?”, questionou o presidente.
As sinalizações do governo vêm sendo dadas em linha com a possibilidade de pôr fim ao saque automático do FGTS nas demissões sem justa causa. O governo estuda permitir saques uma vez por ano, na data de aniversário dos cotistas. Como contrapartida, a equipe econômica planeja melhorar a rentabilidade do fundo que é de 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), atualmente zerada.
A discussão da multa de 40% do FGTS está no escopo da liberação de saques de recursos do fundo, medida que o governo pretendia anunciar na quinta-feira, na solenidade alusiva aos 200 dias da gestão Bolsonaro. As ações, no entanto, foram brecadas pela Caixa Econômica Federal e pelo setor da construção civil. Bolsonaro garantiu que os recursos para financiamento do setor serão mantidos, depois de conversa que teve com dois empresários ainda na quinta, em audiência solicitada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
O pedido, segundo Bolsonaro, foi para mudar “uma vírgula”. “Foram tratar com Davi a preocupação com a possível desidratação do FGTS no tocante ao Minha Casa, Minha Vida. É natural. Cada um luta pelo seu espaço”, disse.
Cai intenção de consumo
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), recuou 1,7% na passagem de junho para julho deste ano e chegou a 89,8 pontos, em uma escala de zero a 200 pontos. Essa foi a quinta queda consecutiva do indicador. “A variação mostra uma relativa insatisfação das famílias com relação ao momento da economia, uma certa frustração em relação ao início do ano e mostrando também que elas se apresentam bastante cautelosas em relação aos gastos”, disse o pesquisador da CNC Antonio Everton. Na comparação com julho de 2018, no entanto, houve uma alta de 5,5% no indicador.
Crédito: Rodolfo Costa/Correio Braziliense – disponível na internet 20/07/2019