Sede da Ancine será transferida para Brasília.

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O presidente Jair Bolsonaro disse ontem (19) que vai transferir a sede da Agência Nacional do Cinema (Ancine) do Rio de Janeiro para Brasília. Segundo ele, o governo estuda transformar a Ancine em uma secretaria vinculada a algum ministério.
 
“É uma ideia que a Ancine vire uma secretaria, ligada a algum ministério. Não sei se do [ministro] Osmar Terra [Cidadania] ou não. Vou conversar com ele”, disse Bolsonaro, após participar da solenidade comemorativa do Dia Nacional do Futebol, no Ministério da Cidadania.Segundo Bolsonaro, o governo fará um filtro sobre as produções audiovisuais. “Vai ter um filtro, sim, já que é um órgão federal. Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine, privatizaremos ou extinguiremos. Não pode é dinheiro público ser usado para filme pornográfico.”O presidente defendeu a produção de filmes sobre heróis brasileiros. “Temos tantos heróis no Brasil e a gente não fala desses heróis. Não toca no assunto. Temos que perpetuar, fazer valer, dar valor a essas pessoas que no passado deram sua vida, se empenharam para que o Brasil fosse independente lá atrás, fosse democrático, e sonhasse com um futuro que pertence a todos nós.”Decreto assinado ontem (18) determinou a transferência do Conselho Superior do Cinema do Ministério da Cidadania para a estrutura da Casa Civil da Presidência da República. Ao justificar a medida, em entrevista à imprensa, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, argumentou que o conselho já esteve na Casa Civil e que é preciso acompanhar melhor o retorno dos investimentos públicos no cinema.

Agência Brasil de Notícias 20/07/2019


‘Se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine’, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (19) que se o governo não puder impor algum filtro nas produções audiovisuais brasileiras, por meio da Agência Nacional do Cinema (Ancine), ele extinguirá a agência.

Vinculada ao Ministério da Cidadnia, a Ancine é uma agência reguladora que tem como atribuições o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil.

Bolsonaro repetiu que pretende transferir a sede da agência para Brasília, e disse que ainda não decidiu se o órgão permanecerá sob a alçada da Cidadania, ou se será transferida para outro ministério.

“Vai ter um filtro sim. Já que é um órgão federal, se não puder ter filtro, nós extinguiremos a Ancine. Privatizaremos, passarei ou extinguiremos”, afirmou o presidente, após participar de uma solenidade em comemoração ao Dia Nacional do Futebol.

Questionado sobre qual filtro desejaria impor à Ancine, Bolsonaro respondeu: “Culturais, pô”.

Ele disse ainda que ainda não decidiu se a Ancine permanecerá como agência reguladora, ou se passará a ser uma secretaria subordinada a ele. “Ligada a um ministério, não sei qual, se vai ser o do Osmar Terra [ministro da Cidadania] ou não”, explicou.

O presidente voltou a criticar o uso do dinheiro público para fazer “filmes pornográficos” e defendeu que o cinema brasileiro passe a falar dos “heróis brasileiros”.

 

“Temos tantos heróis no Brasil, e a gente não fala dos heróis do Brasil, não toca no assunto. Temos que perpetuar, fazer valer, dar valor a essas pessoas no passado deram sua vida, se empenharam para que o Brasil fosse independente lá atrás, fosse democrático e sonha-se com um futuro que pertence a todos nós”, complementou.

Repercussão

Bruno Barreto, cineasta, diretor de filmes como “O que é isso, companheiro?” e “Dona Flor e seus dois maridos”:

“No caso o que ele chama de filtro me parece censura, nem na época da ditadura militar isso ocorreu. Se acontecer de fato, eu sou contra, claro. Os projetos eram todos produzidos, depois havia censura, havia cortes, mas os projetos não deixavam de ser produzidos.”

Vicente Amorim, cineasta, diretor de filmes como “Irmã Dulce”, “Um homem bom” e “O caminho das nuvens”:

“As mudanças propostas são ilegais. Toda proposta é absurda: levar a Ancine para Brasília (caríssimo); extinguir a Ancine (ilegal); e filtrar conteúdo (censura)”.

André Ristum, diretor de “O Outro Lado do Paraíso” e “A Voz do Silêncio”:

“De fato a palavra filtro assusta um pouco, porque logo se remete a uma possibilidade de alguma censura, de algum direcionamento. Acho que a cultura e arte não pode ser passível de nenhum tipo de direcionamento, por si só ela tem que ser livre. Obviamente, ele se refere ao fato de que dinheiro público não pode financiar pornografia. Isso é óbvio, mas isso está em todo e qualquer edital. (…) O filtro é preocupante, acho que a mudança de lugar tem que ser avaliada, porque a classe defende, na verdade, que seja levada a Ancine ao Ministério da Economia, não na Casa Civil, onde sempre tinha que estar a Ancine, por ser uma agência que regula um mercado. É um gerador de muita receita, muito emprego, então o lugar correto é dentro do Ministério da Economia.”

 

Laís Bodansky, cineasta, presidente da Spcine e diretora de filmes como “Bicho de Sete Cabeças” e “Como Nossos Pais”:

“Uma característica do audiovisual, isso não é Brasil, é no mundo, nos Estados Unidos, é a inovação, porque o público quer e precisa do novo. Para ter inovação, você tem que dar liberdade para criador. Então, qualquer coisa que esteja na contramão disso, você não está estimulando o setor, ao contrário, você está envelhecendo. Ele é feito de criatividade, de liberdade. Uma das maiores expressões de liberdade é o audiovisual.”

José Padilha, diretor de “Tropa de Elite”:

“Não sei a que filtro o presidente Bolsonaro se refere. Se for filtro ideológico, será a volta da censura ao cinema nacional. Sobre a ameaça de fechar a Ancine, não me surpreende. Trump tem sabotado todas as agências americanas, a começar pelas que promovem a ciência, a preservação do meio ambiente e luta contra o aquecimento global. Como dizia Forrest Gump: “Stupid is as stupid does”.

Cacá Diegues, cineasta:

“A maneira de proteger as famílias brasileiras já existe, que é censurar os filmes. Proibido até os 18 anos, proibido até os 14 anos, e livre. Ninguém vai ver filme pornográfico com seu filho de 14 , 12 anos, 10, 18 anos.. não vai ver”.

Jorge Peregrino, presidente da Academia Brasileira de Cinema:

“Eu acho um desastre dessa maneira. Eu vou repetir: você tentar destruir, através da censura ou através da extinção simples de órgãos, destruir o processo que foi montado de produção, que hoje emprega 300 mil pessoas no Brasil, pelo menos, tá certo, eu acho um desastre”.

Mariza Leão, produtora de cinema:

“Nossos filmes são um sucesso popular e um sucesso internacional. Portanto, nós temos força. Nós não somos uma coisa que se acaba com um peteleco”.

Leonardo Edde, presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual (SICAV), que reúne produtores:

 

“Eu quero acreditar que em 2019, num país democrático, num regime democrático, isso não seja verdade. Não queira de se fazer uma censura, porque aí a gente ja está automaticamente afirmando que não é mais um país democrático”.

Marina Person, diretora de “Califórnia”:

“Eles vão escolher o que eles querem que seja feito. É uma censura prévia, o que é um absurdo. Quando você faz uma censura prévia é uma coisa tão arbitrária, porque [vai ser] baseado em que? Quem é que vai julgar? Quem é que vai dizer? Que filtro é esse? É muito obscurantismo. A gente está em 2019 parece que a gente voltou para a Idade Média. É uma ação obscurantista, não tem outra palavra para usar. (…) E sabe-se lá quem vai fazer esse tipo de censura, porque eles falam filtro, mas na verdade é censura. Você vai empacar, vai asfixiar um setor que já está há algum tempo asfixiado, sendo que era uma coisa que funcionava, gerando emprego, gerando imposto. Você está na verdade prejudicando a economia do Brasil, não é a cultura só. Você está dando passos para trás no setor econômico. Você vai gerar mais desemprego, vai deixar de arrecadar impostos.”

Conselho

O governo também decidiu reduzir pela metade a participação de representantes da indústria cinematográfica no Conselho Superior do Cinema, órgão responsável por elaborar a política nacional para o setor.

Decreto publicado na edição desta sexta do “Diário Oficial da União” reduz de seis para três o número de representantes do setor. Também reduz a participação da sociedade civil no colegiado: de três para dois representantes.

Crédito:  Guilherme Mazui/Portal do G1/Brasília – disponível na internet 20/07/2019

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