Essa é a pergunta que muitos se fazem depois do capítulo mais recente que afeta a fabricante japonesa: o anúncio na segunda-feira (9) da saída do CEO da empresa, Hiroto Saikawa, em meio a um escândalo envolvendo pagamentos indevidos.
A derrocada teve início no ano passado, quando o então presidente da Nissan, Carlos Ghosn, foi preso sob acusação de crimes financeiros – ele nega os crimes.
Além das crises sucessivas em sua direção, a fabricante japonesa também registrou péssimos resultados de venda em julho passado, os piores em uma década.
Entre abril e junho deste ano, o lucro líquido da Nissan caiu quase 95% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Nós admitimos que os resultados são bastante medíocres”, afirmou Saikawa, CEO da empresa à época.
Os resultados negativos levaram a empresa a tomar medidas drásticas, entre elas a demissão de 12,5 mil funcionários – 10% da força de trabalho – a fim de reduzir sua produção global em 10% para o ano de 2022.
Mas como se explica a derrocada desta montadora que já foi uma referência mundial no setor automobilístico?
O escândalo Ghosn
“A rentabilidade se viu afetada negativamente pelo declínio da receita e por fatores externos como custos de matéria-prima, flutuações cambiais e mudanças em cumprimento a normas regulatórias”, afirmou a Nissan em comunicado em julho passado.
Como seus concorrentes, a empresa vem tentando fazer grandes transformações tecnológicas para desenvolver veículos autônomos e para se adequar ao endurecimento das regras socioambientais.
Entretanto, além do recuo em grandes mercados como União Europeia, Europa e Japão, a empresa atribui seus resultados negativos à sua mudança de estratégia após o escândalo em torno de seu ex-presidente Carlos Ghosn.
Formado em engenharia pela Escola Politécnica e pela Escola Superior de Minas, ambas em Paris, o franco-brasileiro de ascendência libanesa e nigeriana começou a trajetória na Michelin – ocupando cargos na França e no Brasil. Na sequência, foi para a Renault. Ele se juntou à Nissan em 1999, depois que a empresa francesa comprou uma participação na montadora japonesa, e se tornou seu principal executivo em 2001.
O empresário franco-brasileiro é conhecido por ter liderado a volta por cima da Nissan quando a empresa de automóveis estava à beira da falência. Na sequência, ele orquestrou a aliança da empresa japonesa com a Renault e a Mitsubishi.
As três montadoras se transformaram no segundo maior grupo automobilístico do mundo – em 2017, no topo do mercado, atingiram 10,6 milhões de veículos comercializados.
O declínio de Ghosn foi vertiginoso. O estilo de vida glamouroso desmoronou quando ele foi preso no ano passado a bordo do seu jatinho particular no aeroporto de Tóquio, acusado de ter subnotificado seus rendimentos na Nissan às autoridades.
Ghosn estaria planejando uma aquisição da Nissan pela Renault, algo que enfrentava forte resistência de alguns no Japão – e segundo a mulher dele, essa seria a verdadeira razão pela qual a Nissan agiu contra ele. “Foi uma conspiração para se livrar dele.”
A Nissan, por sua vez, rejeita essa acusação de conspiração.
De todo modo, as suspeitas contra Ghosn levaram a uma grande pressão contra a aliança empresarial entre Nissan, Renault e Mitsubishi.
“O episódio fez com que a empresa se fragmentasse”, afirmou à radio pública americana NPR Michelle Krebs, analista da empresa Autotrader.
A Nissan não esconde o duro golpe que sofreu no escândalo, tanto que decidiu reduzir suas metas de vendas nos próximos quatro anos.
Imagem em declínio
Aos problemas da Nissan se somam, segundo especialistas, uma estratégia malograda voltada a aumentar sua fatia no mercado às custas da lucratividade.
Por exemplo, a empresa japonesa apostou em realizar vender com grandes descontos a empresas de aluguel de veículos. Mas a estratégia acabou por reduzir lucros e “manchar” a imagem da marca.
Michael Ramsey, analista da consultora Gartner, afirma que os consumidores viam os veículos da Nissan como “esportivos” e “confiáveis”, mas a ânsia da empresa em expandir seu mercado pôs em xeque a avaliação do público.
“Quem hoje compra um Nissan? A resposta não é mais tão óbvia”, afirmou Ramsey à NPR.
Outro fator apontado por especialistas é o avanço de concorrentes sul-coreanos, como Hyundai e Kia, que oferecem veículos de qualidade a preços mais baixos que a Nissan.
George Augustaitis, analista da CarGurus, também critica a defasagem do design da marca japonesa. Segundo ele, à NPR, os modelos Rogue e Murano estão quase cinco anos desatualizados.
Crédito: BBC Brasil – disponível na internet 10/09/2019