Em reunião na CMO, ministro da Economia defende desvinculação de receitas

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quarta-feira (25) que o governo Bolsonaro enviará uma proposta de pacto federativo em que o Congresso Nacional assumirá o controle sobre a definição do Orçamento da União. A ideia, afirmou, é “desindexar, desvincular e desobrigar” as despesas primárias federais.

Ele participou de debate na Comissão Mista de Orçamento (CMO) sobre as propostas de Lei Orçamentária Anual de 2020 (PLN 22/2019) e de Plano Plurianual de 2020 a 2023 (PLN 21/2019). A resolução (1/2006) que disciplina os trabalhos da CMO exige a presença do ministro para falar de cada nova peça orçamentária.

Guedes disse que, da forma como evoluem as contas públicas, o crescimento constante das despesas obrigatórias da União impedirá o investimento público. As despesas obrigatórias corresponderão a 94% do Orçamento em 2020, sendo a maior parte a Previdência Social (46% do total) e a folha de pagamento (23%).

Já as despesas discricionárias, que incluem os investimentos, somarão 6% do Orçamento do próximo ano. Estão reservados na proposta cerca de R$ 19 bilhões, o mais baixo patamar da história, segundo Guedes, que espera rever o montante em decorrência de esperadas melhoras no desempenho da economia.

Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) realiza audiência pública com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir PPA 2020-2023 (PLN 21/2019) e LOA 2020 (PLN 22/2019). Participam: secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues; ministro da Economia, Paulo Guedes; presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ); presidente da CMO, senador Marcelo Castro (MDB-PI). Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Segundo Paulo Guedes, o governo federal enviará proposta de pacto federativo em que o Congresso Nacional assumirá o controle sobre a definição do Orçamento da União Roque de Sá/Agência Senado

Despesas obrigatórias

Nesse cenário, o ministro defendeu o fim das despesas obrigatórias e dos reajustes automáticos (pela inflação ou por outros indicadores) e propôs uma maior repartição de recursos federais com estados e municípios. Segundo ele, com o novo pacto federativo, caberá ao Congresso a palavra final sobre o Orçamento.

— Vamos transformar o Congresso na Casa que efetivamente representa o povo, porque representar o povo é controlar o Orçamento. O Congresso existe para decidir para onde vão os recursos públicos. Nós já somos uma democracia madura, sabemos discutir o Orçamento, sabemos decidir no voto — afirmou Guedes.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que acompanhou a fala inicial de Guedes na CMO, concordou com a necessidade de mudanças nas contas públicas.

— O Orçamento atende à cúpula do serviço público e poucas empresas que conseguem incentivos fiscais. Nas reformas que juntos defendemos, ainda que com divergências, o objetivo é o mesmo: que o Parlamento possa transformar o Brasil, reduzir a pobreza, reduzir as desigualdades e garantir o crescimento econômico com geração de empregos — disse o presidente da Câmara aos integrantes da CMO.

Questionamentos

O relator da proposta de Orçamento para 2020, deputado Domingos Neto (PSD-CE), quis saber do ministro mais detalhes sobre a ideia de “desindexar, desvincular e desobrigar” as despesas primárias da União.

— Algumas medidas podem ser urgentes, com impacto já no próximo ano — disse Domingos Neto.

Paulo Guedes respondeu que a proposta ainda está em análise e que só será encaminhada ao Congresso depois da aprovação, pelo Senado, da reforma da Previdência (PEC 6/2019). O texto, que já passou por dois turnos na Câmara, está pronta para votação em primeiro turno no Plenário do Senado.

O ministro adiantou, porém, alguns dados sobre a desindexação das despesas. Se não houve correção em nenhuma rubrica, disse, sobrariam R$ 37 bilhões para gastar. Com correção do salário mínimo pela inflação — medida que, segundo ele, foi determinada pelo presidente Jair Bolsonaro —, seriam R$ 27 bilhões.

O relator da proposta de PPA, senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), comentou que as despesas de capital previstas de 2020 a 2023 devem somar R$ 135 bilhões, ou 0,2% de tudo que se pretende gastar no mesmo período (R$ 6,8 trilhões).

— Com esse grau de investimento, está otimista? — perguntou a Guedes.

— Excelente análise, é isso mesmo, o governo está com os quatro pneus furados — afirmou o ministro.

Segundo Paulo Guedes, com a falta de recursos públicos, os investimentos no país terão de vir do setor privado, como em privatizações.

— Como aconteceu em várias partes do mundo, esse é o caminho da prosperidade — reforçou.

Discussão

A audiência pública na Comissão Mista de Orçamento terminou em meio a uma discussão entre Paulo Guedes e o deputado Glauber Braga (Psol-RJ). O parlamentar havia questionado o ministro sobre a redução de recursos para a educação pública e a atuação empresarial do ministro em instituições privadas de ensino.

Guedes disse que estava na CMO para falar das propostas de Orçamento e de PPA e que não comentaria questões pessoais. Braga insistiu nos questionamentos e o presidente da CMO, senador Marcelo Castro (MDB-PI), encerrou a reunião.

Agência Câmara Notícias 26/09/2019


Comissão encerra audiência após mais um bate-boca de Guedes com deputado o Glauber Braga (PSol-RJ).

Mais uma vez, a visita do ministro da Economia, Paulo Guedes, à Câmara acabou abruptamente, após embate com parlamentares na Comissão Mista de Orçamento (CMO). O chefe da equipe econômica foi embora depois de uma discussão com o deputado Glauber Braga (PSol-RJ).

 
“O Congresso é super construtivo. Agora, tem uma minoria que não sabe o que é democracia. Quer falar sozinho, e não deixa os outros falarem. Era minha hora de falar e ele ficou falando e me ofendendo”, disse o ministro, na saída. 
 
O desentendimento começou quando Braga enfatizou a diminuição dos recursos públicos em educação, para, segundo ele, priorizar o setor privado. O deputado perguntou ao ministro qual era a relação dele com isso e pediu que ele “explicasse ganhos bilionários na área da educação, com seus negócios, antes de entrar para o ministério”.
 
Incomodado, Guedes respondeu que, “naturalmente”, iria tratar apenas das perguntas relacionadas a questões orçamentárias e ressaltou que fez muitos investimentos no ensino básico e em MBAs. “Se eu até soubesse que eu ia te perturbar tanto, não tinha ajudado tanto a educação brasileira por 20 e poucos anos”, disse.

Glauber tentou repetir a pergunta feita, mas Guedes pediu para completar a resposta e “ser respeitado”. “Minha vez de falar”, reclamou. “Quando o senhor falou, eu fiquei quieto”, continuou o ministro.

 
“Eu não estou aqui para conversar sobre minhas finanças pessoais, estou aqui para conversar sobre orçamento público. Se quiser fazer alguma coisa a respeito disso, vou conversar depois, em outro foro”, disse Guedes. Ele acusou o deputado de “estar aqui para fazer política” e disse que, se ele “quer ganhar voto, é com outro jeito, não é aqui”.
 
Em seguida, o ministro se defendeu da acusação de tentativa de desmonte do Estado. “Quem desmontou, quebrou as empresas públicas foi quem passou um pouco antes. Eu cheguei aqui agora”, afirmou.
 
A situação piorou quando Braga perguntou se ele não teve nenhuma relação com fundos de pensão, em referência ao processo aberto pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar supostas fraudes em negócios feitos por uma empresa do ministro, com fundos de pensão patrocinados por estatais.
 
O ministro ficou irritado com a pergunta e ameaçou processá-lo. “Faça acusação no foro privado e será processado. Nós apoiamos a Lava Jato. Vamos trazer Lava Jato. Vamos apurar isso profundamente”, replicou.
 
Diante da confusão, com vários parlamentares gritando, o presidente do colegiado, senador Marcelo Castro (MDB-PI), encerrou a sessão. Guedes se retirou e foi para o gabinete do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
 
Crédito: Alessandra Azevedo/Correio Braziliense – disponível na internet 26/09/2019

 

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