Estrela Cadente: MPF e PF investigam vazamentos do Copom de 2010 a 2012 para fundo administrado pelo BTG

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Uma operação conjunta do Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) e da Polícia Federal investiga vazamentos de resultados de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ocorridos nos anos de 2010, 2011 e 2012, “inseridos em contexto de obtenção de vantagens ilícitas mútuas entre banqueiro e agentes públicos do alto escalão do governo federal da época”, segundo comunicado. A deflagração da operação “Estrela Cadente” ocorreu nesta quinta-feira (3)
 

Segundo informação dos sites do MPF-SP e da PF, a investigação, instaurada a partir de colaboração premiada de Antônio Palocci, apura o fornecimento de informações sigilosas sobre alterações na taxa Selic, por parte da cúpula do Ministério da Fazenda e do Banco Central, em favor de um fundo de investimento administrado pelo BTG Pactual, que, com elas, teria obtido lucros extraordinários de dezenas de milhões de reais. Em 2012, o Estadão publicou em primeira mão uma reportagem com o fundo, que rendeu 400% com a aposta em juros.

Segundo a delação de Palocci, o ex-ministro Guido Mantega teria vazado as informações sobre a Selic para André Esteves, acionista do banco.

Na operação, foi cumprido um mandado de busca e apreensão, expedido pela Justiça Federal de São Paulo, no endereço sede do Banco BTG Pactual em São Paulo, para levantamento de novas evidências sobre o caso sob investigação.

Ainda de acordo com o MPF, é investigada a possível prática, entre outros, dos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, informação privilegiada, lavagem e ocultação de ativos. Os detalhes do inquérito policial, segundo o MPF, seguem sob segredo de justiça.

No fim da manhã, os papéis do banco caíam 9%.

Em 23 de agosto, a 64a. fase da Operação Lava Jato já havia feito buscas em endereços ligados a André Esteves, acionista do BTG, a partir de denúncias de Palocci.

No ano passado, Esteves preparava-se para voltar à presidência do banco. Ele foi preso em 2015, sob suspeita de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró. No ano seguinte já frequentava o BTG, com o crachá de sócio sênior. À época, o Ministério Público Federal entendeu que não havia provas para incriminá-lo e pediu sua absolvição.

O Banco Central disse, em nota à imprensa, que “não foi comunicado sobre o conteúdo da Operação Estrela Cadente, que corre sob segredo de Justiça”, mas não fez qualquer tipo de posicionamento.

Procurada, a CVM não respondeu a pedido de entrevista até a publicação desta reportagem.

O ex-presidente da Banco Central (BC) , Henrique Meirelles, que comandou a autoridade monetária até janeiro de 2011, afirmou que a hipótese de ingerência política e vazamento de informações privilegiadas do Comitê de Política Monetária (Copom), em 2010, é absurda e incompatível com o modelo de gestão da instituição.

Segundo ele, as decisões tomadas pelo comitê tinham caráter estritamente técnico e divulgação em absoluta conformidade com a legislação brasileira. “A orientação do então presidente do BC era para que cada membro do comitê exercesse seu voto de maneira independente e não o discutisse com seus pares até o momento das reuniões.” Cabia ao presidente, diz Meirelles, o último voto, sem conhecimento prévio à reunião do posicionamento dos demais membros. “Todas as informações sobre as decisões tomadas eram tornadas públicas por meio de nota à imprensa emitida imediatamente após as reuniões.”

Crédito: Marcio Rodrigues com a colaboração de Renée Pereira/ O Estado de São Paulo/Terra – disponível na internet 04/10/2019


STF arquivou ação que levou Esteves à prisão

André Esteves / imagem disponível na internet
Esteves ficou menos de um mês preso – e, no fim de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou o processo que acusava o executivo de tentar obstruir investigações relativas à Operação Lava Jato

Um dos principais bancos de investimentos do Brasil, o BTG viveu uma grande crise há quatro anos. A prisão do fundador da instituição, André Esteves, em novembro de 2015, obrigou o banco a empreender uma mudança de comando e também a vender ativos para combater o abalo de confiança sobre sua saúde financeira

Esteves ficou menos de um mês preso – e, no fim de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou o processo que acusava o executivo de tentar obstruir investigações relativas à Operação Lava Jato, que apurou esquemas de corrupção na Petrobrás e envolveu grandes empresas brasileiras, incluindo empreiteiras como Odebrecht, OAS e Andrade Gutierrez.

A crise de confiança gerada pela prisão de Esteves obrigou o executivo a deixar por vários anos o grupo de controle do banco que fundou. No curto período em que ele ficou preso no Rio de Janeiro, um “pool” de sete sócios assumiu o controle da instituição e Persio Arida, o do BTG.

Na mesma época em que o Supremo extinguiu o processo contra Esteves, o fundador do BTG voltou ao grupo de controle da instituição. Entre 2015 e 2018, parte dos sócios que haviam assumido a instituição durante a ausência de Esteves já haviam deixado o banco. Essa lista inclui Arida, que foi presidente do conselho até o fim de 2016. Meses depois, ele deixou a instituição.

Ao longo dos últimos três anos e meio, o BTG passou por um processo de enxugamento, com a venda de ativos – entre eles a participação que detinha no suíço BSI – e também por mudança de estratégia. Agora, o BTG aposta em plataformas digitais para deixar para trás um passado em que queria ser grande – com apoio do governo.

As investigações da Operação Estrela Cadente, da Polícia Federal, são referentes aos anos de 2010 a 2012 – época do governo do PT – e envolvem o vazamento de decisões sobre juros tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), para pelo menos um fundo administrado pela instituição.

No governo petista, um dos maiores sustos do setor financeiro foi a descoberta de um rombo de cerca de R$ 4 bilhões no banco Pan, à época era controlado pelo Grupo Silvio Santos – instituição que já tinha a Caixa Econômica Federal como sócia. No primeiro semestre de 2011, pouco tempo após o caso ser revelado, o BTG comprou uma fatia da instituição por R$ 450 milhões. O banco de André Esteves é sócio do Pan até hoje

Crédito: O Estado de São Paulo/Terra – disponível na internet 04/10/2019

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