Acesso
Se a paciente tiver um tumor de mama palpável, até que faça a biópsia e siga para a cirurgia, o estágio da doença já progrediu, “porque ela demora, às vezes, seis meses para conseguir tudo isso”. Vilmar Marques afirmou que “é por isso que a SBM bate nessa tecla do acesso”. O médico defende que a paciente tem que ter acesso facilitado na consulta com um mastologista, realizar a biópsia em tempo hábil e ter o tratamento definitivo também em tempo hábil.
Marques recordou que isso é garantido por lei. Porém, a Lei 12.732, de 2012, que instituiu prazo máximo de 60 dias para o tratamento de pacientes com câncer, ainda não é cumprida em geral. “A partir do diagnóstico, ela tem que ter o tratamento instituído em dois meses. Infelizmente, isso não é a realidade para as pacientes do SUS, de baixo poder aquisitivo. Por isso, a SBM está insistindo nesse tema do acesso, para que a letargia do sistema não interfira no prognóstico das pacientes com câncer de mama”, apontou Marques.
De acordo com o Ministério da Saúde,”para que o prazo da lei seja garantido a todo usuário do SUS, é necessária uma parceria direta dos gestores locais, responsáveis pela organização dos fluxos de atenção. Estados e municípios possuem autonomia para organizar a rede de atenção oncológica e o tempo para realizar diagnóstico depende da organização e regulação desses serviços”.
A ideia da SBM é chamar a atenção da população e do poder público para a falta de acesso das mulheres brasileiras ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama. De acordo com a entidade, cerca de 60% dos casos chegam aos consultórios em estágio avançado, principalmente nas pacientes atendidas pelo SUS e isso se deve, principalmente, às dificuldades para agendar consultas e a mamografia, além da demora para receber o diagnóstico e iniciar o tratamento.
Sobrevida
Vilmar Marques esclareceu que a falta de um diagnóstico precoce faz com que a paciente com câncer de mama tenha uma taxa de sobrevida menor. “No estágio 4 da doença, a gente nem fala mais em cura. São poucas as pacientes que vão sobreviver ao estágio 4, cinco anos após o diagnóstico. Somente 40% vão estar vivas. Por isso, a gente tem que insistir no acesso”.
Além disso, o mastologista confirmou que o rastreamento mamográfico ainda é reduzido no país. Pesquisa realizada por médicos da SBM em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia revela que o percentual de cobertura mamográfica de 2017 em mulheres na faixa etária entre 50 e 69 anos atendidas pelo SUS foi o menor dos últimos cinco anos. Eram esperadas 11,5 milhões de mamografias, mas só foram realizadas 2,7 milhões, o que corresponde a uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O levantamento apurou que os três estados com piores resultados foram Amapá, que realizou 260 exames em detrimento dos 24 mil esperados, seguido do Distrito Federal, com 5 mil realizados contra 158,7 mil esperados, e Rondônia, cuja expectativa era realizar 76,9 mil exames, mas somente 5,7 mil foram realizados.
A dificuldade para agendar e realizar a mamografia, equipamentos quebrados e falta de técnicos qualificados são os principais motivos para o baixo número de exames, indica a SBM. “A gente tem um número de mamógrafos aceitável, mas estão mal distribuídos. E, muitas vezes, não estão funcionando. Esse é o problema”, reforçou o especialista.
Marques avaliou que não adianta ter uma lei federal que não é cumprida. “Nós estamos falando de saúde, de sobrevida, do direito da mulher de estar viva. Tirando o acesso a essa mulher, tira o direito à vida”, concluiu Vilmar Marques.
Agência Brasil de Notícias 07/10/2019