Decisões importantes para proteção climática do planeta vêm sendo sempre adiadas. A partir do próximo ano isso não será possível: entra em vigor o Acordo de Paris.
Foi um fracasso total, os países se brigaram feio e acabaram sem acordo. O mesmo aconteceu em 2015, mas desta vez o que não teve êxito seis anos antes acabou sendo bem-sucedido: um novo acordo climático foi assinado em Paris, com objetivos climáticos próprios por parte de todos os países, com promessas financeiras – e com grande otimismo.
Mas o acordo não foi elaborado em detalhes, e é exatamente por isso que 2020 será um ano crucial para a redução de gases de efeito estufa – novamente. A próxima conferência climática será realizada em Glasgow, Escócia, no fim de 2020, devendo finalmente ratificar todos os detalhes importantes do Acordo de Paris, acordados de forma vaga em 2015.
Jochen Flasbarth, secretário adjunto no Ministério do Meio Ambiente da Alemanha, afirmou à DW que “2020 será um ano fundamental para a proteção do clima: pela primeira vez, os signatários do Acordo Climático de Paris devem revisar suas metas nacionais de proteção climática e ampliá-las o máximo possível”.
Será bem difícil isso acontecer. Cerca de 80 nações já anunciaram a intenção de agir nesse, mas entre eles não constam os grandes emissores de gases de efeito estufa. Recentemente – também devido à disputa sobre metas climáticas mais ambiciosas para todos os países – a conferência climática da ONU em Madri (COP25) esteve prestes a fracassar, e por fim redundou apenas num consenso magro e sem importância.
No próximo ano, contudo, todos os países têm que cumprir sua parte para que se alcance um Acordo de Paris realmente eficaz. Suas atuais promessas climáticas não atingirão o objetivo de limitar o aumento da temperatura da Terra a 2° Celsius, em relação aos níveis pré-industriais. Os especialistas estimam que, se as metas não forem ampliadas, o aquecimento do planeta ultrapassará os 3°C.
Europa precisa dar exemplo
Nesse contexto, todos os olhos se voltam para a Europa, incluindo a Alemanha, especialmente desde que os Estados Unidos anunciaram que deixariam o Acordo Climático de Paris de uma vez por todas. A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou a proteção do clima uma de suas principais metas.
Num primeiro passo, ela conseguiu com que os chefes de Estado e governo concordassem com o objetivo de alcançar neutralidade climática na União Europeia até 2050: ou seja, emitir somente uma quantidade de gases-estufa que possa ser compensada em outros lugares.
Para tal é preciso elevar a meta de redução de emissões de gases poluentes até 2030, atualmente de 40%. Von der Leyen planeja aumentar essa cifra para 50% a 55%. Nesse contexto, o principal é quebrar a resistência de países carboníferos do Leste Europeu: Hungria, Polônia e República Tcheca.
Sobre isso, Jochen Flasbarth frisa: “Teremos que utilizar todas as nossas oportunidades diplomáticas para obter os melhores benefícios internacionais dessa constelação em prol da proteção do clima.”
Só se a Europa conseguir cumprir suas metas, os principais países emergentes e em desenvolvimento a seguirão. Christoph Bals, especialista em clima da organização ambiental WWF, também compartilha essa opinião: “Estamos num momento de virada. Se agora conseguirmos implementar com seriedade o ‘Acordo Verde’ europeu, será que obteremos parcerias com importantes países emergentes como Índia, China, África do Sul, mas também com a Rússia, por exemplo, para impor este pacto?”
Pressão da Greve pelo Futuro
Uma coisa já é certa: o movimento juvenil Greve pelo Futuro, com sua figura de proa, a estudante sueca Greta Thunberg, aumentará ainda mais a pressão sobre os países, para que finalmente levem a sério a proteção do clima.
A jovem ativista acaba de ser eleita Pessoa do Ano pela revista Time. Lisa Badum, deputada federal alemã pelo Partido Verde, continua a confiar no movimento estudantil de greve em 2020: “Tivemos 27 milhões nas ruas em 2019. Agora é preciso que isso implique ação política. A UE tem que dar o exemplo, a China está esperando por nós, ela também vai elevar suas metas.”
Na recente conferência de Madri, Pequim não anunciou objetivos mais elevados de proteção climática, embora seja o maior emissor mundial de gases de efeito estufa. Por isso uma boa cooperação entre a Europa e a China será importante em 2020. Na segunda metade do ano, quando a Alemanha assumir a presidência rotativa do Conselho da UE, a proteção do clima deverá ser foco de uma cúpula UE-China, a ser realizada em Leipzig.
Badum diz confiar que a Alemanha voltará a assumir um papel pioneiro na proteção do clima dentro da UE, mesmo que esteja longe de cumprir suas próprias metas climáticas para 2020: “Não precisamos salvar o mundo sozinhos, Alemanha e Europa. Existem outros países dispostos, mas esperando por um sinal nosso. Temos a expertise, os instrumentos, a tradição de uma política climática democrática.”
Na própria Alemanha, espera-se que o governo tome novas medidas em seu pacote climático, principalmente o controversa abandono da geração de eletricidade a carvão até 2038. Os críticos exigem uma data muito mais próxima. Consta que em janeiro os ministérios responsáveis em Berlim pretendem apresentar um projeto de lei nesse sentido.
Crédito: Deutsche Welle Brasil – disponível na internet 27/12/2019