Riscos de esportes radicais
Ribeiro diz ter acompanhado dezenas de casos de cabeça d’água com “múltiplas vítimas” em seus 20 anos de profissão.
Segundo o tenente, deve-se evitar a prática de rapel ou outros esportes radicais em áreas sujeitas a cabeças d’água.
Em cabeças d’água, é comum que rochas e pedaços de árvores sejam arrastados rio abaixo, criando riscos adicionais aos banhistas.
Sinais de cabeça d’água
A presença de folhas secas ou outros materiais flutuantes no rio é outro indício de que uma cabeça d’água possa estar a caminho, diz à BBC News Brasil o biólogo Fernando Tatagiba, chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Segundo ele, normalmente é possível antever o fenômeno. Porém, como seus indícios são sutis e há pouco tempo para reagir, deve-se manter plena atenção durante a visita a esses locais.
Tatagiba recomenda que, ao entrar no rio, o banhista localize pedras que lhe permitam marcar mentalmente o nível das águas. “Se perceber que a pedrinha ou o nível de referência sumiu, acompanhado de uma possível turbidez da água, tem que sair imediatamente de perto do rio, buscando um local mais elevado.”
Locais mais sujeitos a trombas d’água
Tatagiba diz que os lugares mais sujeitos a trombas d’água mortíferas são trechos do rio com encostas íngremes e afastados das nascentes, onde o nível da água tende a subir mais com o aumento da vazão.
Já locais próximos às cabeceiras tendem a ser menos perigosos.
Ele defende que gestores de parques naturais e donos de cachoeiras privadas alertem os turistas sobre os locais e épocas do ano em que há maior risco de acidentes.
“Diferentemente de clubes ou shoppings, o ambiente natural não é controlado, por isso é fundamental que o visitante esteja ciente de que há riscos inerentes a esses espaços e adote condutas que reduzam a chance de ser pego de surpresa.”
No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, segundo Tatagiba, todos os turistas têm de assinar um termo de conhecimento dos riscos — que incluem, além das cabeças d’água, animais peçonhentos e pedras escorregadias, entre outros pontos.
Segundo ele, os cuidados adotados impediram que o parque registrasse qualquer morte por cabeça d’água desde 1996 — embora o fenômeno seja frequente nos rios locais. A última ocorrência no parque resultou na morte de uma jovem francesa e um guia, arrastados por uma cabeça d’água que fez o nível de um rio subir dez metros.
Segundo o tenente Roberto Morais Ribeiro, do Corpo de Bombeiros de Passos (MG), alguns donos de cachoeiras privadas da região da Serra da Canastra instalaram placas para sinalizar os locais mais sujeitos a cabeça d’água e costumam alertar os banhistas quando há possibilidade de chuva nas cabeceiras.
Outros, porém, não adotam qualquer medida de precaução, segundo ele.
Cabeças d’água nos EUA
Nos EUA, segundo o National Weather Service — órgão governamental que monitora eventos climáticos —, cabeças d’água são o fenômeno climático que mais provoca mortes no país.
De acordo com o órgão, quase a metade das mortes ocorre quando cabeças d’água invadem estradas e arrastam carros com passageiros.
Um dos mais graves eventos da história do país ocorreu em 1990 em Shadyside, Ohio, quando uma cabeça d’água elevou o nível das águas em 10 metros, provocando 26 mortes pelo caminho.